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Aqui jaz Overwatch: 8 anos depois, o que aconteceu com a franquia da Blizzard?

Aqui jaz Overwatch: 8 anos depois, o que aconteceu com a franquia da Blizzard?

Overwatch 2 conseguiu uma sobrevida ao lançar na Steam, mas será que ainda dá tempo de salvar o jogo?

Igor Pontes •
24/05/2024 às 19h00, atualizado há 7 meses
Tempo de leitura: 13 minutos

Overwatch tinha tudo para redefinir um gênero, mas as coisas desandaram de forma catastrófica

Overwatch nasceu como um cometa que poucas vezes aplacou o universo dos jogos. Lançado em 24 de maio de 2016, o hero shooter da Blizzard parecia algo inimaginável na época. Um jogo robusto, complexo, com mecânicas interessantes e muito bem balanceado, pronto para se tornar um Esports e com todo o carisma dos designs da desenvolvedora.

O jogo foi tão arrasador em 2016 que chegou a ganhar jogo do ano, chocando muitos com essa decisão, e que gera discussões até hoje. Independente de concordar com a premiação ou não, é impossível não negar: Overwatch foi um sucesso que muitos sonhariam em repetir.

Oito anos depois, parece que toda aquela euforia, aquele apreço pelo jogo, acabou se tornando uma lembrança distante, que fica ali no canto da memória, como aquele almoço de domingo na casa da sua avó, ou uma viagem com a família para a praia. Ela existiu um dia, mas é tão distante, que somente o sentimento de nostalgia sobra para contar a história.

Como lágrimas na chuva

Lembro até hoje do dia em que Overwatch saiu. Corri para a loja de consoles da cidade onde fazia faculdade e comprei o jogo, empolgadíssimo para jogar no PlayStation 4. Em pouco tempo, me mudei para essa mesma cidade, já que por morar longe — 1h10 de distância —, ficava difícil de conciliar meu trabalho, TCC e conseguir dormir pelo menos 5 horas por dia.

Como eu morava sozinho, boa parte das minhas noites eram sentar no sofá-cama do quarto e sala que eu estava, e jogar com amigos. Noites, madrugadas de risadas, falando besteira e jogando aquele título tão incrível que me ajudava a não me sentir sozinho durante a semana, e esquecer um pouco do peso das obrigações do dia a dia.

A minha paixão por Overwatch foi tão grande na época, que juntei o meu suado dinheiro do trabalho para comprar uma placa de vídeo nova para o meu PC, já que por mais que eu adorasse o jogo nos consoles, sabia que no computador seria melhor de se jogar.

E bem, não deu outra. Mais horas jogando de Lucio, às vezes testando a paciência dos amigos jogando de Hanzo, muitas vezes salvando o time com a ultimate da Mercy que na época ainda ressuscitava mais de uma pessoa.

É complicado olhar para trás, no começo de Overwatch, e ver como tudo era mais simples e mais divertido. Até mesmo um ano depois, mesmo com as péssimas decisões de balanceamento, ainda existia uma forma de se divertir com os amigos.

Contudo, o tempo foi passando, mais decisões questionáveis de balanceamento foram acontecendo, eventos sazonais extremamente repetidos e nenhuma novidade que fosse impactante o suficiente para reacender aquela chama do começo.

Overwatch estava morrendo aos poucos.

Até mesmo o empenho da Blizzard era diferente

Overwatch surpreendeu a todos lançando a história do jogo por meio de quadrinhos em animações. A dinâmica entre Hanzo e Genji, a história de Bastion, a briga entre Widowmaker e Tracer, tudo era contado através das belíssimas animações da desenvolvedora, enquanto o universo era construído nos quadrinhos.

Overwatch

Contudo, desse período de ouro do jogo, gosto sempre de lembrar do lançamento da Sombra. Os easter eggs que permeavam no jogo desde o beta, os sites para descobrir o que estava acontecendo, uma série de coisas estavam acontecendo ao mesmo tempo, e a comunidade completamente alucinada a cada descoberta.

Overwatch

O lançamento da Sombra foi algo que ficou cravado na minha memória, principalmente pelas teorias malucas, os sites descobertos, a galera decodificando dados para conseguir a próxima resposta, foi um empenho enorme para descobrir tudo sobre uma personagem que sairia no jogo.

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Se isso é saudosismo, pode muito bem ser que seja. Mas dessa vez, não seria algo barato ou feito para vender uma sensação sobre alguma coisa que nunca existiu. O hype em cima de Overwatch existiu, era real, e muito de nós fizemos parte dele.

O começo do fim

É difícil cravar quando Overwatch começou a desandar, de verdade. Existe uma série de coisas que podemos apontar o dedo e culpar a Blizzard pelo que aconteceu, e acredite, é bem provável que todas essas respostas estejam certas.

Acho que, talvez, o principal problema nasceu com a chegada da Overwatch League. Querendo ou não, o cenário competitivo ajuda a fomentar o jogo, manter ele vivo, e com isso, a galera ficar engajada para continuar jogando. Quem não se emociona ou não se empolga com uma grande virada, ou um acontecimento inesperado em uma partida? Pois é.

Infelizmente, a Overwatch League nasceu com um objetivo único: dar dinheiro para a Activision Blizzard. A desenvolvedora — cof, cof Bobby Kotick — quis transformar o jogo em uma espécie de NFL dos games. E foi aí que começou a derrocada.

Overwatch 2

Times precisaram pagar quantias milionárias para entrar nas franquias, que teriam como foco principal, o cenário americano. Times como Cloud 9, Immortals e outros grandes nomes construídos ao longo dos anos, foram trocados por nomes genéricos como London Spitfire e Houston Outlaws.

Nos Estados Unidos? Sucesso, muita gente assistia, o pessoal adorava. Fora dele? Somente quem conseguia ficar acordado até tarde para assistir aos jogos que passavam em um horário que não era voltado para outro público, se não o norte-americano.

Some isso com o fato da Blizzard ter simplesmente acabado com o cenário profissional em outros países, por simplesmente prender o modelo de franquias em um sistema que somente quem poderia entrar, seria quem pagasse, e os times de outros países ficaram estagnados.

Existiam bons times fora do âmbito dos EUA, com alguns nomes na Ásia conseguindo destaque, e também até mesmo aqui no nosso Brasil. Se você quer despertar um gatilho em quem acompanhava Overwatch competitivo antes da franquia por aqui, pergunte sobre a Brasil Gaming House. Bons tempos.

Overwatch foi criado pensando no cenário de Esports, mas depois virou uma liga excludente, que impedia que os talentos de fora da OWL brilhassem. A Copa do Mundo do jogo, acontecia uma vez por ano. Isso mesmo, um único evento internacional por ano. Era complicado.

Hoje, a Overwatch League acabou, e fica um legado de um fracasso retumbante da Blizzard em gerir o cenário, mostrando que mesmo com todo o dinheiro investido por times, patrocinadores e tudo mais, não houve uma mão correta para gerir a empreitada.

Some isso com os próprios problemas que a Blizzard sofreu durante a gestão Bobby Kotick, além de vários erros no balanceamento do jogo, e temos a derrocada daquele que poderia ser um dos maiores cenários competitivos da história.

O inimigo agora é outro

Do nada, a Blizzard anunciou Overwatch 2. No meu coração, eu quis acreditar, eu torci para dar certo. Talvez seja algo que eu deveria ter aprendido com o tempo, mas é complicado. Na hora que eu vi Mei e Winston conversando na animação, fui transportado lá para o começo de tudo, quando comprei o jogo em 2016. As risadas, os bons momentos.

Contudo, as primeiras revelações sobre o jogo, já me deixavam com o pé atrás. Overwatch 1 e 2 iriam coexistir, com uma espécie de crossplay bizarro onde era possível jogar entre as duas versões, o que, sinceramente, poderia muito bem transformar a sequência em algo desnecessário.

A cartada de mestre da Blizzard para fisgar o público, veio com uma promessa de um modo história. Missões contando a história do jogo, algo que todos queriam desde o primeiro título, seria entregue finalmente para todos. Um sonho se tornando realidade?

Contudo, Overwatch 2 nos mostrou que, muitas vezes, sonhar é se decepcionar. O jogo saiu em acesso antecipado, e a única diferença entre as duas versões, era o fato de agora serem 5 personagens ao invés de 6, e bem, os novos visuais. Tudo estava o mesmo, e não no melhor sentido possível.

Overwatch

O Overwatch de 2019 era uma sombra distante da primeira versão do jogo, e ver que a sequência era basicamente a mesma coisa, só que com menos um companheiro de equipe, é desanimador. Some isso com a ausência do modo PvE, e temos a receita do fracasso.

Sabe o que é mais triste disso? Até hoje, se eu pegar para abrir o Overwatch 2, eu sei que por algumas poucas horas, eu vou me divertir. A jogabilidade é excelente, e talvez esse seja o único motivo que o jogo ainda se sustente, mesmo que respirando por aparelhos.

Esse mérito não dá para tirar da desenvolvedora, apesar de tudo. Contudo, o péssimo estilo de monetização e vários problemas que infelizmente, já cansei de citar por aqui, — acredite, esse não é o meu primeiro texto sobre o assunto — mostram como a Blizzard conseguiu deixar escapar o que poderia ter sido uma das maiores franquias da história moderna dos videogames.

No final, os bons momentos ficam para trás, e a lembrança de se divertir com Overwatch é cada vez mais escassa.

O post mortem

Overwatch 2 está disponível na Steam, e por incrível que pareça, se mantém com uma média de números modesta. Com 42 mil jogadores simultâneos no momento da elaboração dessa coluna, pelo o estado que está o jogo, é admirável ver como o título continua cativando a galera. Ser gratuito para jogar também ajuda, convenhamos.

Overwatch

Contudo, isso não será o suficiente para salvar o jogo. A falta do modo PvE, os problemas da Blizzard, a morte do cenário competitivo, tudo o que aconteceu com o primeiro título, é carregado para a sequência. E quando ela mesma não se ajuda com o péssimo esquema de monetização, a situação é pior ainda.

Overwatch 2 parece um morto ambulante por aí, ainda tentando se agarrar ao resto de vida que pode conseguir ao lançar alguma novidade aqui e ali, mas acabou caindo nos mesmos problemas do seu antecessor, e morreu mais cedo ainda.

É um triste fim para um jogo tão promissor e que parecia ter um belo futuro pela frente. Hoje, se eu pudesse, voltaria no tempo e impediria o Igor de 2016 de ir até a loja comprar a mídia física de Overwatch. Pelo menos agora, eu não estaria lamentado aqui, 8 anos depois, escrevendo um texto desse tamanho para sintetizar um sentimento que eu acho que infelizmente, nunca vai se apagar de dentro de mim.

Que saudades de me divertir com Overwatch.


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