Baldur’s Gate 3, mais uma vez, vai contra a indústria
Baldur’s Gate 3 já tem um ano desde o lançamento da versão completa do RPG da Larian Studios, e a chegada do título trouxe também uma enxurrada de premiações e tudo o que se possa imaginar de benéfico para o estúdio. Seguindo o sucesso, a coisa lógica seria trabalhar em uma expansão, ou até mesmo em uma sequência.
Contudo, contrariando o que os especialistas acreditariam ser certo, a desenvolvedora abdicou de trabalhar em um conteúdo adicional para o jogo, começando a trabalhar em uma nova aventura que não tem nada a ver com Dungeons & Dragons. E vendo os relatos dos desenvolvedores, foi benéfico demais que o RPG não tivesse uma DLC.
O que benéfico para a Larian Studios
Desde que Swen Vincke, diretor de Baldur’s Gate 3 e CEO da Larian Studios, anunciou lá em março o encerramento da parceria com a Wizards of the Coast, uma frase que ele disse ficou na minha cabeça. “Isso é a coisa certa para a Larian”. E depois, vendo entrevistas e outras declarações do executivo, dá para entender as motivações da empresa.
“Bem, nós realmente começamos a pensar nisso depois de Baldur’s Gate 3, por causa de todo o sucesso. O óbvio seria fazer a DLC. Então começamos a trabalhar em uma e até pensamos em BG 4, mas percebemos rapidamente que nossos corações não estavam batendo mais forte. […] Havia muitas restrições ao fazer D&D, e a 5ª Edição não é um sistema fácil de adaptar para um videogame, e tínhamos todas essas ideias de novos combates que queríamos experimentar, e elas não eram compatíveis. Você podia ver que a equipe estava fazendo isso porque todos sentiam que era algo que tínhamos que fazer, mas não vinha realmente do coração, e somos muito um estúdio que faz as coisas com o coração.”
Essa resposta de Vincke vem de uma entrevista com a IGN, quando o estúdio revelou que não iria fazer a DLC. E vendo a forma como o executivo agiu, por mais que eu quisesse ter mais uma aventura na Costa da Espada, ou até mesmo em Avernus salvando Karlach, não dá para não ficar com um sorriso no rosto.
Em uma indústria onde executivos são geralmente os responsáveis por demissões, acúmulo de dinheiro e decisões ruins, ver Vincke batendo o martelo em prol do bem-estar dos funcionários e do estúdio, é reconfortante demais.
Não dá para negar que a Larian Studios faria bastante dinheiro com uma DLC de Baldur’s Gate 3, mas a que custo? A atitude de Vincke é benéfica não só para a própria Larian, mas para a indústria. Em um tempo onde tudo é voltado para conseguir mais dinheiro, nadar contra essa leva de decisões ruins, é algo digno de aplausos, mesmo que seja o óbvio a se fazer.
Baldur’s Gate 3 vai durar décadas
Nesta mesma quinta-feira (05), a Larian lançou o patch 7 de Baldur’s Gate 3, que vai adicionar a ferramenta oficial de mods do jogo. E acredite, já existem vários mods por aí, eu mesmo tenho mais de 40 mods instalados no meu PC, que vão desde novas raças, novas classes, a até novas armas e opções de customização de personagem. Agora, com uma ferramenta oficial da Larian? O céu é o limite para a comunidade de modders.
Basta entrar em um site como Nexus Mods, que é possível ver uma enxurrada de conteúdos adicionais para Baldur’s Gate 3. Ao todo, só na plataforma, são mais de 9 mil modificações feitas pela comunidade do RPG, e isso pode ir muito mais além, agora com uma ferramenta que facilitará ainda mais a criação de conteúdos feitos pelos fãs.
De novas armaduras e armamentos para os personagens, como também mudanças mais gritantes como novas raças que fazem parte de Dungeons & Dragons, o RPG continuará recebendo conteúdo enquanto tiver alguém querendo fazê-lo, e isso transforma o jogo em algo praticamente eterno.
Boa parte da longevidade de The Elder Scrolls V: Skyrim, vem da infinidade de modificações que os jogadores fizeram ao longo dos anos, e isso ajudava a manter o RPG da Bethesda vivo e presente na comunidade de RPGs. Até hoje, existem pessoas fazendo mods de Skyrim, 13 anos depois.
E como Baldur’s Gate 3 é um RPG mais moderno que Skyrim, as possibilidades são infinitas. Quem sabe, com muito empenho, os jogadores não conseguem fazer algo no nível de Fallout: London? Convenhamos do jeito que os atores que interpretaram os companheiros do RPG gostaram dos personagens, é bem possível que eles colaborassem com algo do tipo.
O maior testemunho do quão errada está a indústria
Baldur’s Gate 3 ficou 3 anos em acesso antecipado. Lançado para PC em 2020 somente com o Ato 1 do jogo, a Larian Studios passou 3 anos trabalhando com o feedback da comunidade, adicionando novidades e moldando o que seria o jogo do ano de 2023. Com vários detalhes escondidos, escolhas diferentes e muitos finais, o RPG foi um trabalho de amor, que talvez poucos estúdios conseguiriam fazer.
E isso, é falando não só da qualidade da Larian de fazer bons jogos, mas também de como anda a indústria. É impossível imaginar, por exemplo, Dragon Age: The Veilguard sendo lançado em acesso antecipado e ficando 3 anos sem um lançamento oficial. Acionistas entrariam em colapso, as ações da EA cairiam e o CEO desmaiaria na primeira reunião financeira.
Infelizmente, boa parte dos desenvolvedores estão rendidos no formato de agradar executivos, que precisam agradar acionistas, que só querem dinheiro no bolso e ver os números subindo a cada relatório. O exemplo mais recente, são as demissões que estamos vendo na indústria, e cases de fracasso como Concord, sendo um testemunho de como live-services não são mais sustentáveis, mas mesmo assim, executivos querem uma “fonte de renda” constante.
Ver a Larian Studios puxar o freio, avaliar que uma DLC para Baldur’s Gate 3 sairia sem o mesmo empenho e amor colocado no jogo, preserva o legado do título como um dos maiores RPGs modernos da atualidade, e talvez de todos os tempos.
E mais do que isso, também serve como termômetro para a indústria, que precisa voltar a tratar os projetos, desenvolvedores e estúdio com tanto carinho quanto a Larian está tratando Baldur’s Gate 3. A maior “prova de amor” pelo próprio trabalho que o estúdio poderia ter, foi justamente não ceder a pressão de fazer uma DLC. E isso foi extremamente benéfico para o jogo.
A DLC poderia até vir excelente, mas, ao mesmo tempo, iria contra o desejo do estúdio de criar algo novo, experimentar novas mecânicas e entregar algo tão interessante quanto o próprio Baldur’s Gate 3. Entre o dinheiro certo e o coração, ainda bem que a Larian escolheu o coração.
Vai que vem outro RPG maravilhoso dessa decisão, e nós poderíamos não ter tido isso, em prol de atender uma tendência da indústria? Não tem como não ficar empolgado com o futuro do estúdio.
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Com informações de: IGN
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