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Pérolas da 10ª Arte – Zelda 2: The Adventure of Link

Pérolas da 10ª Arte - Zelda 2: The Adventure of Link

Comentando Zelda 2, o jogo mais controverso da série Todas as séries mais tradicionais dos videogames possuem algum tipo de fórmula que, na concepção do público, ajudam a definir no que consiste um jogo de uma determinada franquia. Ou seja, as pessoas geralmente sabem o que esperar de um jogo de Street Fighter ou de Sonic, e costumam se frustrar quando essa expectativa não é devidamente correspondida.

Marcellus Vinicius •
03/10/2023 às 23h04, atualizado há um ano
Tempo de leitura: 7 minutos

Comentando Zelda 2, o jogo mais controverso da série

Todas as séries mais tradicionais dos videogames possuem algum tipo de fórmula que, na concepção do público, ajudam a definir no que consiste um jogo de uma determinada franquia. Ou seja, as pessoas geralmente sabem o que esperar de um jogo de Street Fighter ou de Sonic, e costumam se frustrar quando essa expectativa não é devidamente correspondida.

Mas como essas fórmulas se estabeleceram a princípio? É possível se desviar delas e ainda manter a essência da série em questão? Ou talvez uma pergunta mais pertinente para o jogo que protagoniza este texto seja a seguinte: é possível se manter fiel a essa fórmula quando nem a própria equipe de desenvolvimento conseguiu identificá-la?

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Chegou a hora de falar daquele que é o mais divisivo e controverso jogo da série Zelda. Para alguns, uma mancha que deve ser esquecida para sempre. Para outros, uma joia incompreendida que merece ser revisitada com outro olhar.

Eu sempre tive um carinho especial por jogos que são imunes a consensos, e é justamente por isso que a pérola de hoje é Zelda 2: The Adventure of Link

Do que se trata

Lançado em janeiro de 1987 para o NES, vulgo nintendinho, Zelda 2: The Adventure of Link é a sequência do aclamado primeiro jogo da série, The Legend of Zelda, de fevereiro de 1986.

Merece destaque a proximidade entre a data de lançamento dos dois jogos, porque ela ajuda a responder a pergunta que fiz acima. Parece seguro supor que o desenvolvimento de Zelda 2 não teve muito tempo para assimilar a recepção positiva do primeiro jogo. Quando a segunda aventura chegou nas lojas japonesas, a primeira sequer havia sido lançada no mercado norte-americano – isso só aconteceria em novembro de 1987.

Ou seja, Zelda 2 é o resultado de um período de experimentação com as possibilidades da série. Apesar de manter boa parte da equipe envolvida com o jogo de estreia, incluindo Shigeru Miyamoto como produtor, essa é uma produção que ainda estava tateando pelas escuras cavernas da própria identidade.

Só para constar, acho muito engraçado que o subtítulo do jogo seja “A Aventura do Link”, como se todos os outros jogos da série também não fossem justamente isso.

O que você faz no jogo

No papel de Link, o herói escolhido pela Triforce da coragem para combater o mal, devemos explorar o reino de Hyrule procurando por templos à procura de itens e magias especiais que permitirão que avancemos cada vez mais longe na predestinada missão de impedir a volta de Ganon e salvar a princesa Zelda.

Falando assim, parece como a estrutura da maioria dos Zeldas que conhecemos, mas, na prática, a diferença é gritante. A maior mudança em relação ao primeiro jogo está na movimentação. A câmera só mantém a tradicional visão de cima no mapa mundi. Dentro dos vilarejos, nos combates e na exploração dos templos, Zelda 2 funciona como um jogo de ação 2D com progressão lateral, o chamado sidescroller.

Os combates são aleatórios, como era comum em RPGs antigos. Andando pelo mapa, a qualquer momento podemos ser surpreendidos com uma batalha. A diferença, porém, ´é que as lutas não são por turnos, mas sim dentro dessa fórmula de ação 2D, bem nos moldes de Castlevania. Rapidamente a repetição dessas lutas acaba enchendo o saco, mas note como essa é uma ideia bem interessante, especialmente se deixarmos em suspensão qualquer expectativa prévia sobre como um Zelda deveria funcionar.

Talvez o maior motivo de frustração para as pessoas que tiveram contato com esse jogo seja a bizarríssima curva de dificuldade. Alguns trechos da jornada, especialmente a Death Mountain, beiram o impossível. Ajuda ter acesso a uma versão digitalizada do manual do jogo e dedicar algum tempo a acumular pontos de experiência nas batalhas – outra particularidade curiosa desse Zelda. Mas nada disso é capaz de impedir a maioria das pessoas de desistir.

Menção honrosa aqui aos vilarejos, com enigmas praticamente indecifráveis e alguns dos diálogos mais obtusos da história dos videogames. Muita gente lembra com carinho do cara que se apresenta apenas como um erro (“I am Error”), mas adoro também a mulher em Rauru que pede perdão por não saber de absolutamente nada. Uma socrática, eu diria.

O impacto estético

Zelda 2 é um jogo com ideias extremamente interessantes, no mínimo. É injusto tratá-lo como uma bomba intragável, apesar dele se esforçar bastante para passar essa impressão em determinados aspectos. Como falei, é um jogo imune a consensos. Um mensageiro do caos, arauto do debate dia´lético. Só por isso, já é uma iteração mais interessante na série do que, digamos, Spirit Tracks.

Tenho plena consciência de que essa é uma opinião impopular, mas acredito que o maior problema de Zelda 2 seja o curtíssimo tempo de desenvolvimento, somado a uma filosofia de design da época que se orgulhava de maltratar jogadores com fases injustamente desafiadoras. Isso vinha tanto da influência dos fliperamas quanto da cultura de vender revistas e guias oficiais, como a famosa Nintendo Power.

Feitas essas ressalvas, é um jogo que, se recebesse um remake à altura atualmente, provavelmente seria aclamado como uma subversão inteligente da fórmula da série e uma adaptação interessante da tensão dos combates de Dark Souls para o 2D.

Ou seria o contrário? Teria a FromSoftware construído o legado nos últimos 15 anos reimaginando Zelda 2 em uma movimentação tridimensional? Bem, infelizmente, a humanidade ainda não está preparada para este debate.

Probabilidades em alta

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