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TBT: The Legend of Zelda e o oráculo do banheiro

TBT: The Legend of Zelda e o oráculo do banheiro

E assim teve início minha relação com Zelda... Rio de Janeiro, março de 2002, pelo pátio de um colégio neo-iguaçuano caminhava o pequeno e suado Pedro Scapin de 10 anos, carregando consigo um Game Boy injetado com a polêmica Pokémon Crystal de outrora (quem leu o TBT, sabe!). Antes do terrível final que me aguardava em Johto, passava os recreios da melhor forma que um nerdola sabe: isolado num sombrio canto da escola. Mas, na história de hoje, o local de partida foi na quarta de cinco cabines do banheiro.

Pedro Scapin •
17/08/2023 às 19h00, atualizado há um ano
Tempo de leitura: 6 minutos

E assim teve início minha relação com Zelda…

Rio de Janeiro, março de 2002, pelo pátio de um colégio neo-iguaçuano caminhava o pequeno e suado Pedro Scapin de 10 anos, carregando consigo um Game Boy injetado com a polêmica Pokémon Crystal de outrora (quem leu o TBT, sabe!). Antes do terrível final que me aguardava em Johto, passava os recreios da melhor forma que um nerdola sabe: isolado num sombrio canto da escola. Mas, na história de hoje, o local de partida foi na quarta de cinco cabines do banheiro.

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Atendendo ao chamado, me dirigi ao banheiro que ficava mais recluso na escola, longe das crianças barulhentas e insanas no pátio. Este se situava no terceiro andar do complexo, próximo à sala dos professores, e, consequentemente, uma região normalmente evitada pelos infantes locais. O ambiente estava vazio, e me deu a oportunidade de escolher em qual das cinco cabines disponíveis eu cederia às necessidades da natureza.

Para efeito de contexto, o banheiro em questão possuía uma construção em formato de um longo corredor, com pias e espelhos à esquerda, cinco cabines privadas, e mais três mictórios ao fundo, à direita. Entrei no espaço escolhido, tranquei a porta e segui com meus afazeres. Passada a rajada inicial, fiquei mais à vontade para ligar o Game Boy e seguir minha jornada em Johto.

Pokémon

Alguns segundos depois, para minha irritação, a porta do banheiro se abriu, lentamente, fazendo aquele barulho insuportável, um rangido característico de filmes de terror. Desliguei o volume do Game Boy e fiquei aguardando a pessoa fazer o que tinha para ser feito e se retirar, mas, bizarramente, quem quer que estivesse ali, escolheu a quinta e última cabine, justo ao meu lado, para se aliviar.

Nervoso, mas sem saber o motivo, resolvi seguir jogando Pokémon, pois estava no meio de uma importante batalha, contra Price, em Mahogany. Aquela foi uma disputa intensa, pois o maldito Piloswine me derrotava vez após vez, e eu já estava irritado. Em mais uma lapada de Blizzard, meu recém evoluído Feraligatr foi de arrasta pra cima, e, imerso no gameplay, esqueci do “vizinho” e exclamei “mas que inferno de porco de gelo!”, me referindo ao poderoso suíno do líder de ginásio.

Eis que a pessoa na cabine ao lado (daria um baita filme de terror esse título, hein?) deu uma risadinha e comentou: “tá sofrendo com o Piloswine também, né?”. Gelado, respondi com um “é” estremecido, meio embargado, e me xinguei internamente por ter esquecido da presença no banheiro. O silêncio que se formou a seguir foi sepulcral, e depois de alguns minutos, a descarga da quinta cabine foi acionada, me fazendo pular no assento da minha.

TBT Piloswine

A pia em frente foi ligada, mãos se esfregaram rapidamente e se agitaram no inequívoco gesto de secar dos preguiçosos que não usam toalha ou papel. Após dois passos secos, a pessoa se dirigiu a mim novamente: “você precisa jogar o novo Zelda”. E foi embora, sem deixar quaisquer rastros de sua estadia.

Salvei o jogo e desliguei o Game Boy. Encerrei os trabalhos na cabine e saí de volta ao corredor do banheiro. Olhei direto no espelho em frente e vi meu reflexo lívido, mas algo além chamou minha atenção: a quinta cabine, de onde a pessoa falou comigo, estava com uma plaquinha pendurada. Nela, a palavra “INTERDITADO” parecia berrar uma proibição. Tremendo, tentei empurrar a porta, e ela simplesmente não abriu, estava completamente emperrada.

Mas como isso era possível? Aquela pessoa, entidade, sei lá, estava ali minutos antes. Tinha conversado comigo, dado descarga, e tudo mais. Eu tinha ouvido a pia e a indicação do Zelda. Apesar do escaldante clima de março, senti um frio sobrenatural tomar conta do meu corpo. Enfiei o Game Boy no bolso de trás da calça e saí correndo do banheiro, sem nem lavar as mãos.

Ao sair, quase fui com tudo na barriga de um professor que estava no corredor. Sem nem levantar a cabeça, pedi desculpas e segui embalado para longe dali. Precisava criar o máximo de espaço possível entre mim e aquele banheiro. O sinal tocou e fui direto para minha sala, esquecendo totalmente de lanchar no recreio.

TBT The Legend of Zelda

No final de semana seguinte, meu pai chegou em casa com um embrulho quadrado. Sorrindo, rasguei o papel de presente e, senti meu corpo travar. Era uma caixinha vermelha, com um loiro de capuz verde e um cajado em mãos. The Legend of Zelda: Oracle of Seasons se sobrepunha a um fundo dourado. Vendo minha falta de reação, meu pai disse: “O que foi, não gostou? O dono da loja disse que te conhecia, e que você precisava jogar o novo Zelda…”.

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