Like a Dragon Yakuza mostra que é mais fácil jogar a franquia
Os três episódios de Like a Dragon Yakuza já estão disponíveis na Amazon Prime Video para quem quiser assistir. Com a premissa de adaptar a amada franquia do Ryu Ga Gotoku Studio, a série falha não somente como uma transposição pífia, mas também como um produto fraco num geral.
Mistura de adaptações que leva a lugar nenhum
Existem poucas coisas boas na série, podemos dizer. Por mais que de alguma forma a produção não seja lá tão primorosa na trama, a fotografia é bem competente. Kamurocho, tanto em 1995 e 2005, também está muito bem adaptada. O resto? Nem tanto.
Contudo, algumas adaptações foram feitas e muitas delas não fizeram o menor sentido. No live-action, Shintaro Kazama tem um papel bem menor nos três primeiros episódios, além de algumas adaptações, como o fato dele ser um membro aposentado da Yakuza. O motivo? Não é explicado direito na adaptação, mas provavelmente a série deve se aproveitar do motivo dele fundar o orfanato nos jogos como justificativa. Tirando isso, o personagem só serve para introduzir Kazuma Kiryu e Akira Nishikayama a Família Doujima.
Algumas adaptações foram feitas também no núcleo dos “irmãos” do orfanato, com a adição de uma nova integrante ao grupo formado por Kiryu, Nishiki e Yumi Sawamura. Miho é uma aglutinação da irmã de Nishiki e Mizuki, deixando a série sem a reviravolta envolvendo esses personagens.
Aqui, Miho é uma personagem que muito provavelmente foi colocada para equilibrar a balança da história, não deixando Yumi como a única protagonista feminina da trama. Entretanto, a personagem só serve para modificar a trama de Yakuza Kiwami e ser mãe de Haruka na série. De resto, a personagem, tanto em 1995 ou 2005, não brilha em nenhum momento. Boa parte dos acontecimentos envolvendo ela, poderiam acontecer completamente sem ela estar presente, e sinceramente? Em alguns momentos teria funcionado melhor para a adaptação que fizeram.
A série parece não saber para onde ir em muitos momentos. Enquanto ela tenta ser visualmente fiel à franquia de jogos, Like a Dragon Yakuza não consegue adaptar de nenhuma forma o clima, o humor, e a intensidade dos personagens. Em alguns momentos, principalmente Ryoma Takeuchi como Kiryu, parece extremamente mal dirigido.
O que é uma pena, visto que você consegue ver que ele tenta de verdade captar a essência da personalidade dura do Dragão de Dojima, mas, ao mesmo tempo, ele não tem protagonismo nenhum durante os 3 episódios, com a versão de 2005 servindo como um adereço de luxo para as cenas.
Se formos levar ainda em consideração que Takeuchi não é tão imponente quanto Kiryu, a cara séria do ator nas cenas parecia bem mais um adolescente emburrado querendo mexer no celular durante a ceia de natal.
Um único ponto que achei positivo das adaptações, foi darem um destaque maior para Yumi na trama, mesmo que isso significasse que ela estaria presente a todo momento nos 3 primeiros episódios. Kento Kaku como Nishiki é bem competente, e acho que talvez seja o que mais captou a essência do personagem, ao lado de Munetaka Aoki como Goro Majima.
Fraco como série, fraco como adaptação
A história de Like a Dragon Yakuza começa com o quarteto de jovens que vivem no orfanato, roubando dinheiro do Clã Dojima, o que acaba levando a todos eles se juntarem ao grupo mafioso de alguma forma. Yumi vai trabalhar no Serena ao lado de Miho, enquanto Kiryu e Nishiki viram capangas da família.
No passado, a trama gira em torno de conseguir construir a Millennium Tower, numa adaptação bem livre dos acontecimentos de Yakuza 0. Aqui, vemos Kyriu e Nishiki vivendo trapalhadas — e não das engraçadas — para conseguir o terreno para a família. Entretanto, o desejo de criar origem de absolutamente tudo, em uma tentativa de construir o universo da série de jogos, torna muito dessas partes, completamente massantes.
A série faz questão, inclusive, de mostrar a origem do Florista de Sai, para apresentar ele no episódio, como se precisássemos ver que ele é um ex-policial corrupto, do que simplesmente isso ter dito em um diálogo simples entre os personagens. Nisso, vão se pelo menos bons minutos de tela, que poderiam ser melhor aproveitados.
O forte da história de Yakuza Kiwami é justamente essa dança entre as linhas temporais, mas a série não consegue cativar nisso em nenhum momento. Fica parecendo que viram um conceito interessante da franquia e resolveram pegar para tentar replicar, mas sem o mesmo brilho.
Parte da trama da série se mistura com algumas criações da Prime Video, como uma gangue de pessoas mascaradas bizarras que surgem não sabemos de onde, e o que eles querem, apenas que alguns deles estão matando membros da Yakuza.
Chega a ser triste ver como desperdiçaram um potencial tão grande que deveria ter uma adaptação de Like a Dragon Yakuza, trazendo concessões que não adicionam em nada a trama, e pelo contrário, acabam arrastando demais o andamento da série.
Primeiro, a adaptação mata qualquer chance de existir um mistério ao revelar quem roubou os 10 bilhões de ienes — spoiler: não são as mesmas pessoas do jogo —, e com isso, a história se torna muito mais focada em encontrar essa pessoa, do que entender as maquinações por trás desse roubo. E não só isso, estraga uma oportunidade de criar um fio condutor para manter as pessoas interessadas na história.
Vale destacar que a adaptação cria uma irmã para Yumi, e toma muito tempo de tela da adaptação, colocando a personagem em busca dela. Momentos que poderiam ser utilizados para explorar a relação do trio de uma forma que deixasse mais impactante os acontecimentos, não acontece. Yumi é só uma “irmãzinha” de Kiryu e Nishiki, e vai por isso mesmo.
Visual não salva roteiro ruim
Acredite, muitos dos personagens tem visuais muito bacanas e o distrito de Kamurocho capta a essência dos jogos. Contudo, a série parece um produto mediano fazendo cosplay de Like a Dragon Yakuza. Os personagens estão ali, vestidos e com os mesmos nomes, mas em alguns momentos eles não conseguem convencer que realmente são esses personagens.
E parece que esse tem sido o principal problema com adaptações live-action recentes vindas do Japão. Os fãs de Yu Yu Hakusho que o digam com aquela série péssima da Netflix parece tudo, menos a obra de Yoshihiro Togashi.
Infelizmente, parece que a equipe que adaptou Like a Dragon Yakuza para série, tem vergonha do humor bizarro e dos absurdos que a série de jogos tem, sendo que é esse um dos principais temperos nessa mistura maravilhosa que é a franquia. Um dramalhão bobo, cheio de ação, e com homens de terno no Karaokê ou jogando no fliperama.
No fim, a série não consegue convencer quem gosta dos jogos, e muito menos se sustenta como série. Depois de alguns acertos como Fallout e The Last of Us, Like a Dragon Yakuza acaba ficando na prateleira de adaptações ruins de jogos.
A próxima leva de episódios estreia em 1º de novembro, e espero de verdade que a série consiga se reerguer nos três capítulos finais, já que essa primeira leva parece ser um produto tão vazio e arrastado, que é melhor voltar e jogar Yakuza Kiwami mesmo.
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