Drama envolvendo a compra da Activision Blizzard já se tornou novela mexicana, sem o carisma da Maria do Bairro.
Em janeiro de 2022, a Microsoft pegou todo mundo de surpresa anunciando a compra da Activision Blizzard por US$ 69 bilhões. Desde então, a indústria dos games é bombardeada de notícias sobre o assunto, que cada vez tem se tornado mais enrolado em um trama digna das novelas mexicanas que passavam nas tardes do SBT.
Mas diferente das novelas compradas por Silvio Santos, aqui as reviravoltas e problemas não têm um protagonismo digno de se acompanhar. Até agora, a compra se resumiu em uma briga de duas empresas querendo gritar mais alto.
Seu Call of Duty? NOSSO Call of Duty.
Uma coisa que sempre incomodou a ‘grande prejudicada’ nessa compra, a Sony, é que Call of Duty poderia se tornar exclusivo dos consoles Xbox. Por causa desse medo da criadora do PlayStation, que mais parece uma teoria da conspiração, a compra tem demorado muito para andar.
E convenhamos, aqui entre nós. A Microsoft não daria um tiro no próprio pé e colocaria CoD como um jogo exclusivo. A própria ideia dos jogos da Bethesda serem exclusivos já é esquisita, imagina então um jogo no imaginário da comunidade, atrelado ao PlayStation. Não faria sentido.
É óbvio que a Microsoft quer aumentar o portfólio de estúdios que ela possui, e assim conseguir bater de frente com as franquias já estabelecidas da Sony. Porém, não vejo um cenário onde Call of Duty, Diabo, Overwatch e Warcraft se tornem exclusivos. Seria perder dinheiro. E após gastar 69 bilhões de dólares, acho muito difícil a Microsoft não querer o lucro das vendas dessas franquias no PlayStation.
Acredito também que a própria Sony sabe disso, o principal problema é que ela sabe também que, assim que os contratos de exclusividade que ela tem com a Activision Blizzard acabarem, o seu principal atrativo, junto da franquia, vai embora.
Seja recebendo a possibilidade de jogar primeiro um beta aberto, ou receber missões exclusivas e armas, a Sony sempre atraiu os fãs de Call of Duty pelas vantagens, e também pelo costume de jogar a franquia no PlayStation. Aliando isso com as parcerias entre a Activision e a Sony, pronto, sucesso de vendas todos os anos.
A Sony não é boba de querer perder a sua menina dos olhos, uma das suas galinhas dos ovos de ouro. O problema é que na disputa para tentar manter a Activision Blizzard longe da Microsoft, ela acaba se prejudicando de tabela.
Recentemente, a Comissão Federal de Comércio acatou o pedido da Microsoft de analisar os contratos da Sony com outras empresas. E não é nenhum mistério ver que vários jogos acabam saindo primeiro no console da Sony, ou exclusivamente nele. O caso mais recente, é Final Fantasy XVI, que será exclusivo do PlayStation.
Na luta por tentar manter as coisas como estão, a Sony acaba dando um passo além da perna e pode acabar sendo exposta justamente por tentar lutar contra esse inimigo imaginário que ela criou em sua cabeça.
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O papel de ‘salvador da pátria’ da Microsoft e o desespero da Activision Blizzard
Nos últimos anos, a Activision Blizzard recebeu uma enxurrada de críticas e polêmicas graças ao seu ambiente extremamente tóxico e machista. A empresa enfrentou greves, trocas de funcionários importantes na empresa, entre outras coisas.
Tudo isso causou um baita problema para a empresa e um desconforto na indústria. Bobby Kotick, CEO da Activision Blizzard, continua firme e forte, mesmo tendo compactuado com todas as situações deploráveis que aconteceram durante sua gestão. E o pior, ele deve continuar na função caso a compra não seja concretizada.
De qualquer lado, ele ganha dinheiro nessa situação. Seja sua porcentagem na venda, seja continuando como CEO. De qualquer forma, é um caso no qual a melhor situação possível é que a compra seja finalizada. E bem, não podemos negar que a possibilidade de Bobby Kotick cair fora é ótima para ambas as empresas.
A Microsoft é basicamente um bote salva-vidas para uma Activision Blizzard que, apesar de continuar vendendo bem seus jogos, precisa rechaçar a imagem de empresa com hábitos ruins, principalmente sobre o comando de Kotick. Como Phil Spencer já disse que o atual CEO sairá quando a Microsoft comprar a empresa, a expectativa é que aconteça uma reformulação na cultura da desenvolvedora. E é o que torcemos que aconteça.
Além da situação caótica da Activision Blizzard, a Microsoft faz questão de ser ‘boazinha’ quanto aos jogos da empresa. Já prometeu o retorno de CoD por 10 anos nos consoles da Nintendo, como também se ofereceu para fazer um contrato que não prejudique a Sony na questão do Call of Duty.
Tudo isso faz parte das medidas que a Microsoft tomou para conseguir convencer os órgãos reguladores de que CoD se manterá multiplataforma. Porém, não existe somente Call of Duty nas mãos da Activision Blizzard. Grandes franquias também estão indo nesse pacote, e algumas vezes nos esquecemos delas.
A empresa tem sido bem vocal quanto o lado Activision da empresa, mas e o lado Blizzard? Diablo, Overwatch, Warcraft, existem algumas franquias que são tão importantes quanto, mas acabam sendo esquecidas nesse turbilhão de informação.
Vale lembrar que Elder Scrolls 6 e Starfield serão exclusivos dos consoles Xbox e PC. Mesmo sendo em um escopo menor, são nomes que não saltaram os olhos de todos quando foram adquiridas.
Situação arrastada
Convenhamos, a discussão sobre a compra deve continuar até junho de 2023, no mínimo. Seja com a finalização da compra da Activision Blizzard, seja com ela não sendo concretizada, de qualquer forma. A questão é que tudo isso tem se arrastado ao longo do último ano, sempre com a mesma questão em torno da aquisição.
Para mim, a Microsoft comprar a Activision Blizzard, desde que as principais franquias se mantenham multiplataforma, não mudará em muita coisa. Se a pessoa já tem um PlayStation 5, ela continuará jogando por lá. Talvez a situação mude caso a pessoa goste só de jogar Call of Duty, então ela poderia comprar um Xbox Series X ou um Series S para jogar os próximos CoD de graça pelo Game Pass.
A questão é que as duas empresas estão usando esse embate judicial para estender um assunto, o que torna tudo uma briga digna de Chaves e Quico disputando para ver quem vai chutar a bola primeiro. A Sony não quer perder seus privilégios, e a Microsoft quer colocar as coisas em igualdade. Para mim, faz sentido deixar tudo em pé de igualdade, mesmo que a Sony possa reclamar disso. Call of Duty sempre esteve atrelado ao PlayStation e muitos dos jogadores casuais não vão trocar de console por isso.
Se o plano da Microsoft for, daqui a 10 anos, transformar Call of Duty em exclusivo, aí a coisa muda de figura. Porém, não possuímos ainda uma máquina do tempo para conseguir entender os planos da empresa. Então, nos resta acreditar nas palavras de Phil Spencer sobre as franquias da Activision Blizzard.
Muita polêmica, muita confusão
Até o momento, parece que tudo que está sendo discutido continua girando em torno da mesma coisa. E tudo bem, para os órgãos reguladores isso é necessário. Eles não são especialistas na indústria dos games e tem que debater isso.
O problema é que a Sony e a Microsoft já trocaram tantas farpas através do ano por causa disso, que o assunto se torna muito desgastado. Já teve a Microsoft alegando que a Sony tenta proibir os jogos de chegarem ao Game Pass, já teve a Sony sendo acusada de mentirosa, já teve a Sony alegando que a Microsoft tiraria Call of Duty do PlayStation, tivemos de tudo e, ao mesmo tempo, nada foi resolvido.
Essas coisas demandam tempo, e a gente entende isso. O problema é que como essa compra é importante graças aos valores e as empresas envolvidas, qualquer vírgula sobre o assunto acaba sendo debatida.
A grande questão é que fica parecendo que estamos andando em círculos com o assunto. Tudo girando em torno da mesma coisa, mesma situação, sem nenhuma mudança significativa. Tem dias que parece que a notícia é a mesma, mas, na verdade, não é. A indústria dos games está presa num grande dia da marmota, esperando o martelo ser batido.
No fim, a situação é tão cansativa, seja pelo lado de cobertura, como pelo lado consumidor, que eu já abstraí. Se comprar, comprou. Se não comprar, acontece. É óbvio que seria excelente para a indústria, já que um homem controverso deixaria o cargo, e que não seria removido se não fosse dessa forma, além de novos projetos terem a possibilidade de acabar surgindo para o Xbox, que precisa de mais exclusivos para continuar competindo.
Porém, a importância vai se perdendo exponencialmente cada vez que sai uma nova notícia que não muda nada. É como assistir uma novela ruim sem ter a possibilidade de apertar o pause e mudar para outra história, ou como ver um filme onde você não aguenta mais esperar que os créditos apareçam.
Agora, nos resta esperar o próximo relatório dos órgãos reguladores, as novas medidas apresentadas, os mesmos problemas. Em breve, estaremos chegando próximo da E3, época de grandes anúncios, e a novela não acaba. E o pior disso tudo, é que não tem como pular para o episódio em que a trama fica boa.
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