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Já passou da hora de se acostumar com diversidade nos jogos

Já passou da hora de se acostumar com diversidade nos jogos

Diversidade nos jogos acontece desde sempre, mas tem pessoas que não conseguem se acostumar Em mais um alarde da comunidade gamer, jogadores de Horizon Forbidden West estão bombardeando o Metacritic com comentários homofóbicos sobre a DLC Burning Shores. Sem entrar em muitos detalhes para não dar spoilers, mais uma vez a diversidade é a pauta.

Igor Pontes •
25/04/2023 às 21h00, atualizado há 2 anos
Tempo de leitura: 9 minutos

Diversidade nos jogos acontece desde sempre, mas tem pessoas que não conseguem se acostumar

Em mais um alarde da comunidade gamer, jogadores de Horizon Forbidden West estão bombardeando o Metacritic com comentários homofóbicos sobre a DLC Burning Shores. Sem entrar em muitos detalhes para não dar spoilers, mais uma vez a diversidade é a pauta.

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O assunto já não é nada novo e tem feito parte de debates incessantes, nos quais, quem geralmente perde, é quem está tentando ir contra a maré, em um caso que essas pessoas não vão vencer no grito, e muito menos no choro.

Meu Deus, tem diversidade nesse jogo!!!

Pois é, infelizmente o maior inimigo do lado tóxico da indústria é um personagem gostar de outro do mesmo sexo. Ou existir um protagonista negro, ou LGBTQIA+. Os dois? Liga para o SAMU que vai ter gente caindo para trás em choro e desespero, achando que esse é o fim da sociedade e do mundo.

Passou do ponto onde ter um personagem que represente uma minoria, ou mais de uma, é motivo de alarde ou revolta. Quem está sendo contra não está protegendo o mundo de algum mal imparável. Calma, você não é o Link combatendo o Calamity Ganon ou o Cloud combatendo o Sephiroth.

Diversidade nos jogos

”Ah, mas é óbvio que é lacração, onde já se viu falar que um personagem é gay? Então tem que falar que é hétero também!” Não, não tem. No entanto, infelizmente, ainda é preciso mostrar e dar destaque a personagens LGBTQIA+, pelo mesmo motivo que Horizon Forbidden West está recebendo essas críticas incabíveis, e criminosas. É necessário dar destaque as minorias: elas fazem parte da nossa sociedade, do nosso convívio e sua participação em movimentos culturais e precisam ser normalizadas. Então, sim. É preciso mostrar um personagem negro, gay, trans ou lésbica, para continuar normalizando algo que já deveria ser normal há décadas.

No caso da franquia Horizon, Aloy já flertou com homens e mulheres ao longo dos dois jogos, além de quase todo NPC dar em cima dela, e o que acontece em Burning Shores é só uma situação natural da jornada da personagem. Beijar uma mulher não fará com que a personagem seja menos determinada, poderosa ou heroica. Só ajuda na profundidade do jogo e da personalidade dela.

Jogos são um reflexo da nossa sociedade

Estou falando o óbvio aqui, mas é sempre bom reforçar. A inclusão de minorias em obras em prol da diversidade é algo que já vem sendo debatido extensivamente na última década. E apesar de boa parte dos ”críticos” discordarem, jogos são políticos. Eles vão abordar temas que fazem parte do nosso cotidiano, seja colocando em vigor situações ou personagens que evoquem um debate, ou inclusão.

Passamos décadas com personagens estereotipados nos jogos e em outras mídias, agora precisamos balancear essa situação, incluindo, cada vez mais, pessoas que fazem parte do nosso cotidiano, como já citado. Se você acha que realmente jogos estão desconectados da política e da nossa sociedade, recomendo repensar se você consome mesmo a indústria.

Diversidade nos jogos

Jogos como Tell Me Why, Celeste e Life Is Strange são extremamente necessários, mas não é preciso se ater a títulos específicos. Trazer esse debate para uma audiência ampla é algo que sempre vai motivar os desenvolvedores e roteiristas a continuar revisitando a diversidade.

Não é lacração, é o simples fato de manter os jogos próximos do nosso contexto, ajudando os jogadores a se conectarem com a história, com os personagens, com os temas debatidos durante o percurso. Torcer o nariz para algo que já existe em nossa sociedade é tentar se isolar e se alienar em uma realidade que não existe e não cabe mais.

Entender a importância de filmes, jogos, quadrinhos e outras mídias para trazer o debate sobre assuntos delicados e importantes da nossa sociedade faz parte do amadurecimento não só da mídia, mas da própria comunidade. No dia que uma parcela da comunidade parar de reclamar incessantemente que um jogo aborda, ou tem presente nos seus personagens, diversidade, talvez seja possível evoluir o assunto para outras vertentes.

Um videogame não pode te machucar

Acredite, existir uma minoria em um jogo, não vai te transformar nela. Talvez ajude você a entender as dores e dificuldades que essa minoria passa, e desenvolver empatia pelos problemas colocados pela nossa sociedade em cima dessas pessoas. Trazer diversidade para os jogos não fere ninguém, e ajuda a permitir que as pessoas que realmente sofrem por serem quem são, deixem de se sentir invisíveis aos olhos do grande público.

Ser aliado da diversidade não é para ”cumprir cartilha”, como muitos gostam de falar na internet. Essa falácia de que tudo está sendo feito para cumprir uma tal agenda, algo para agradar um seleto grupo de pessoas, não passa de teoria da conspiração. Star Wars: Knights of the Old Republic é de 2003, e Juhani é uma Cathar lésbica. Vai me dizer que um jogo de 20 anos atrás foi criado para agradar uma ”cartilha progressista” quando essa teoria da conspiração tosca ainda nem existia?

Mass Effect, Dragon Age, The Witcher, Borderlands, são várias as franquias ao longo dos anos que apresentam diversidade em sua história. Deathloop conta a história de duas pessoas negras, Cyberpunk 2077 permite que seu V seja bissexual, e por aí vai. Histórias devem ser contadas da forma que elas foram concebidas, e retirar personagens que adicionam profundidade e enriquecem uma trama só porque o ”xXxGamer_Raro23xXx” acha que é lacração, aí, sim, é se render a uma cartilha, contra a diversidade.

Fique tranquilo, ter diversidade no videogame não vai te machucar. A Ellie do The Last of Us ou a Tracer de Overwatch não vão entrar pela porta do seu quarto para forçar você a se tornar algo que não é. Por incrível que pareça, as pessoas só querem que o preconceito acabe, mesmo que isso pareça difícil em alguns momentos.

Pois é amigo, a ”lacração” veio para ficar

Por mais que essa parcela tóxica da comunidade bata pezinho, diga que nunca mais irá comprar um jogo — o que é mentira, eles consomem o jogo inteiro e nunca vão deixar – é só atitude de gente mimada e privilegiada, nada disso vai mudar os avanços da sociedade e, consequentemente, da indústria dos games. É preciso entender que temas com diversidade, minorias e inclusão de pessoas LGBTQIA+ estão acontecendo justamente pelo amadurecimento dos jogos como uma mídia mais abrangente, que almeja expandir seus temas para além do básico ”sou um cara salvando um mundo”.

Diversidade nos jogos

Adicionar diversidade aos jogos não vai diminuir a qualidade de nenhum deles, e isso ajuda os roteiristas e diretores a manterem a sua liberdade criativa para falar sobre os assuntos da forma que quiserem. Ellie ser lésbica em The Last of Us adiciona uma camada de complexidade na personagem, assim como Tyler Ronan em Tell Me Why ser um homem trans, Madeline de Celeste também ser trans, Zagreus de Hades ser bissexual. Todos esses personagens que representam o lado LGBTQIA+ são incríveis e isso faz parte da concepção deles, e muito do que eles passam pela história não teria tanto impacto se não fosse assim.

Acredite, ninguém está criando personagens negros, LGBTQIA+ ou qualquer outra minoria para te ofender pessoalmente, e se você se sente ofendido por esses personagens existirem, talvez seja hora de você procurar ajuda psicológica e entender que o problema talvez esteja em você. A diversidade existe dentro e fora dos jogos, e não é meia dúzia de gamer frustrado, porque a Aloy tem uma namoradinha e ele não, que vai mudar isso.


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