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Imagem oficial de Concord, mostrado no State of Play
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Imagem: PlayStation/Reprodução

O que matou Concord?

Concord mal chegou e foi descontinuado. Mas afinal de contas, o que deu errado com o jogo?

Igor Pontes •
04/09/2024 às 16h37, atualizado há 3 meses
Tempo de leitura: 11 minutos

Concord foi embora tão rápido quanto chegou, mas de quem é a culpa?

Concord terá os seus servidores desligados na próxima sexta-feira (06), e com isso, o jogo chega ao seu fim com sequer ter um mês de funcionamento. Ao todo, demoraram 13 dias desde o lançamento do título da Firewalk Studios, até a decisão de desligar os servidores.

Com esse fracasso retumbante do jogo, que foi considerado o motivo da aquisição do estúdio pela Sony, fica a dúvida sobre o que “matou” o título. Com oito anos de desenvolvimento, e com uma jogabilidade sólida, o que faltou para Concord conseguir garantir um lançamento de sucesso?

A “cultura woke” matou o jogo?

Vamos já tirar esse argumento do caminho: não, meu querido conspiracionista, a tal da “cultura woke” não matou o jogo. Existem vários fatores de mercado, timing de lançamento e outros por menores que vão além de uma conspiração de rede social de que uma empresa está comandando todos os executivos do mundo para assustar os “gamers de verdade” colocando pronomes em um jogo. Inclusive, se você ainda continua nessa cruzada sem sentido, recomendo ler esse texto que fizemos sobre o assunto.

Agora, o que realmente matou o jogo?

Tirando as bobeiras do caminho, podemos falar o que realmente pode ter levado o título ao fracasso, e sinceramente? Não existem faltas de motivo para isso. Um timing péssimo de lançamento, pouco marketing, falta de um visual apelativo, é possível escolher qual foi o erro do lançamento de Concord, como quem escolhe alimentos em um supermercado. E podemos até mesmo destrinchar cada uma dessas situações, e tirar muita coisa delas. Comecemos pelo fator que acho que pesa mais: o tempo de desenvolvimento.

8 anos em um projeto natimorto

Concord demorou 8 anos para ser desenvolvido, e se formos fazer as contas, isso nos leva lá para 2017. Concebido no segundo ano e no calor máximo de Overwatch, o jogo seria um oponente digno para o hero shooter da Blizzard, se tivesse sido lançado na mesma época.

Antes do lançamento de Concord, tivemos Battleborn — quem lembra? — que também nasceu com os dias contados, Gigantic foi fechado apenas 1 ano depois do lançamento, Paladins foi engolido pelo lançamento de Overwatch, isso sem contar nomes menos falados como Rocket Arena.

Marvel Rivals Concord
Imagem: Marvel / Reprodução

Alguns nomes que podem ser categorizados como hero shooters, e que deram certo até o momento, são DeadlockMarvel RivalsValorant. Contudo, o que diferencia esses 3 de Concord? São gratuitos, e o mais importante: tem uma identidade visual chamativa, e conseguem captar o público.

Concord Gameplay
Imagem: Divulgação/Firewalk Studios

Olhando para Concord, como já falamos no review, falta um algo a mais para despertar a curiosidade. Não existe um mascote instantâneo, um personagem que explodiu no Reddit, nem nada do tipo. Todos os personagens parecem integrantes de um time B dos Guardiões da Galáxia que foi montado em alguma saga da Marvel que quase ninguém leu por não ter o Rocket Raccoon e o Groot.

Concord Gameplay
Imagem: Divulgação/Firewalk Studios

Não dá para se empolgar com o jogo quando você olha e “Nossa, é o personagem genérico número 3!” está estampado no design dos personagens. Fica difícil de defender o jogo, por mais que ele tenha boas ideias, e a jogabilidade dele não é tenebrosa. Diferente de muitos jogos desastrosos por serem fracos, esse não é o ponto do título.

Como o jogo foi concebido com o hype do primeiro Overwatch em mente, dá para ver que a equipe, ou alguém da Sony, não parou para pensar que existiu uma fileira de outros títulos que tentaram voar para perto do Panteão dos live-services, e foi caindo em desgraça tal qual Ícaro tentando chegar perto do Sol, e deixou o projeto correr solto em parar para ver se o mercado aceitaria mais um jogo desses.

Nenhum tipo de marketing

Sinceramente, tirando o trailer que mostrou o jogo pela primeira vez, vocês viram algum tipo de marketing para Concord? Não lembro de ver nada estampado do jogo, além de uma série de animações que estava saindo sobre os personagens, no mesmo estilo que a Blizzard lançava os vídeos de Overwatch. Se funcionou em 2016, porque não vai funcionar 8 anos depois, não é mesmo?

O problema é que é muito fácil emplacar as coisas quando se é novidade — e tem um nome forte no meio —, do que quando toda uma indústria, analistas, consumidores e mídia, já estão ficando saturados de um formato. Anúncios de live-service não estão fazendo as pessoas baterem palmas, e sim protegerem as suas carteiras, e esse movimento já está mais do que claro.

Concord Gameplay
Imagem: Divulgação/Firewalk Studios

Segundo alguns analistas que conversaram com a IGN sobre o fracasso de Concord, a expectativa era de que o jogo tivesse vendido cerca de 25 mil cópias, somando PlayStation 5PC. Pois é, apenas 25 mil cópias.

Segundo Liam Deane, principal analista da Omdia, “os números da Steam são tão ruins que, mesmo sem os dados exatos do lado do PS5, podemos ter certeza de que o jogo está indo muito mal”. Dados do Circana’s Player Engagement Tracker, citados pelo analista Mat Piscatella, mostram que em 26 de agosto, uma segunda-feira, Concord ocupava a 147ª posição entre os jogos mais jogados diariamente no PS5 nos EUA, com menos de 0,2% dos jogadores ativos do PS5 engajados com o título. Além disso, Simon Carless, autor da newsletter GameDiscover.co, estimou que as vendas totais de Concord giram em torno de 10.000 unidades no Steam e cerca de 15.000 no PlayStation 5.

Piscatella ainda comenta na reportagem da IGN que a Sony falhou em colocar o jogo no imaginário das pessoas, com poucas peças de marketing em lugares como GameStop, Best BuyTargetWalmart e na própria PlayStation Store.

Até mesmo aqui no Brasil, era difícil ver qualquer tipo de propaganda sobre o jogo, seja em redes sociais, parcerias com influenciadores, era difícil ver qualquer coisa sobre Concord, e dessa forma, fica difícil de convencer os jogadores a gastarem R$ 199 em um título que eles não tem nenhuma novidade sobre. Isso, sem contar que o jogo saiu junto de Black Myth: Wukong, um dos títulos mais aguardados de 2024. O timing foi péssimo.

Live-service não é um código de dinheiro infinito

Uma coisa que parece que está difícil para muitos investidores entenderem, e até mesmo alguns executivos, é que um jogo live-service não é o equivalente a digitar “klapaucius” no The Sims. Por mais que seja tentador olhar para os números de um Fortnite, por exemplo, a gente precisa lembrar que esses jogos tiveram sorte de conseguir furar a bolha.

Fortnite veio no auge dos Battle Royales, com PUBG quebrando barreiras na Steam e trazendo um novo gênero para um grande público. Criadores de conteúdo, lives na Twitch, o jogo tinha absolutamente tudo para dar certo, mas acima de tudo, teve o timing certeiro de ser lançado de forma gratuita, e ter um diferencial maravilhoso.

Fortnite
Imagem: Divulgação/Epic Games

O modo battle royale de Fornite, caso não se lembre, tinha sido feito como um modo gratuito para promover a versão paga, que era um jogo de construir fortificações e se defender de zumbis. O que aconteceu? O diferencial de poder erguer um prédio com apartamentos com uma suíte e 30 m² durante uma trocação de tiro, fez com que o título explodisse.

Entende o que quero dizer? O jogo tinha algo para diferenciá-lo de PUBG, e dali, foi só sucesso. Com muitos acertos da Epic Games também de trazer parcerias, fazer experiências imersivas no jogo, e uma pá de coisa que já sabemos. Mas antes disso? Foi a mais pura sorte.

Overwatch contava com anos da Blizzard no imaginário do público como uma empresa irretocável, e isso pode ter mudado depois das polêmicas, mas na época, era assim. Não tinha como um jogo desses dar errado com um visual tão incrível e único, além de trazer uma jogabilidade arrasadora. Quem jogou em 2016, sabe bem do que estou falando.

Concord Gameplay
Imagem: Divulgação/Firewalk Studios

É querer ser muito prepotente em acreditar que um jogo vindo do zero, sem nenhum background importante, vai fazer sucesso no meio de gigantes da indústria que engolem tudo o que é lançado. Ainda mais quando é um movimento desesperado de uma empresa que quer a todo custo emplacar o seu próprio live-service, como a Sony.

No fim, o problema de Concord não estava na jogabilidade, e sim na falta de tato da própria Sony de olhar para o projeto, e ter uma visão de que ainda não era hora de lançá-lo, ou pelo menos tentar reformular alguma coisa para dar algum diferencial interessante.

Fica parecendo que Concord foi lançado sem nenhum tipo de planejamento, só para ser lançado. E bem, se for esse o caso, é uma situação amadora demais para uma empresa do porte da Sony.

Leia mais

Com informações de: IGN


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