Em troca de e-mails de 2020, Phil Spencer criticou grandes nomes da indústria
Na série de documentos e e-mails vazados acidentalmente da Microsoft na semana passada, uma troca de mensagens de Phil Spencer em 2020 chamou a atenção devido às palavras do executivo sobre o estado atual de grandes publicadoras da indústria, como Electronic Arts e Activision.
Nas palavras de Spencer, essas empresas estão encontrando “dificuldades para achar relevância em uma indústria que não precisa mais deles como antes”. O chefe da divisão de games da Xbox explicou que, antigamente, estúdios precisavam de um nome forte para colocar os jogos nas prateleiras das lojas.
Leia mais
- Greve na indústria de games é aprovada pela SAG-AFTRA
- Capcom: presidente acredita que valor dos jogos está muito baixo
- Red Dead Redemption 2: versão para Switch aparece em órgão classificador do Brasil
No entanto, na era da distribuição digital, o acesso aos jogos através da mídia física não é a única forma disponível. Por isso, Spencer acredita que as empresas estão se apoiando em blockbusters de grande orçamento, fora do alcance de operações menores, para dominar o mercado.
“Poucas empresas podem gastar os US$ 200 milhões que a Activision ou a Take-Two gastam para colocar um título como Call of Duty ou Red Dead Redemption na prateleira”, escreveu Spencer. “Essas publicadoras AAA usam, na maioria, essa escala de produção para manter as principais franquias nos jogos mais vendidos a cada ano.”
A abordagem seria problemática, segundo o executivo, que disse que a “taxa mínima” nessas produções massivas — a taxa mínima de retorno que as principais publishers vão aceitar para avançar com um projeto — é tão alta que desmotiva os estúdios a assumirem riscos com qualquer coisa nova.
“Você vê um aumento de publishers AAA usando material licenciado para tentar compensar o risco (EA com Star Wars, Sony com Homem-Aranha, Ubisoft com Avatar, etc)”, continuou Spencer. “Essa mesma dinâmica obviamente também ocorreu em Hollywood, com a Netflix criando mais propriedades intelectuais inéditas do que qualquer um dos estúdios de cinema.”
Phil Spencer acredita que isso traz uma estagnação na indústria, e que publishers AAA estão explorando as principais franquias, mas sofrendo para renovar o portfólio. “Boa parte dessas empresas estão surfando no sucesso de séries criadas há mais de 10 anos”.
Spencer teria utilizado essa frase como argumento para enfatizar a crença que, enquanto grandes publicadoras estão “ruindo”, o Xbox Game Pass oferece um bote salva-vidas. Ele aponta que a EA e a Ubisoft estão tentando criar os próprios serviços, mas “não estão se movendo de forma rápida ou ousada o suficiente”.
O executivo ainda explica que essas empresas sofrem com a falta de uma plataforma como o Xbox para lançar os serviços. Spencer alega que não está tentando “matar” as publicadoras com o Game Pass, mas, sim, ajudá-las a “construir um futuro promissor”, oferecendo acesso a uma base enorme de usuários sobre os quais podem monetizar como bem entenderem.
Phil Spencer estava, de certa foram, certo. Seis meses depois da troca de e-mails em março de 2020, a Electronic Arts anunciou que estava levando o EA Play para o Game Pass sem nenhum custo adicional. No entanto, o ponto sobre a falta de criatividade de grandes publicadoras, ainda é verdade.
Dead Space acabou sofrendo um reboot, Call of Duty: Modern Warfare também embarcou na fórmula de relançar os jogos da franquia, e o terceiro título tem, como principal ponto de venda, o uso de mapas antigos da série.
Não vai demorar muito — infelizmente — para vermos um possível reboot de Mass Effect, o retorno de Advanced Warfare, e, quem sabe até mesmo um “retorno às origens” da franquia Warcraft. Enquanto isso, novidades como Immortals of Aveum são um fracasso por ter um valor de produção alto demais para uma aposta.
Nem mesmo o próprio Phil Spencer está imune a isso, com franquias como Halo e Forza Horizon recebendo novos jogos. É um modelo que, infelizmente, está bem estabelecido na indústria, e muitas vezes é difícil mudar o conforto e o senso comum dos consumidores.
Com os preços elevados dos jogos, é mais fácil para o consumidor investir em uma franquia que já conhece do que um título inédito. No entanto, não podemos negar que Phil Spencer tem razão ao comentar sobre as empresas se aproveitarem de franquias que duram décadas.
O primeiro The Last of Us é de 2013, e tenho certeza que GTA 6 será um sucesso quando sair. O “reboot” da franquia God of War também vai muito bem, com a nova saga de Kratos levando os jogadores para explorarem a mitologia nórdica, e deve se tornar uma trilogia.
Não precisamos nem comentar sobre lançamentos anuais como Call of Duty. Ver Phil Spencer comentando sobre essa tendência de mercado — mesmo que por meio de um vazamento de e-mails confidenciais —, mostra que a indústria sabe que está se repetindo e existem alguns figurões de olho nesse problema.
Fãs adoram revisitar esses universos, seja pela nostalgia, pela identificação com o produto, tudo corrobora para que os estúdios joguem no seguro e não arrisquem. Grandes franquias acabam se tornando o “prato da vovó” moderno, com os consumidores sempre comprando os mesmos títulos em prol da identificação nostálgica com a marca. E para as empresas? Dinheiro fácil.
O negócio, Phil Spencer, é convencer o público de que ele não precisa de um Call of Duty novo todo ano.
A Game Arena tem muito mais conteúdos como este sobre esportes eletrônicos, além de games, filmes, séries e mais. Para ficar ligado sempre que algo novo sair, nos siga em nossas redes sociais: Twitter, Youtube, Instagram, Tik Tok, Facebook e Kwai.
