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Pérolas da 10ª Arte – QWOP

QWOP: o jogo que transformou em poesia o esforço de dar 3 passos para a frente 2008 foi um ano...

QWOP

QWOP: o jogo que transformou em poesia o esforço de dar 3 passos para a frente

2008 foi um ano de grande efervescência cultural e política no mundo todo. Foi naquele ano, por exemplo, que Barack Obama foi eleito em meio a uma histórica crise imobiliária nos Estados Unidos. A Marvel Studios lançava Homem de Ferro, o primeiro filme de um ambicioso universo cinematográfico, e, no Brasil, MC Créu dominava as paradas de sucesso com a composição “Dança do Créu”.

Nos videogames, vimos o surgimento de tendências que seguem bem vivas até hoje. Braid foi lançado na Xbox Live, sendo um dos pioneiros da leva de produções independentes que revolucionaram o desenvolvimento e distribuição de jogos. 

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Foi também em 2008 que, sem muito alarde, um site chamado foddy.net foi hospedado com um jogo que, poucos anos depois, transformaria uma premissa simples e até meio tosca em um fenômeno cultural. 

Foi nesse site que QWOP, a pérola da análise de hoje, deu os primeiros passos rumo ao estrelato. Ou tentou dar os primeiros passos, pelo menos, porque é absurdamente difícil movimentar as pernas nesse jogo…

Do que se trata

QWOP é um jogo de atletismo lançado gratuitamente para navegadores em 2008. Foi desenvolvido pelo designer australiano Bennett Foddy (daí o nome do site), que também é doutor em Filosofia e ex-baixista de uma banda chamada Cut Copy. Ele ainda teve tempo para criar outro sucesso entre a comunidade de streams. “Getting Over With Bennett Foddy” praticamente inventou o estilo de “escalada sexy”, e influencia jogos até hoje, como, por exemplo, Only Up!

No jogo, assumimos o papel de um corredor em uma prova de 100 metros rasos. A missão, como é natural supor, é concluir o percurso, ou pelo menos chegar o mais próximo disso que puder.

E, acredite, percorrer 5 metros já conta como uma enorme vitória. 

O que você faz no jogo

Usando as teclas do nome do jogo, Q, W, O e P, devemos controlar as pernas do atleta para ajudá-lo a progredir pela pista sem perder o equilíbrio. As teclas Q e W controlam as coxas, enquanto O e P ficam responsáveis pelas panturrilhas. 

Só por essa peculiar divisão muscular entre os botões já podemos perceber que caminhar nesse jogo não é uma tarefa das mais simples. As tentativas de coordenar cada movimento considerando as físicas do jogo resultam quase sempre em movimentos extremamente desengonçados e fracasso imediato.

QWOP é, sem exagero, um dos jogos mais difíceis já concebidos. Boa parte da popularidade do jogo veio, inclusive, do fator cômico de ver um atleta olímpico se contorcendo na tentativa de dar sequer um passo adiante.  

Essa mesma dificuldade também faz com que as pessoas se sintam muito vitoriosas quando conseguem quebrar o próprio recorde, mesmo que isso significa cair apenas 3 ou 4 metros à frente da linha de largada. 

Não é preciso muito para se divertir e se sentir vencedor em QWOP, o que torna o jogo estranhamente magnético e viciante. 

O impacto estético

A história nos conta que QWOP só se tornou realmente popular a ponto de viralizar dois anos após o lançamento, em 2010. Tudo por conta de um vídeo no YouTube, do canal Penguinz0, que citava a obra como “o jogo jogo mais difícil já criado”. No momento em que estou escrevendo este texto, o vídeo, de mais de 12 anos atrás, conta com mais de 11 milhões de visualizações.

QWOP rapidamente se tornou um fenômeno cultural nos anos 10. O site acumulou mais de 30 milhões de acessos, e pessoas de todos os lugares, perfis e idades se aventuraram a tentar percorrer a pista de 100 metros, muitas delas com enorme sucesso. Nesse sentido, pela ligação com o sucesso de Penguinz0 no YouTube, o jogo se encontra na vanguarda da relação simbiótica entre videogames e criadores de conteúdo.

Mas QWOP foi além. O pico de sucesso do título veio bem na época em que os videogames passaram a ser aceitos pelo grande público não apenas como entretenimento, mas também como arte. E o que parecia, a princípio, apenas humor pastelão, passou a ser encarado com outros olhos pela potencial beleza estética envolvida na coisa toda. O jogo chegou, inclusive, a ficar exposto no Museu de Arte Moderna de Nova York.

Tudo isso porque há algo de poético em ver aquele corredor desengonçado de repente conseguir correr com desenvoltura pela pista. Há algo de sublime em ver alguém entrando no ritmo perfeito para jogar bem QWOP, especialmente quando já sentimos na pele a dificuldade absurda do jogo. O vídeo abaixo certamente demonstra isso melhor do que qualquer coisa que eu possa escrever a respeito.

QWOP é, em suma, um arco completo de superação e transformação. Como uma borboleta enfim rompendo o próprio casulo, o jogo vai do tosco ao sublime, reforçando o potencial artístico dos videogames, sem recorrer a roteiros shakesperianos ou longas cutscenes com trilhas de violino.

É transcendental e ridículo, cômico e catártico. É toda a dualidade da arte do videogame em um projeto simplório de navegador com quatro teclas de comando. Um feito admirável, que merece ser lembrado por cada cambalhota desastrada rumo ao chão da pista de atletismo.

Como nota de rodapé, vale citar que o último State of Play, apresentação digital da PlayStation, apresentou um novo vídeo de gameplay de um jogo chamado Baby Steps, sobre um homem adulto tentando caminhar com sucesso em uma região montanhosa. Um dos criadores desse novo projeto é ninguém menos que Bennett Foddy.

Ou seja, quinze anos depois, o legado que QWOP iniciou em 2008 continua se fazendo presente.

Nos vemos na semana que vem com mais uma pérola da 10ª arte!

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