Lançado em 2023 para consoles PlayStation e PC, Eternights trazia uma fórmula bem conhecida dos “otakus” de plantão: a mistura de RPG com simulador de encontros. Claro, não é uma ideia nova, sendo muito explorada após o sucesso avassalador da série Persona.
Porém, sempre me pareceu algo genérico e nunca despertou muito a atenção do meu “otaku interior”. Eis que estou nos meus afazeres diários da Game Arena quando nossa editora-chefe joga Eternights na mesa (na verdade no grupo de mensagens da redação) e diz: “É seu, faça”!
Pois bem, a missão foi dada e decidimos explorar a fundo o game em sua versão para o Nintendo Switch. Desenvolvido pelo indie Studio Sai, a versão para o console híbrido da Nintendo peca um pouco por pequenos problemas, mas entrega uma aventura sólida e até divertida.
O Persona nosso de cada dia
Em Eternights, guiamos um personagem adolescente em seu cotidiano como qualquer jovem na flor da idade. Vontade de sair, conhecer garotas e se dar bem são apenas alguns dos objetivos de uma mente tão jovem. Inclusive, a primeira ação no game é justamente marcar um encontro via app de namoro.
Mas a coisa sai de controle quando uma ameaça global começa a transformar adultos em monstros grotescos. Com a ameaça de nível global, os grandes centros urbanos em todo mundo são fechados. Todos eles possuem algo em comum: uma fábrica da misteriosa empresa Eternights.
Agora, o protagonista e outros amigos precisam sobreviver em uma cidade grande infestadas de monstros grotescos e outras criaturas macabras. Mas eles possuem um poder especial, onde a mão direita (que sugestivo) acaba se tornando uma poderosa arma feita de luz.
Agora, sua missão é reunir seu amigos e novos aliados e lutar pela sobrevivência em meio ao caos, tentando encontrar uma saída para aquela situação complicada. Uma história bem simples, típica de animes do início dos anos 2000, mas é divertida e funcional. Ponto para os roteiristas de Eternights.
Mas estamos falando de um jogo no melhor estilo Persona. Então temos lutas contra criaturas monstruosas e elementos de simulador de namoro e relacionamento. Assim, o protagonista interage com outros personagens em batalhas, missões e momentos de diálogo para ganhar pontos tanto de relacionamento quanto de atributos como coragem ou força.
Mas não estamos falando de nada muito complexo como os encontros e datas especiais de Persona. Em Eternights, é tudo muito simples e flui naturalmente de acordo com as escolhas do jogador e as respostas dadas.
Ação desenfreada (mas repetitiva) em Eternights
Por mais que eu queria enfatizar as semelhanças com Persona, a equipe do Studio Sai buscou uma inspiração, mas não fez uma cópia. Apesar da exploração e cenários parecerem muito com o RPG da Atlus, os combates são de um RPG de Ação.
No melhor estilo do gênero, temos diferentes tipos de golpes, além de esquivas e defesas variadas. Existem recursos como esquiva com câmera lenta, contragolpes e ataques poderosos.
Mas a grande falha de Eternights nos combates está na falta de variedade nos combos e golpes. Nosso personagem só tem acesso a um estilo de luta específico por boa parte do jogo, sendo que as grandes variações estão em mudanças dos tipos de golpes. Porém, o resultado final é sempre o mesmo.
Os inimigos do jogo também são bastante idênticos, com pequenas variações nas roupas e aparências. É como jogar um RPG de ação com zumbis idênticos por muito tempo, onde a diferença maior está na resistência deles e, às vezes, no tamanho. Não contei mais do que seis inimigos diferentes por todo jogo.
Outro grande problema do game está nos cenários. São todos muito parecidos entre eles, com mudanças causais de cores nas iluminações e objetos. Geralmente, são construções, prédios e até estações de metrô onde temos sempre os mesmos corredores e janelas que dão para o nada.
Existem alguns desafios como puzzles simples, mas nada que empolgue muito ou que gere qualquer grande dificuldade para o jogador.
Enfim, a repetição de elementos em Eternights acaba estragando parte da diversão, mas não destruindo totalmente.
Aquele encontro casual e inesperado
Para quem gosta de histórias e dramas adolescentes, Eternights é um prato cheio. No melhor estilo visual novel, somos guiados por diálogos divertidos e interessantes entre os personagens, onde o protagonista influencia diretamente com suas respostas e ações prévias.
Mesmo se o jogador for daqueles que prefere pular diálogos, é bom ficar atento aos diálogos. De acordo com as respostas dadas, o jogador influencia diretamente o relacionamento com o NPC. De acordo com o nível da relação, o protagonista pode ganhar habilidades e os aliados se unem a ele nos combates e explorações, sendo vitais para enfrentar inimigos poderosos.
Apesar de simples, a história desenvolvida com o tempo diverte os fãs do gênero, apesar de trazer alguns elementos (como fanservices de roupas íntimas das personagens femininas) bastante desnecessários.
Certo, e a versão de Switch?
Como nunca joguei as versões para PlayStation e PC de Eternights, me limito apenas a comentar o port para Nintendo Switch. Graficamente, o jogo está agradável no console, apesar de gráficos datadas. Entretanto, não ocorreram quedas bruscas de frames e a qualidade da imagem segue um padrão “ok”, com pequenos casos de texturas pixeladas em pontos específicos.
São poucas as telas de loading desta versão, o que mostra o empenho do Studio Sai em trazer um port de qualidade para o Switch.
Mesmo assim, sinto que o grande problema do port de Eternights está em sua câmera. Controlada pelo direcional direito do Switch (ou pro controle), o jogador deve focar nos combates e ângulos de visão para não ser pego desprevenido.
A tradução para português é um adicional para os fãs brasileiros, apesar da falta de “tato” na tradução, com diálogos literais e com poucas gírias ou personalidade.
Um indie divertido, apesar dos problemas
Eternights apresenta um visual interessante para jogadores fissurados em “animes-like”. Porém, as diversas limitações técnicas prejudicam a diversão geral do game. O enredo é interessante, mesmo com o fanservice desnecessário.
Existem diversos clichês no melhor estilo dos animes shounen, o que não é algo ruim. A aventura é simples e rápida (12 horas), sendo algo fundamental para um jogo tão repetitivo. Também não podemos exigir tanto assim, já que é uma produção indie e com um preço sugerido de R$ 109 na eShop brasileira, um valor condizente com o resultado final.
Caso queira uma aventura diferenciada no estilo de Persona, dê uma chance ao Eternights.
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