Controverso CEO da Activision Blizzard irá se afastar do cargo no final do ano
O CEO da Activision Blizzard, Bobby Kotick, anunciou, nesta sexta-feira (13), que deixará o comando da empresa no final de 2023. Segundo um e-mail enviado para funcionários após a aquisição, o executivo auxiliará na transição a pedido de Phil Spencer.
“Phil me pediu para continuar como CEO da ABK, se dirigindo a ele, e nós concordamos que farei isso até o final de 2023. Nós dois estamos ansiosos para trabalhar juntos em uma transição suave para nossas equipes e jogadores”, disse o executivo.
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Kotick foi CEO da Activision de 1991 até 2008, e, após a aquisição da Vivendi Games, assumiu o posto de comandante da Activision Blizzard. O executivo deixará o cargo após 33 anos no comando da empresa.
Além de uma série de franquias de sucesso, como Call of Duty, Tony Hawk’s Pro Skater e Warcraft, Kotick também coleciona várias polêmicas enquanto comandante da empresa. As situações mais notórias foram os casos de funcionários protestando contra a má conduta nos estúdios e outros casos mais graves.
A gestão de Kotick também foi marcada por aquisições de estúdios, consolidação de franquias como Call of Duty, e problemas internos com desenvolvedores da Infinity Ward.
Aquisição da Activision
Em 1991, Bobby Kotick, ao lado de outros investidores, adquiriu a Mediagenic após a queda da indústria dos games em 1988. A empresa, no entanto, sobreviveu aos problemas financeiros do mercado, ao focar em outros projetos que não só o mundo dos jogos.
No entanto, a empresa não conseguiu se manter rentável, e o grupo formado por Kotick adquiriu a Mediagenic por US$ 500 mil e restaurou o nome de Activision, declarando falência e reestruturando a empresa. Quando se tornou pública em 1993, a companhia levantou US$ 40 milhões na bolsa de valores.
Após reestruturar a empresa, Kotick prometeu aos investidores transformá-la em um projeto rentável até 1997. A Activision então passou a procurar outros estúdios para adquirir durante o processo de expansão.
Raven Software, Neversoft, Infinity Ward, Treyarch e RedOctane
A primeira aquisição da Activision foi a Raven Software, em 1997, por US$ 12 milhões. O estúdio criou títulos como Heretic/Hexen, e também trabalhou com John Romero, co-fundador da id Software, que utilizou a engenharia da empresa para desenvolver jogos.
O estúdio foi adquirido pela Activision em dezembro, e, após a compra, desenvolveu títulos como Soldier of Fortune, Star Wars Jedi Knight: Jedi Academy e X-Men Legends. Quanto a jogos mais recentes, a empresa é responsável por Call of Duty 4: Modern Warfare e Modern Warfare Remastered, além de colaborar com a Infinity Ward em Warzone.
Em 2000, a Activision adquiriu a Neversoft, estúdio responsável por Tony Hawk’s Pro Skater, desenvolvida em parceria com a empresa.
Em 2001, a Activision adquiriu a Treyarch, que, co-desenvolvedora de Tony Hawk, também responsável pelos jogos licenciados do Homem-Aranha no PlayStation 1. O estúdio foi comprado em 2001 por US$ 20 milhões.
Em 2003, talvez a principal aquisição de Kotick, a Infinity Ward foi comprada por US$ 5 milhões em 2003. O próprio executivo havia auxiliado o estúdio financeiramente, após ex-funcionários da 2015, Inc. deixarem a empresa. Após a aquisição, a Infinity Ward publicou o primeiro título, Call of Duty.
Em 2005, a RedOctane anunciou que estava co-desenvolvendo Guitar Hero com a Harmonix, com base no jogo de arcade GuitarFreaks. Após o sucesso estrondoso da franquia musical, a Activision adquiriu o estúdio por cerca de US$ 100 milhões.
Fusão com a Vivendi Games e problemas da Activision Blizzard
Em 2006, Kotick abordou o Jean-Bernard Lévy, CEO da Vivendi, que estava com problemas para manter a empresa rentável. Na época, a principal força do estúdio era a Blizzard Entertainment e World of Warcraft.
Kotick acreditava que faltava, para a Activision, um jogo de multiplayer online massivo, e enxergava, em World of Warcraft, a oportunidade de conseguir pegar essa fatia do mercado. Na época, o jogo faturava US$ 1.1 bilhão através das assinaturas dos usuários.
Lévy reconheceu que Kotick queria o controle de World of Warcraft e ofereceu permitir a fusão das empresas, mas apenas se o executivo detivesse as ações majoritárias do grupo resultante da fusão, forçando Kotick a ceder o controle.
Durante esse período de negociações, em 2006 e 2007, algumas das antigas propriedades de sucesso da Activision começaram a perder força. A Blizzard foi comprada em julho de 2018, com a Vivendi mantendo 52% das ações.
No entanto, a empresa enfrentou problemas financeiros, principalmente pela diminuição das vendas da franquia Guitar Hero e de jogos mais casuais. Na época, a empresa fechou a RedOctane, Luxoflux e Underground Development, além de demitir 25% da Raven Software.
Problemas na Infinity Ward
Além da turbulência com esses estúdios, a Activision Blizzard também teve problemas com funcionários da Infinity Ward. Em 2009, o estúdio prometeu entregar Call of Duty: Modern Warfare 2. Sob contrato, Kotick cederia bônus enormes e controle criativo sobre a franquia.
No acerto, o presidente Jason West e o CEO, Vince Zampella se asseguraram de que, no caso de quebra, os direitos de Call of Duty voltariam para a Infinity Ward. Após a execução do contrato, em 2008, Kotick começou a buscar maneiras para demitir West e Zampella, para acionar a nova cláusula.
Isso levou os chefes do estúdio a procurar meios de fazer da Infinity Ward um local fora do controle da Activision. Os acontecimentos chegaram ao auge em fevereiro de 2010, quando a empresa contratou um escritório de advocacia para investigar o estúdio.
Em 1º de março de 2010, West e Zampella foram demitidos pela Activision por “insubordinação”, perdendo os bônus que haviam negociado. A dupla formou a Respawn Entertainment em abril de 2010 como um estúdio independente, trabalhando em colaboração com a EA. Dezenas de funcionários da Infinity Ward renunciaram nos meses seguintes, muitos assumindo cargos na nova empresa.
West e Zampella foram substituídos interinamente pelo CTO da Activision, Steve Pearce, e pelo chefe de produção, Steve Ackrich. Em novembro de 2010, a Activision instalou uma nova administração na Infinity Ward. Vários processos judiciais se seguiram à saída da dupla.
A movimentação gerou uma ação contra a Activision logo após as demissões, para recuperar pagamentos substanciais de royalties que a Activision não encaminhou nas semanas que antecederam o desligamento, estimados em US$ 36 milhões. Esse valor eventualmente subiu para mais de US$ 1 bilhão em maio de 2012.
A Activision rebateu a West e Zampella em abril de 2010, considerando justificadas as ações para demiti-los, afirmando que os dois eram “planejadores egoístas”.
Acusações de assédio, sexismo e cultura tóxica da Activision Blizzard
Em 2021, uma série de denúncias sobre o comportamento tóxico, sexista e acusações de assédio e estupro foram feitas por funcionárias, que revelaram vários acontecimentos envolvendo pessoas do alto escalão da Activision Blizzard.
Entre um dos casos, o ex-diretor criativo Alex Afrasiabi foi acusado de chamar o próprio quarto de hotel durante eventos da empresa de “Suíte do Cosby”, em referência ao ator Bill Cosby, acusado por 60 mulheres de assédio sexual e estupro.
Na época, também foi revelado que as salas feitas para que funcionárias amamentassem os filhos não tinham nenhum tipo de tranca, e que homens que trabalhavam na Activision Blizzard entravam no local e ficavam encarando as mães durante o ato da amamentação.
Em junho de 2023, durante uma entrevista para a Variety, Bobby Kotick insistiu que a Activision Blizzard não havia passado problemas desse tipo, e que tudo havia sido “inventado para desestabilizar a empresa”.
Em julho de 2021, funcionários protestaram contra a cultura tóxica e abusiva da empresa em frente à sede, na Califórnia. O Departamento de Emprego Justo e Habitação da Califórnia (DFEH) entrou com uma ação legal contra a Activision Blizzard, acusando-a de negligência em casos de assédio sexual e discriminação.
Em uma matéria publicada pela Forbes, em 2021, foi revelado que Bobby Kotick sabia dos casos, e teria recebido um e-mail de um advogado de uma ex-funcionária em julho de 2018, ameaçando tomar medidas legais acerca do ocorrido.
A Activision Blizzard em 3 de fevereiro de 2023, concordou em pagar US$ 35 milhões para resolver alegações de que faltava um processo adequado para avaliar reclamações de má conduta no local de trabalho.
A Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos alegou que a empresa não tinha medidas adequadas para avaliar relatórios de má conduta no local de trabalho e violou uma regra de proteção de denunciantes, algo que a Activision Blizzard não confirmou ou negou.
Além desse caso, a Activision Blizzard também teve que pagar US$ 18 milhões, em forma de um fundo para compensar os funcionários que alegaram terem sido discriminados, além dos casos de assédio sexual. Vários executivos deixaram a empresa nesse período, incluindo o presidente da Blizzard, J. Allen Brack.
O fim de uma era
Em um dia que deveria ser uma celebração para os fãs da indústria, é também necessário apontar que Kotick receberá quase US$ 400 mil após a finalização da compra. Segundo a Reuters, o executivo receberá esse valor devido às 3.95 milhões de ações da Activision Blizzard que possui.
A forma como o executivo lidou com os casos de assédio na empresa deixam um gosto amargo nesse momento tão importante para a indústria. As declarações de Kotick, invalidando as denúncias sobre o ambiente tóxico da Activision Blizzard, não colaboram para o legado do executivo.
Bobby Kotick irá deixar o cargo de CEO da Activision Blizzard após 33 anos, marcando um novo momento para a empresa, que terá a chance, sob a tutela da Xbox, de corrigir os erros do passado. Acima de jogos no Game Pass ou novas franquias que devem surgir, uma nova política contra esse tipo de comportamento também tem que estar presente.
É uma nova era para o mundo dos games, principalmente para a Activision Blizzard.
Com informações de: IGN (1, 2 e 3), Forbes (1,2 e 3), The Verge e VGChartz
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