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Análise Game Arena
Imagem: Devolver Digital/Reprodução

Review | O Escudeiro Valente: mágico como uma boa leitura

O Escudeiro Valente brilha em quase tudo que se propõe a fazer; confira o review do Game Arena sobre este brilhante indie

Pedro Scapin •
17/09/2024 às 16h00, atualizado há um mês
Tempo de leitura: 8 minutos

Mágico e divertido, O Escudeiro Valente exala o capricho indie

De um jogo que me chamou a atenção primeiramente por ser completamente localizado em português do Brasil a um dos melhores indies que já joguei desde que me entendo por gente. Essa é a jornada do herói de O Escudeiro Valente.

Depois de cerca de oito horas controlando Pontinho para frustrar os planos de Enfezaldo, chegou o momento de trazer meu veredito para O Escudeiro Valente.

Salta aos olhos (e as páginas)

O Escudeiro Valente é um daqueles jogos que vão passar longe do radar de boa parte dos gamers, mas aqueles que tiverem a sorte de cruzar seu caminho, ficarão marcados para sempre, impactados por uma experiência praticamente única na indústria.

Screenshot de O Escudeiro Valente
Imagem: Reprodução/O Escudeiro Valente

Isso porque o game é composto pela constante transição entre as páginas de um livro infantil, no estilo 2D com o mundo real fora dele, totalmente em três dimensões. E mais do que simplesmente alternar a perspectiva, O Escudeiro Valente usa brilhantemente os dois “mundos” como elementos de gameplay, dando ao protagonista Pontinho a capacidade de resolver quebra-cabeças enquanto salta para fora das páginas e de volta a elas.

A progressão de Pontinho dentro do livro acontece fisicamente enquanto ele atravessa as folhas, e cada novo cenário ganha vida com um virar de páginas. Trechos da história ganham vida em certos momentos, e tudo fica ainda melhor com a narração, mas vou falar mais exclusivamente disso na próxima sessão deste review.

Os quebra-cabeças do game são bastante engenhosos e criativos, e ainda que alguns sejam mais simples, outros vão te fazer olhar para a tela por bons minutos tentando desvendar qual ação é necessária para avançar. Pontinho precisa usar algo chamado de “metamagia” para alternar entre as páginas do livro e o mundo exterior, e nem sempre o portal está aparente ou acessível de maneira direta.

Screenshot de O Escudeiro Valente
Imagem: Reprodução/O Escudeiro Valente

Um formato de quebra-cabeça que me conquistou é o que parece ter saído do manual de Scribblenauts, em que temos que usar palavras para alterar a realidade do livro, transformando, por exemplo, um bloco em escada, ou em um queijo gigante para evitar que uma ratazana de tamanho proporcional coma Pontinho vivo. É um sistema divertido e inteligente, que ainda esconde alguns segredos nessa dança de termos.

Apesar de relativamente curto, O Escudeiro Valente ainda reserva trechos de seu gameplay para minigames que alteram completamente a forma de se jogar, mesmo que por tempo limitado. Logo de cara, Pontinho encara um inimigo em uma luta de boxe, no melhor estilo Punch-Out. Em outro momento, o protagonista assume o arco de uma elfa poderosa para derrotar criaturas voadoras. Foram poucos, mas foram momentos marcantes.

Fora das páginas, O Escudeiro Valente “personificou” a emoção que temos ao ler um bom livro. Quem nunca se viu mergulhado em uma leitura que parecia literalmente saltar das páginas para o nosso mundo? Quando Pontinho pula para o exterior, a simplicidade de um conto infantil ganha as complexidades das três dimensões, e tanto o protagonista, quanto alguns dos inimigos enviados por Enfezaldo, “incham” com vida.

A constante alternância entre o interior do livro e o lado de fora, no quarto de uma criança, cria algo sensacional em forma de videogame. O Escudeiro Valente é uma joia que deveria ser apreciada por todo mundo que se considera gamer.

A magia da dublagem brasileira

A jornada de Pontinho ganha ainda mais vida com a narração magistral de Marco Ramos, a mesma voz de tantos personagens clássicos das animações, como Pumba em O Rei Leão, Sullivan em Monstros S.A., e na dura tarefa de substituir o saudoso Bussunda como Shrek.

O narrador preenche os espaços entre uma página e outra da história de Pontinho, com um jeito todo característico das dublagens de filmes e desenhos aqui do Brasil. Joguei uma parte da aventura sem os fones de ouvido, e minha esposa se encantou com a nostalgia que a narração de Ramos trouxe a ela. E eu compartilho desse sentimento.

Poderia ser mais desafiador

Screenshot de O Escudeiro Valente
Imagem: Reprodução/O Escudeiro Valente

Pontinho é armado de uma espada simples, mas vai adquirindo outras habilidades ao longo do caminho, além de algumas capacidades extras de manipulação da realidade e do livro do qual faz parte. O combate é bastante raso, com inimigos que não costumam oferecer muita resistência, e quando o fazem, “devolvem” a parte da vida que tiraram do jogador quando são derrotados.

A falta de desafio foi algo que me deixou um tanto incomodado, pois existem dois níveis de dificuldade: os modos Aventura e História, que se comportam como “Normal” e “Fácil” em outros jogos. O problema é que mesmo aquele que deveria ser mais complicado, acabou sendo um passeio no parque, e sequer morri uma única vez durante a aventura de Pontinho.

Conclusão e nota de O Escudeiro Valente

O Escudeiro Valente é um jogo que muito tranquilamente ganharia avaliação máxima, mas não seria justo com outros games nota 10 se eu não tirar pontos pela falta de desafio e dificuldade do combate. Fora isso, se trata de uma verdadeira experiência de videogame, que transporta a magia das páginas de um livro para a realidade, tal qual um bom romance lido de frente para a lareira, em um dia frio de inverno, com um chocolate quente nas mãos.

Nota do review de O Escudeiro Valente

O Escudeiro Valente (em inglês: The Plucky Squire) foi jogado no PC (via Steam) por meio de uma cópia cedida pela Devolver Digital. O game também está disponível a partir de 17 de setembro para PlayStation 5, Xbox Series X|S e Nintendo Switch.

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