Terceira parte da entrevista traz Astini falando sobre ex-equipe, mudança de chave no Dota 2 e diferenças dos cenários competitivos
Chegamos a terceira e última parte da entrevista exclusiva com o treinador de Dota 2, Filipe Astini. Na primeira, o coach falou sobre a trajetória da Nouns a campanha histórica no TI. Na segunda, uma versão mais polêmica criticando o cenário de League of Legends. Agora, na terceira, teremos Astini fazendo uma reflexão sobre o cenário de Esports.
A começar pela FURIA, organização que defendeu entre junho de 2019 e março de 2020, quando investiram no MOBA da Valve. Astini crítica a org pela mudança de mindset quando abriram office no Brasil no começo da pandemia e confronta justificativas do CEO Jaime Pádua sobre investimento no Dota.
“Eu acho que o Dota está no DNA da FURIA. Acho que eles em algum momento têm o interesse de entrar no DOTA, só que acho que a FURIA que investiu no CS era uma org dos Estados Unidos, que tinha talvez essa mentalidade do por dinheiro para depois voltar. A FURIA agora virou uma organização brasileira. Então, eu acho que mudou um pouco o mindset deles. Tanto que a gente era a FURIA de DOTA, chegou a pandemia, a FURIA saiu do DOTA, a FURIA abriu um office no Brasil, entrou no League of Legends, que era algo que rles faziam piada com o LoL, internamente. Falavam que o jogo era uma bosta e ninguém nunca ia entrar nesse jogo, já que não existe competitividade e o DNA da FURIA é competir. Eu lembro até o Akkari usando uma expressão que era: você nada, nada, nada e você levanta a cabeça para respirar e toma um tapa na nuca. Esse é o League of Legends tentando competir no cenário mundial. Aí do nada vão criar um mega office no Brasil, uma decisão de business totalmente acertada. A org está crescendo, a org está colhendo os frutos. Só que no sentido competitividade, não está. Quer competir de verdade, vem para o DOTA. Apesar de eu ter minhas diferenças com eles ali, é uma baita organização.” – disse.
Em seguida, Astini traçou um comparativo e pontuou as diferenças dos cenários competitivos da Valve e dos demais jogos, como da Riot e Ubisoft. Ele detalhou como funcionam os cenários de VALORANT, League of Legends e Rainbow Six Siege, com as desenvolvedoras trazendo incentivo financeiros para as organizações investirem.
“O grande problema, principalmente para uma organização brasileira, é que todos os jogos, ou 90% dos jogos que ficaram fortes no Brasil, você tinha um retorno antes de fazer um investimento. O CS é a exceção, então seria justo falar 90%. O resto é tipo assim, chegou a Riot e falou assim, oi organizações, criei o CBLOL, eu te dou um incentivo aqui para você ter uma organização. Chega a Ubisoft e fala assim, oi gente, tem o Rainbow Six, vocês vão receber aqui só a mesadinha para você ter seu time. Chega o Garena e fala, oi pessoal, tem o Free Fire, você vai receber 100 mil por mês. Aí você fala assim, legal, vou receber 100 mil por mês, eu posso me dar o luxo de investir 80. Eu tenho 20 mil de lucro, a conta fecha. Só que no Brasil, investimentos em geral, não só para Esports, não pensam em lucrar 200 se pôr 100, mas qual é o risco de eu pôr 100 e retornar 0? Pois o Dota é assim. Então, o que funciona no Brasil é onde o seu retorno é garantido. O Dota, você não tem retorno garantido. Com a criação aí dessa Copa do Mundo de Dota 2, os CEOs de organização vão saber dizer melhor do que eu, mas acredito eu que tem um grande potencial de retorno, mas ainda assim é necessário você ser capaz de fazer uma boa line-up para colher os frutos. Só que ainda assim você tem que ter uma boa line-up. Não é tipo só existir, não basta só existir. Tem que competir.” – comparou Astini
Seguindo na linha de raciocínio de investimentos, Astini voltou a comparar outros cenários, como o de League of Legends, onde a RED Canids investiu pesado nessa janela de transferências com algumas contratações. Ele ainda revelou seu salário na Nouns, equipe Top 8 mundial.
“Eu vi hoje um post que a RED Canids gastou 1,5 milhões de reais contratando uma line-up. Você pega isso e é 300 mil dólares, em três jogadores. Nosso salário ali na Nouns, eu posso falar abertamente. Você pode abrir ali no site e encontrar quanto que era investido no projeto. Era 4 mil dólares. Você põe aí, vezes jogador coach, vezes seis, 24 mil dólares. Então, você tem 24 mil dólares vezes 12 meses, 240 mais 48, 286 mil dólares. Ou seja, o investimento para ter um time no top 8, você põe bootcamp, põe manager, põe mais uma coisa em outra. Mas vamos falar de 350 mil dólares. Pegamos top 8 no mundo, no Dota. Teve um retorno até aí. Então, assim, se essa mesma line-up pegar o top 8 no Riyadh Masters, que é 30 milhões de dólares, só de premiação já é coisa de 1,5 milhão. Só que você tem que pôr o investimento antes.”
“Você tem que fazer e tem que chegar. Então, acho que os pontos levantados são justos, que no Dota o retorno é muito mais incerto, principalmente essa parte de aparecer jogador novo. Eu não quero só falar FURIA, mas acredito que eles investem muito em novos potenciais, o que é muito bacana. E no Dota é muito difícil fazer esse trabalho de base, fazer trabalho de base é quase impossível. A curva de aprendizado do jogo é muito difícil. Fazer um investimento também muito difícil, mas se você fizer corretamente, ele se paga. Você quer ter o desafio? Essa é a pergunta.” – afirmou Astini.
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Futuro do Brasil no Dota 2
Perguntado se os resultados conquistados pelos brasileiros no The International 2023, onde a Vivo Keyd Stars chegou aos playoffs do mundial de Dota 2 pela primeira vez na história e a Nouns, com ele e Lelis, pegou top 8 mudariam o cenário atual do Brasil no jogo, Astini cita diversos donos de organizações e personalidades que amam o jogo e poderiam voltar a investir no competitivo.
“Isso depende se alguém que tem o poder de fazer acontecer se anima com isso. A FURIA não animou. Será que a paiN vai animar? Tipo assim, a gente sabe que a paiN tem muito dinheiro. E o PADDA ama Dota 2. Será que a Los Grandes vai animar? A Los Grandes tem muito dinheiro. E o El Gato ama Dota 2. São caras que amam o jogo, publicamente falam. E a Red que o Corradini também gosta muito de Dota 2, que investiu 1.5 milhões agora no LoL. E a Havan, o Samuel ama muito Dota 2. Um abraço a todos eles aí sendo citados. A FURIA, como eu falei, o Jaime ama Dota 2. Um cara desse tem que animar. Alguém vai ter que dar a cara a tapa e falar assim, vou queimar uma graninha aqui para ver se dá certo. Quem pode ser essa pessoa?”
“O BRTT, que ama Dota 2, pode chegar e falar, cansei desse jogo aqui que não tem deny, não tem fog, imitaram invoker agora e ficou ruim. Vamos para um joguinho de verdade. Vamos investir. O FalleN, um cara que também gosta muito de Dota. A FalleN como marca, né? tem muito nome de peso no cenário. O Skipinho, que fez o cast. Tem muito nome de peso no cenário que gosta do Dota 2. Algum desses caras pode fazer movimentar. E eu acho que o resultado do TI fez esses caras falarem assim, olha o Dota aí. O quanto eles animaram, eu não sei. Aí é perguntar para cada um deles, né? Tipo, não é todo CEO de org que faz um FAQ ali no Twitter para abrir o jogo, né? Seria bom se eles fizessem, para gente ter uma noção de o que falta para engrenar no Dota 2. Mas… acho que dá. Acho que dá. Eu vejo futuro no Dota. O jogo é muito bom.” – disse.
Finalizando o assunto, Astini revelou que os príncipes árabes amam o MOBA da Valve e a tendência é investirem cada vez mais no cenário competitivo do jogo ao longo dos anos e afirmou que, para investir no Dota, precisa “ser maluco e ter dinheiro”.
“Tem um príncipe árabe que ama Dota 2. Mano, você não sabe de onde que vai vir. A gente tava na ESF, o primeiro dia, tava um calorzão e do nada chegou um monte de ar condicionado. Alguém falou assim, tava o príncipe da Jordânia aí, ele falou para fretar um monte de ar condicionado, aí importa tudo e traz, porque não tinha mais ar condicionado na Romênia. Então assim, tem uns malucos com dinheiro, velho. Não sei quem vai ser o maluco. Tem que ser um pouquinho maluco, saca? Tem que ser maluco e ter dinheiro, exatamente.” – concluiu.
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