Arcane constrói o 1º ato da segunda temporada juntando os cacos do ano anterior
O final da primeira temporada de Arcane é talvez um dos momentos mais marcantes da primeira temporada da adaptação feita pelo estúdio francês Fortiche. Com Jinx empunhando Fishbones e atirando em direção ao Conselho de Piltover, a temporada fechou de forma desoladora.
O segundo ano de Arcane se agarra nesse momento de desespero depois do atentado para dar o tom desse primeiro ato. Pesado e entranhado nas políticas de Piltover, os três primeiros episódios fazem um ótimo trabalho de preparar o terreno para os próximos episódios.
Oh, the misery
Os primeiros minutos da segunda temporada de Arcane começam mostrando o estrago do atentado feito por Jinx, e como isso impactará os personagens que estão presentes naquele momento. Viktor sai da confusão muito ferido, e Jayce toma medidas desesperadas para salvar o amigo. Com uma grande perda nesse momento, os personagens de Piltover estão completamente sem chão, e isso acaba dando espaço para ideias mais extremas.
No caso de Zaun, a Subferia, vira um alvo de uma disputa de poder entre os Barões da Química, e isso acaba escalando para a superfície. Com um atentado a um memorial feito para honrar os mortos do ataque, o sentimento de ódio pelos moradores do lugar começa a aumentar na superfície, além das maquinações dos membros restantes do conselho.
Jayce, ainda atormentado pelo que Viktor sofreu e também após ver como a tecnologia Hextec ajudou a salvar o dia, cria novos equipamentos para dar força ao esquadrão comandado por Caitlyn e Vi, que formam um grupo de policiais armados com os itens criados pelo cientista.
Usando de todos os subterfúgios para tentar encontrar Jinx, Caitlyn desce em uma espiral de culpa e luto durante esses três episódios iniciais. Atormentada por falhar e não conseguir atirar em Jinx no final da primeira temporada de Arcane, a futura Xerife de Piltover acaba vendo na repressão, uma forma de descontar os sentimentos entalados.
Enquanto isso, Vi, que reluta inicialmente a se juntar ao esquadrão de Caitlyn, ainda tenta encontrar algo bom em Jinx, mesmo que seja para tentar fazer com que ela pague pelos seus crimes. Isso faz com que ambas tenham um conflito de ideais muito forte, e mostra a diferença de classe entre as duas.
Essa parte de Arcane é muito bem executada, mostrando como todos os personagens estão lidando com as perdas do atentado, e como o sentimento de impunidade pelo o que Jinx fez vai correndo e levando os residentes de Piltover a um caminho complicado.
Novos amigos chegando e antigos partindo
Um dos momentos mais importantes dessa temporada, envolve talvez o meu trio de personagens preferidos dessa série. Ekko, Jayce e Heimerdinger se unem para estudar as runas e entender o impacto que elas possuem não só nos equipamentos, mas também em Zaun e Piltover. É muito bacana ver a interação entre esses personagens, já que infelizmente, só podemos ver as relações entre eles no League of Legends nos raros momentos em que existe alguma fala entre os campeões.
Com Heimerdinger tendo Ekko como seu novo discípulo, o trio de cientistas passa a pesquisar a anomalia, enquanto Viktor acaba despertando da sua “câmara hiperbólica” feita utilizando o hexcore, com poderes e um novo visual. Não dá ainda para saber se chegaremos a ver a “evolução gloriosa” do personagem para se transformar no campeão que conhecemos do LoL, ou até mesmo se isso possa um update visual para o personagem dentro de Summoner’s Rift, mas o novo design chama atenção e claramente esconde algo que está por vir.
De qualquer forma, é interessante ver como as posições dos personagens se inverteram depois da primeira temporada de Arcane. Enquanto Jayce agora quer utilizar a hextec ao máximo, Viktor comenta que preferia perecer do que ter utilizado a tecnologia em seu corpo e vai embora, deixando o melhor amigo para trás. De todos os ganchos para o segundo ato, devo dizer que é o que estou mais intrigado para ver se desenrolar.
Pelas vielas de Zaun
Enquanto Piltover lida com as consequências do atentado, Zaun vive uma briga por poder para ver quem substituirá Silco. Com Jinx sendo procurada pelo ataque, isso faz com que ela se torne um alvo para aqueles que buscam ter uma posição de poder. Por isso, a personagem se torna uma fugitiva, e enquanto está tentando se esconder da polícia, também tenta lidar com o luto da morte de Silco.
Por mais que o personagem tivesse causado mal para Jinx na infância, a personagem ainda nutria um carinho bizarro pela figura paterna distorcida que ele representava, e isso faz com que ela tenha mais uma camada de distúrbios e traumas.
Enquanto Jinx tenta lidar com a sua tristeza e a perseguição, podemos ver cada vez mais como Caitlyn vai se tornando uma figura opressora nesses três primeiros episódios. Usando de todas as armas para tentar pegar a adversária, a Xerife de Piltover perde o seu senso moral e isso acaba complicando a sua relação com Vi.
Muita coisa acontecendo ao mesmo tempo
Acho que talvez uma única crítica a esses três primeiros episódios de Arcane, é que o ritmo acaba sendo acelerado demais. Talvez pela temporada ter poucos episódios, a Fortiche quis aumentar o ritmo da animação para contar tudo o que queria, já que não teremos terceira temporada. Com uma quantidade limitada de episódios, encerrar uma história tão complexa e com tantos personagens, é um trabalho difícil.
Talvez por isso, a gente consiga fazer algumas concessões sobre o ritmo da história, mas ainda assim, parece que alguns acontecimentos foram pincelados de forma rápida para não tomar tempo de tela, quando alguns deles seriam interessantes de serem vistos. A ação envolvendo as incursões da equipe de Caitlyn e as consequências deveriam ser exploradas, mas acaba que somos limitados a uma belíssima montagem com artes incríveis deles em ação. Dessa forma a gente até que não reclama tanto, mas ainda fica esse sentimento de correria.
Acontece tanta coisa nesse primeiro ato de Arcane, que temos vislumbres do que Singed andou aprontando, e pelo andar da carruagem, teremos finalmente a presença de Warwick na trama, que caso a teoria dos fãs estejam corretas sobre quem foi utilizado como cobaia, teremos mais desgraçamento de cabeça para Vi, Jinx e para o público também.
Quanto a qualidade da animação, é inegável que o trabalho da Fortiche é maravilhoso, e nos três primeiros episódios da segunda temporada, cada momento continua um deleite visual, principalmente com as adições visuais que o estúdio coloca na narrativa, seja para dar vida as maluquices de Jinx ou misturar 2D com o 3D aquarelado da série para dar uma dimensão diferente, tudo é muito bem executado do ponto de vista técnico.
Talvez se Arcane tivesse mais uma temporada, eu não sentiria esse sentimento de correria na trama. Entretanto, pode ser também que seja o meu coração querendo ver mais do rico universo de League of Legends feito pela Fortiche.
No fim, os três primeiros episódios de Arcane fazem um bom trabalho de criar vários ganchos para o segundo ato, que chega no dia 16 de novembro. Até lá, nos resta prender a respiração e esperar para ver o que acontece com cada um dos personagens.
Leia mais
- Crítica | Like a Dragon Yakuza parece ter vergonha do material original, quando deveria ter vergonha de si mesma
- Crítica | A 2ª temporada de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder é uma comédia (não-intencional) cheia de vergonha alheia
- Crítica | O Bastardo é um faroeste dinamarquês