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Foto: divulgação/Riot Games.

VALORANT: spacca alerta equipes brasileiras: “Falta trabalho mental aos jogadores”

Concluindo a entrevista exclusiva, spacca contou detalhes de sua trajetória em Los Angeles durante transmissões do VCT Américas

Thulio Bastos •
30/05/2024 às 21h00, atualizado há 6 meses
Tempo de leitura: 8 minutos

Na terceira e última parte da entrevista exclusiva de Guilherme ‘spacca’ Spacca para a Game Arena, o atual analista tático da Riot Games contou detalhes do que ele viu acompanhando os times brasileiros nesse período em Los Angeles, capital do VCT Américas.

spacca revela que sentiu que as organizações estão deixando os jogadores desamparados psicologicamente, pois não tem um profissional dedicando 100% do seu tempo para acompanhar os jogadores na California.

Essa experiência que tive na América foi muito bacana, porque ficamos muito tempo lá, foram quase 45 dias, e eu tive uma convivência maior com os times brasileiros. Visitei o office do MIBR, da FURIA, chegou a ir na LOUD. Uma coisa que eu senti muito estando na arena e jogando lá, é que tanto o MIBR quanto o FURIA tiveram muitos problemas psicológicos dentro das partidas… Nós não estamos falando de um time que está indo jogar um campeonato de um mês fora do país. Você tá passando sua vida fora do país. Eu sinto que falta um trabalho mental muito importante dos times. Dava para ver nitidamente na cara dos jogadores, na expressão, que eles não tinham força para voltar para o jogo.” – disse.

Ainda sobre o tema, spacca revela que a única equipe brasileira que acompanha a saúde mental dos jogadores é a LOUD. Ele cita os rivais gringos da 100 Thievs e da Evil Geniuses como exemplos de sucesso.

O VALORANT, não é que não te dá chance, mas para você se recuperar de uma fase ruim é muito difícil. Você tem que deixar o jogador o mais preparado mentalmente possível para jogar na arena. Tem que ter trabalho com esses caras, tem que ter o psicólogo, por isso que eu bato palma para a LOUD. O Brunão, que é o psicólogo da LOUD, ele é brother dos caras. Tá lá, conversa, tá no dia a dia. Não é um estranho que os caras ligam para falar 30 minutos. Ele tá acompanhando o treino, tá vendo quem é o cara que está mais estressado, quem está se desvirtuando de maneira mais fácil. Se os times brasileiros não tiverem isso, ferrou. Dificilmente a gente vai ter jogadores mentalmente preparados para lidar com pressão. Nós vemos a 100 Thieves, a EG, com têm três, quatro caras de staff. Nutricionista, psicólogo, o cara que faz uma coisa específica.” – revelou.

Concluindo o tema psicológico, spacca relembra que o time da LOUD campeão mundial em 2022 era acompanhado por um mega staff que prepara os jogadores para os momentos decisivos e que os players brasileiros do VCT Américas sofrem pressão na terra do Tio Sam.

O VCT Americas é o top de linha, e você precisa de um projeto, não só seis jogadores. Não é coincidência que a LOUD campeã do Champions em 2022 tinha o Bruno, o Arthur, acompanhando. A filosofia do sem medo. Qual a filosofia da FURIA? Qual a filosofia do MIBR? A filosofia da LOUD é o sem medo. E os jogadores adotaram isso. Senti um pouco, estando lá fora, que os times pecaram demais nesse aspecto mental, confiança psicológica, porque mira e entendimento do jogo os caras têm. Todo dia o psicólogo tá lá, trocando ideia com os caras. Mano, porque os caras são a sua organização fora do país. Os malucos que tá ali dando a vida, treinando, ganhar em dólar, viver em Los Angeles. Mas você tem que cuidar do mental. Acho isso muito fora da curva. E lá é uma pressão absurda.” – afirmou.

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Vivências e relação com os jogadores

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spacca nos conta, em detalhes, o quão gratificante é para ele ter esse contato diário com jogadores e organizações brasileiras enquanto o campeonato vai se desenvolvendo. Ele diz que acaba sabendo de muita coisa, mas que não divulga por não ser o seu trabalho.

Foi foda [estar com eles]. É animal você poder ter essa aproximação, de poder trocar uma ideia, sair para jantar, tomar uma breja. É óbvio que isso deixa um pouco a nossa relação mais quente com os jogadores, de entender às vezes a pessoa tá passando por um problema diferente, ou o time tá passando por um problema que ninguém tá sabendo. E aí é outra coisa que eu me orgulho nesse aspecto. Eu sei muita coisa do cenário, muita coisa de jogador, de org, só que eu não falo, porque não é da minha alçada falar. Não sou jornalista, não tenho que dar furo de nada. Mas isso é bom, para eu ter uma dimensão melhor.” – detalhou.

Finalizando a entrevista, spacca relembra seu começo de carreira no Counter-Strike 1.6 quando começou a fazer viagens internacionais e os conselhos que recebeu na ocasião. Falando sobre oportunidades, de forma enfática ele diz que os jogadores “querem jogar VALORANT, mas não querem ser profissionais”.

Eu já contei essa história, que eu fiz uma viagem internacional em 2007 para jogar SWC na França, mas quando eu entro no MIBR, a minha primeira viagem internacional, a gente vai jantar e o [Anton] Budak, que era um dos managers do SK em 2005, 2006, 2007, ele me vê, eu era um jogador novato, olha para mim e fala: “spacca, você sabe quantas pessoas queriam estar aqui no seu lugar? Sabe que o seu país é um país que não dá esse tipo de oportunidade para as pessoas?” Isso marcou minha cabeça para sempre. Óbvio que é muito motivacional, filme de Hollywood, mas se você não tiver isso, de entender de onde você veio e de onde você tá e das oportunidades que você tem, você pode deixar passar uma grande oportunidade da sua vida. Vai olhar para trás e falar, tava na FURIA, no MIBR, na LOUD e não aproveitei nada da minha trajetória. Não melhorei meu inglês, não melhorei minha relação pessoal, não virei um profissional melhor. Essa é a grande balança que muitas vezes os jogadores espanam. Às vezes o cara quer jogar, mas quer ser o atleta profissional.” – concluiu a entrevista.


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