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O que é a Sweet Baby Inc. e por que a empresa se tornou o novo “espantalho” dos games

Sweet Baby Inc. é uma empresa que trabalha com diversidade, mas está virando mais um espantalho na internet

Sweet Baby Inc.

Desci nos confins da internet para entender o caso da Sweet Baby Inc.

Recentemente, uma série de pessoas na internet começaram a comentar sobre a Sweet Baby Inc., uma empresa que trabalha afinando diálogos e pontos da história para assegurar que certos grupos estão sendo representados corretamente.

Isso varia para uma gama de situações, seja diálogos, leitura sensível, e como algum assunto está sendo tratado, de forma que não vire o que realmente as pessoas que estão contra a empresa, pregam que ela faz: lacração.

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O que é a Sweet Baby Inc. e como ela ficou em evidência?

A empresa acabou ganhando notoriedade após uma pessoa criar uma espécie de lista na Steam, mostrando os jogos no qual a SBI trabalhou como consultora. Segundo o criador da lista, a empresa estaria supostamente forçando representatividade em alguns títulos, incluindo Esquadrão Suicida: Mate A Liga da Justiça, God of War: Ragnarök, Alan Wake 2 e Spider-Man 2.

Na época, os funcionários da empresa, pediram para as pessoas denunciarem o perfil na Steam do criador da lista, o que gerou controvérsia e mais engajamento de quem acredita estar lutando contra “a cultura woke nos jogos”.

No entanto, o trabalho da empresa é justamente prestar consultoria sobre representatividade e temas sensíveis. Por exemplo, é bem possível que o trabalho da SBI em Spider-Man 2, tenha sido sobre trazer mais veracidade nas motivações e diálogos de Miles Morales.

Qual é o trabalho da Sweet Baby Inc.?

Segundo o site da empresa, a SBI trabalha com desenvolvimento narrativo e como um estúdio que presta consultoria sobre diversidade. Na parte onde citam sobre o trabalho em Alan Wake 2, é dito que parte do trabalho tem a ver com o arco de personagens, voz e leitura sensível.

A leitura sensível é um processo que empresas contratam uma equipe para identificar estereótipos ou instrumentos narrativos ocultos que possam reforçar discriminações. Ou seja, caso alguma situação possa parecer estereotipada, a equipe apontará esses momentos e ajudar a corrigir os problemas.

Spider-Man 2

É um trabalho de correção, que pode ser feito tanto depois do roteiro do jogo estar pronto, como também durante o desenvolvimento. Esse tipo de prática é comum na indústria, principalmente ao tratar de temas delicados.

Seja no caso quanto ao racismo, discriminação com minoras, ou qualquer outro tópico sensível, esse trabalho é feito para impedir que, justamente, acabe soando como a tal lacração que muita gente tem medo.

A ideia é justamente impedir que uma empresa utilize um personagem negro, ou LGBTQIA+, ou asiático, para tentar ganhar o público com uma falsa sensação de representatividade. O que, justamente, boa parte dessa galera diz querer combater e que os jogos estão fazendo isso para cumprir uma suposta agenda progressista.

Descendo na espiral da internet

Eu já havia visto algumas coisas sobre o assunto, e achei que não passaria de mais uma vez, gamers fazendo burburinho sobre uma situação que não tem cabimento. No entanto, as coisas começaram a tomar uma proporção além do que deveria, e por isso, fiz o trabalho hercúleo de entrar nas trincheiras das redes sociais e ver o que estavam falando sobre.

Entre uma das principais peças de “evidência” utilizada pelo grupo de pessoas que fala sobre o assunto, é uma fala da co-fundadora da empresa, Kim Belair, onde ela comenta sobre como desenvolvedores precisam “assustar a equipe de marketing” quanto a falta de consultores sobre diversidade.

O corte, coloca como se a CEO da empresa estivesse incentivando os desenvolvedores a ameaçarem outras pessoas a conseguir o que querem, no caso, a suposta forçação de diversidade. Fui atrás do momento em que Kim Belair comenta sobre o assunto, em uma palestra sobre representação na GDC em 2022.

No segundo depois do corte feito para direcionar a fala da executiva, ela comenta que isso é uma brincadeira. Literalmente, logo após falar sobre o assunto, ela explica que falou aquilo, em forma de brincadeira. Conspiracionistas vão dizer que ela está mentindo, eu sei. Mas vale deixar o vídeo completo.

Na apresentação, principalmente antes do corte tirado de contexto, Belair comenta sobre o valor de trazer consultores desde o começo do projeto, ao invés de pegar algum elemento narrativo que pode soar racista, e perguntar para uma equipe, se aquilo realmente é.

Afinal de contas, ao ter uma equipe de consultoria desde o começo no projeto, alguns assuntos podem ser abordados de forma diferente, para não precisar reescrever, perder tempo de desenvolvimento, e resultar em atrasos e problemas com os acionistas.

Em outro vídeo que acabei encontrando ao pesquisar sobre o assunto, o criador de conteúdo Upper Echelon comenta sobre o fato de Grant Roberts, funcionário da Sweet Baby Inc., trabalhou como roteirista-chefe em Esquadrão Suicida: Mate a Liga Justiça e que por isso, ele teria modificado a trama para inserir a “agenda woke”.

Para entender melhor o contexto do assunto, em uma entrevista para o Kotaku, a empresa comentou que o trabalho dela na indústria, é acertar alguns pontos do roteiro, quando a história já está escrita, para que alguns personagens ou momentos narrativos não fiquem caricatos, ou estereotipados. Abaixo, a imagem sobre o trecho da entrevista.

Sweet Baby Inc.

Embora esse tipo de postagem em redes sociais argumente que empresas como Sweet Baby Inc. de alguma forma “forçam” os estúdios de jogos a incluir personagens e enredos diversos, a realidade é bastante diferente. A Sweet Baby Inc. é uma empresa de design narrativo, o que significa que a maior parte do seu trabalho está focada em escrever histórias e diálogos – eles não são uma empresa de consultoria em DEI (diversidade, equidade e inclusão). Isso significa que eles garantem que os pontos da trama de um jogo façam sentido lógico e sejam satisfatórios para os jogadores, e que os personagens falem e se comportem de maneira consistente. Os designers narrativos também podem fornecer uma rodada final de polimento, como um “médico de roteiros” de Hollywood. Por exemplo, a equipe trabalhou em Esquadrão Suicida muito depois que a história foi escrita – e mesmo assim eles se juntaram apenas para escrever anúncios dentro do jogo, registros de áudio e “falas rápidas” de NPCs, disse a CEO Kim Belair em uma chamada de vídeo.

Sweet Baby é, essencialmente, uma empresa de desenvolvimento narrativo. Isso significa desde escrever roteiros até design narrativo, direção narrativa e revisões de história. Uma das coisas que oferecemos são consultas culturais ou consultas de autenticidade. Para nós, isso geralmente significa que podemos ser solicitados a analisar uma história se houver um personagem nela que seja marginalizado de alguma forma, e [o estúdio] quer que nós os conectemos a um consultor que possa trazer um pouco de autenticidade… Mas a perspectiva nunca é que estamos chegando e injetando diversidade… Na maioria das vezes, é o oposto. É que uma empresa criou um personagem e eles querem tornar esse personagem mais representativo e interessante.

No vídeo, o criador de conteúdo aponta que Grant Roberts trabalhou como roteirista-chefe em Esquadrão Suicida: Mate a Liga Justiça, e chega a colocar o LinkedIn de Roberts na tela. Fui atrás do perfil do desenvolvedor na plataforma, e o que encontrei, é chocante.

Sweet Baby Inc.

Realmente, Grant Roberts trabalha na Sweet Baby Inc., desde julho de 2023. Quando que Roberts participou do trabalho em Esquadrão Suicida? Junho de 2021. E antes mesmo de trabalhar na SBI, Roberts passou por outro estúdio, o Splash Damage. Roberts é creditado no jogo como parte da equipe da Rocksteady, como pode ser visto abaixo:

Sweet Baby Inc.

Nos comentários de uma publicação no LinkedIn comemorando o lançamento do jogo, Roberts chega a agradecer a Rocksteady por creditar funcionários que não estão mais na empresa, mais uma vez, mostrando que ele não fez parte do processo de afinamento de roteiro da SBI.

Tem quase três anos desde que eu deixei a Rocksteady, mas eu ainda sinto uma conexão forte com esse jogo. Nós trabalhamos duro para fazer com que o diálogo e as cinemáticas se destacassem, o que foi corroborado nas críticas do jogo até agora.

Feliz dia de lançamento para meus ex-colegas e amigos de toda a vida.

Fui atrás para ver se existia algum tipo de colaboração da Splash Damage em Esquadrão Suicida. Não existe. Fui atrás e bem, obviamente, Kim Belair é creditada como roteirista, na parte de que diz respeito a empresa, provavelmente em questão de consultoria. Abaixo, a parte dedicada a Sweet Baby Inc.:

Sweet Baby Inc.

Como é possível ver, Grant Roberts, sim, trabalhou em Esquadrão Suicida. Na época em que estava na Rocksteady. Nem mesmo quando a Sweet Baby Inc. entrou como consultoria, ele fez parte do processo. Talvez, ele nem estivesse na empresa.

No vídeo do criador de conteúdo, ele obviamente não comenta sobre isso e convenientemente, não passa pela parte das experiências do desenvolvedor, para ver que Roberts era funcionário da Rocksteady na época.

Sweet Baby Inc.

Outro ponto que vale destacar, é o uso do IMDB como fonte. Caso você não saiba, pessoas que possuem conta no IMDB podem colaborar gratuitamente, para creditar e colocar informações sobre as produções disponíveis. Ou seja, alguém creditou a CEO da SBI como roteirista do jogo, propositalmente, para passar credibilidade.

No entanto, é óbvio, isso para o criador de conteúdo, não é importante. Não sustenta a narrativa que ele quer passar, e muito menos alimenta a escavadeira de ódio da internet que esse pessoal se alimenta para conseguir a monetização.

O novo inimigo a se combater

A questão aqui, é bem simples. A nova palavra do momento para algumas pessoas, é woke. É o novo “inimigo” a ser combatido, já que a palavra lacração começou a ser feita de chacota. No fim, o conceito é o mesmo: tentar criar um inimigo que não existe.

A ideia aqui, é tentar criar um novo inimigo para culpar ou caçar, como se a culpa de Esquadrão Suicida ser ruim, estivesse no roteiro. Microtransações, jogabilidade repetitiva e focar em multiplayer? Não, imagina. O real motivo do jogo ser ruim, é ter uma bandeira LGBTQIA+ em Metrópolis.

Sweet Baby Inc.

O que boa parte das pessoas que inflamam esse tipo de conspiração quer, é simples: continuar em evidência para vender a narrativa que o mundo está sendo dominado por uma suposta agenda progressista, e isso inclui o mundo dos videogames.

Boa parte das pessoas envolvidas nisso, tem valores bem definidos e em alguns casos, estão em uma situação de querer cooptar pessoas para entrarem na própria narrativa e conseguirem se manter em evidência, para continuar enganando pessoas.

Durante a minha pesquisa sobre o tudo o que aconteceu em torno da polêmica envolvendo a Sweet Baby Inc., descobri que um ex-desenvolvedor da Blizzard, Mark Kern, estava entre um dos mais proeminentes apoiadores do movimento contra a empresa.

Mark Kern wasn’t fired because he “didn’t take a chinese bribe”, he was fired because he was an incompetent, selfish and thoughtless CEO that led an entire company into the ground
byu/UnapologeticCanuck inpcgaming

Ao pesquisar sobre o nome dele online para ver os projetos feitos por ele após trabalhar em World of Warcraft, encontrei uma publicação no Reddit de 5 anos atrás, comentando sobre como ele teria alegado que havia sido demitido do cargo de CEO da Red 5 Studios em 2013, por não ter aceitado “suborno da China”.

Depois, pesquisando mais afundo sobre o assunto, achei um artigo da Tech in Asia, citando o caso. Ao que tudo indica, e confirmado na época pelo site e mencionado na publicação no reddit, Kern teria gastado milhões para promover um título ainda em alpha, incluindo um ônibus temático que serviria como uma ferramenta promocional móvel, que logo depois foi descartado.

Na época, o ônibus teria custado US$ 3 milhões, e após ser votado para sair do cargo de CEO, ele teria ido para o subreddit do jogo, pedir para os usuários parassem de financiar o projeto, para que ele perdesse valor, e pudesse comprar a propriedade intelectual.

Sweet Baby Inc.

[…] Então, por que comprar afinal? Em primeiro lugar, é meu jogo. Eu o criei, e odeio ver o que fizeram com ele e o que fizeram com os veteranos. Em segundo lugar, quero terminar o que não me foi permitido terminar porque a equipe executiva achava que “WoW com armas” seria melhor. Quero criar uma simulação de mundo aberto de uma grande guerra entre a Accord e os Chosen liderados por Graves, impulsionados pela IA. Nostromo vs. Graves, e heróis (os jogadores) liderando a carga.

Além disso, ter os ativos de arte economizaria muito tempo. Ainda precisam ser remasterizados para UE4 e os padrões de hoje, mas ainda assim economizaria toneladas de tempo e nos levaria ao gameplay mais rápido.

O nome também é importante. Mesmo como uma PI falida, um nome reconhecido ainda gerará curiosidade e receberá muita atenção nas redes sociais. Isso é importante, porque qualquer reinicialização exigirá pelo menos financiamento parcial por multidão.

Quanto a reunir financiamento e uma equipe, não é isso que até meus críticos dizem que faço melhor? Não estou preocupado com essa parte. Mesmo agora, alguns antigos desenvolvedores da Red 5 estão dizendo que estão dispostos a ajudar, e novos desenvolvedores estão se aproximando de mim.

Mas primeiro, o Firefall tem que morrer. Não pode haver confusão de que a versão que quero fazer é DIFERENTE e não uma continuação. Para isso, o Firefall (atual) deve terminar. Então não jogue, não compre nada para o jogo. Apenas deixe-o falhar, para que possa renascer como deveria ser. […]

Firefall acabou sendo descontinuado em 2017 e a Red 5 Studios foi extinta em 2016. Recentemente, Nick Calandra, editor-chefe do canal Second Wind, publicou uma thread mostrando que o último projeto de Kern, Em-8ER, seria um projeto que está desde 2017, em pré-alpha, e está sem atualizações desde 2022.

Calandra também publicou uma imagem do fórum do suposto jogo, com a equipe explicando que o título continua em uma fase pré-Kickstarter, ou pre-pre-alpha, o que isso possa significar. Além disso, EM-8ER estaria vendendo skins por tempo limitado antes de ser oficialmente disponibilizado.

Também foi apontado que Kern possui um serviço de assinaturas mensais para o jogo, e que enquanto estão desenvolvendo o título, também existem planos para um RPG de mesa e também uma novelização da trama.

Além disso, a série de tweets de Calandra também cita que Kern chegou a angariar US$ 1 milhão para um projeto para o Oculus Rift que recebeu um trailer de revelação, e depois não teve mais novidades sobre.

O que tudo isso tem a ver com a Sweet Baby Inc? Simples. Kern é uma das pessoas que está sendo bem vocal sobre o assunto, alegando existir um grupo secreto de discussões de gerentes de comunidade, e todo o tipo de teoria da conspiração, para, é claro, quem se inscrever no seu perfil do Twitter.

Tudo isso faz parte de uma conspiração poderosa para eliminar gamers da face da terra? Não. É um grupo que está se aproveitando de um discurso errado, para inflamar uma comunidade que vai dar palco para eles, notoriedade, e dinheiro? Muito provavelmente.

Em nenhum momento, nenhuma dessas pessoas realmente fala sobre quem é o real “inimigo” que está deixando os jogos ruins. Aquelas pessoas que tomam decisões importantes, sabe? CEOs, donos de empresa, inclusive, em nenhum momento, ele fala sobre isso.

Para essas pessoas, que criam um espantalho para inflamar massas e conseguir relevância, o real problema, nunca vai ser combatido. Reclamar das decisões do CEO da Warner Bros. quanto a jogos como serviço? Não. Uma teoria da conspiração de que existem agentes infiltrados para empurrar diversidade em empresas? Sim.

Porque assim, eles conseguem relevância, conseguem engajamento, conseguem enganar você a acreditar que isso existe, e consequentemente, lucrar em cima da sua revolta, direcionando ela para um inimigo invisível, um moinho de vento como se fosse um Dom Quixote moderno confundindo o edifício com um dragão.

Com informações de: KotakuTech in Asia


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