Concord executa bem uma salada de estilos, mas peca em ter carisma próprio
Concord, do Firewalk Studios, já está disponível para os jogadores que adquiriram a Edição Deluxe Digital, versão que permite jogar o título em acesso antecipado. Contudo, após passar algumas horas no novo hero shooter publicado pela PlayStation, dá para perceber que ele é bem executado, mas falta o carisma próprio.
O ponto alto é a jogabilidade
Precisamos ser justos com Concord. A jogabilidade é sólida e bem divertida, principalmente quando você pega o jeito. Os personagens conseguem ser responsivos e o ritmo é muito frenético, com todo mundo correndo e dando pulo duplo para lá e para cá. Mesmo assim, o jogo consegue divertir bastante por algumas partidas.
Sem contar as variantes, cada um dos 16 personagens possui habilidades distintas, o que cria um leque de oportunidades bem interessantes para o jogador (principalmente pelo fato de ser possível trocar de Freegunner durante a partida), e permite uma pluralidade muito maior de combinações na hora do combate.
O time precisa de um personagem mais ágil? Basta trocar. Falta alguém para segurar o dano? Também é possível fazer a troca ao morrer. E pegando essa mecânica “emprestada” de Overwatch, o jogo oferece um dinamismo que ajuda as coisas a ficarem mais envolventes durante a troca de tiros.
Quanto aos modos de jogo, todos eles são bem simples. Existe um modo 5v5 com rounds e o objetivo de tomar o controle de uma área; outra onde as equipes lutam para garantir um robôzinho de carga e devem plantá-lo em uma das zonas, defendendo suas posições; e os modos mata-mata e de captura de bases, bem típico de shooters como Call of Duty. Os modos de jogo são bem simples de se entender, e frenéticos de jogar.
E talvez aqui seja uma leve crítica a jogabilidade muito bem executada de Concord. Como todos os personagens conseguem correr, dar saltos duplos e usar esquivas, os confrontos se tornam algo extremamente caótico, com vários personagens pulando na tela, jogando granadas, dando tiros e mais um monte de coisa. Isso acaba tornando a experiência em um caos que pode tirar um pouco do ar competitivo do jogo.
Overwatch 2, por exemplo, consegue equilibrar bem os momentos caóticos, típicos em defesas de ponto, ou até mesmo na hora final de empurrar uma carga. Contudo, outros momentos podem não ser tão explosivos assim. Em Concord, por mais que tenha momentos mais “calmos”, sempre terá um boneco dando pulo duplo, desviando e tendo uma mobilidade frenética.
Isso acaba sendo problemático, principalmente para aqueles que estão aprendendo como jogar o título, já que podem ficar perdidos ao serem engolidos por 3 inimigos chegando do nada, pulando e se movimentando de forma rápida.
Conforme você vai pegando o jeito, a jogabilidade de Concord encaixa melhor (mas continua frenética), e o jogador vai se acostumando com o ritmo conforme joga mais partidas. Entretanto, somente uma gameplay sólida não sustenta um jogo como serviço atualmente, e esse é o principal problema de Concord.
Muita bola e pouca mídia
Quando o primeiro trailer de Concord saiu, muita gente acreditou que o jogo teria um modo campanha, um modo PVE, ou algo do tipo. Contudo, não existe nada nesse sentido, a não ser uma breve introdução da história toda vez que o jogador acessa a tela inicial. O Firewalk Studios tem lançado algumas animações contando o universo do jogo, mas ainda assim, não parece ter pego tanta tração quanto a Sony pode estar esperando.
Uma coisa que quero destacar é a falta de promoção sobre o jogo. Parece que a Sony não quis gastar tanto na divulgação de Concord. Poucos trailers, pouca divulgação, nenhum tipo de projeto para lançar algo impactante envolvendo o título. Assim fica difícil de chamar atenção no mar de títulos que estão chegando por aí, ainda mais, saindo na semana de lançamento de Black Myth: Wukong.
Tudo bem que o público de jogos como serviço pode não ser o mesmo dos que preferem experiências single player. Entretanto, não dá para entender essa genial estratégia de lançar Concord perto de um dos nomes mais aguardados do ano. Esquisito, no mínimo.
Falta um “algo a mais” para se destacar
Concord é um emaranhado de ideias muito bem executado. Pega elementos de Destiny 2, Call of Duty, Overwatch, Valorant e outros nomes que também fazem sucesso, e consegue criar uma base muito sólida para a jogabilidade. Contudo, o coração de um jogo são os personagens, e aqui, tudo parece muito comum para sequer se empolgar com eles.
Mercenários de moral duvidosa, engraçadinhos, esses existem aos montes. E essa já é uma fórmula que se tornou extremamente saturada — afinal, já tivemos 3 filmes de Guardiões da Galáxia — e que não tem mais o mesmo impacto do que quando esse estilo de personagem surgiu. Até mesmo os percursores do gênero entregaram algo mais maduro quando o estilo de dinâmica se tornou algo repetitivo.
A execução da jogabilidade de Concord é bem legal, e até me surpreendeu positivamente ao juntar tantas referências e fazer isso funcionar. Contudo, ao tentar extrair de várias fontes e beber de tantas referências ao mesmo tempo, o jogo acaba saindo como algo que não é nem um pouco original.
Se o design dos personagens fosse marcante, tivesse algum deles que se destacasse de uma forma que dá para pensar que realmente chamaria a atenção do público, Concord talvez tivesse um destaque maior. Lembra quando a Tracer e a Widowmaker de Overwatch eram a sensação da internet? Quando saíram as as primeiras imagens dos personagens de Valorant? Pois é, falta isso.
Uma gameplay bem executada pode ajudar a prender os jogadores, e deve fazer isso sim. Mas para conseguir prender os jogadores a longo prazo, é necessário primeiro que eles comprem o jogo. E vendo os vídeos de jogabilidade, é bem possível que a pessoa torça o nariz e pense “Ah, é só uma cópia de X jogo”, e deixar a oportunidade passar.
Tudo bem que Concord não veio no preço cheio — ele custa R$ 199 —, mas ainda assim, parece caro demais para a proposta de trazer um novo hero shooter onde o único diferencial é se parecer com todos os outros do mesmo subgênero.
Talvez se Concord tivesse tentando se diferenciar um pouco mais do que só tentar se parecer com tantos outros títulos, nasceria um diferencial mais consistente para manter um público interessado a longo prazo. Até porque, convenhamos, se existe a oportunidade de economizar R$ 199, muita gente optará por isso.
Cabe agora a Sony, e a própria Firewalk Studios, encontrar um caminho para que Concord possa andar com as próprias pernas, e deixar de ser só uma mistura de elementos legais de outros jogos. Um cenário competitivo? Um modo campanha? Existe um universo possível para salvar live services, e no caso de Concord, é melhor a Sony já pegar um kit de primeiros socorros.
Concord está disponível a partir desta sexta-feira (23 de agosto), para PlayStation 5 e PC.
Concord foi jogado no PC e no PlayStation 5 por meio de uma cópia antecipada cedida pela PlayStation.
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