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Life is Strange Double Exposure
Análise Game Arena
Imagem: Divulgação/Square Enix

Review | Life is Strange: Double Exposure tem ideias boas, mas execução fraca

O retorno de Max Caulfield como protagonista não consegue salvar Life is Strange: Double Exposure, que peca pelo roteiro péssimo da Deck Nine.

Igor Pontes •
28/10/2024 às 17h18, atualizado há um mês
Tempo de leitura: 12 minutos

Life is Strange: Double Exposure teria sido melhor nas mãos da Don’t Nod

E se você pudesse dividir a sua vida entre duas linhas temporais? Em uma delas, você seguiu o seu trabalho dos sonhos, por exemplo. Na outra, você desistiu de última hora e foi fazer uma faculdade mais rentável. Eu não sei vocês, mas em algum lugar do multiverso, deve existir uma versão minha que optou por fazer programação ou publicidade.

São nessas pequenas escolhas que Life is Strange: Double Exposure traz uma nova fórmula para uma estrutura já conhecida da franquia. Poderes relacionados a história, um problema para resolver e vários personagens para conhecer. A Deck Nine joga no seguro — e coloca seguro nisso — para trazer uma experiência que subverte o jogo original, abrindo um novo caminho para a franquia.

Ainda assim, existem muitas coisas que Double Exposure usa, e até demais, do primeiro Life Is Strange como forma de fisgar os fãs antigos, e demora a engrenar. O primeiro capítulo é basicamente uma grande introdução para te mostrar o que Max Caufield tem feito desde que deixou Arcadia Bay, e aqui tem um ponto que pode deixar chateados alguns fãs que gostam da Chloe Price.

Como o Life is Strange original tem dois finais diferentes, é preciso escolher entre salvar Chloe ou salvar a cidade, e muita gente escolheu a Chloe. Não vou entrar no mérito da decisão, já que sei o quão acalorados são os fãs da personagem, e principalmente por isso, a decisão “covarde” de Double Exposure, é determinar se ela está viva ou não, por meio de um diálogo. 

E caso decida que ela esteja viva, misteriosamente, Max e Chloe se distanciaram com o tempo. Não sei em qual dos multiversos criados pela Max as duas romperiam de alguma forma depois dela condenar uma cidade inteira para salvar a Chloe. Contudo, tudo bem, entendo que seria difícil entregar praticamente dois jogos diferentes colocando Chloe na equação. 

Contudo, essa história não é sobre Chloe e Max mais uma vez, e ainda bem. Sem uma grande distração para uma parte dos fãs que ainda não superou o primeiro jogo — 2015, galera, quase 10 anos… —, Caufield pode brilhar sozinha como protagonista da própria história. 

Life is Strange Double Exposure
Imagem: Captura de Tela/Game Arena

Novos poderes, mesma Max

Enquanto no primeiro Life is Strange, Max podia voltar no tempo, aqui ela consegue transitar entre linhas temporais. Entre o “Mundo Vivo” e o “Mundo Morto”, ela utiliza os seus novos poderes para tentar juntar as peças do quebra-cabeça que envolvem Caledon, faculdade onde trabalha, e o que aconteceu naquele campus. 

Aqui, a gente entra no primeiro ponto negativo do jogo. Infelizmente — ou felizmente para muitos —, os puzzles do jogo são muito fáceis. Quase não existe dificuldade para resolver os problemas, e isso transforma Double Exposure em um passeio interativo por essa nova fase de Max, que continua lidando com o peso da decisão que tomou sobre Arcadia Bay. Independente se salvou Chloe ou não, a protagonista sofreu bastante com as decisões tomadas no primeiro Life is Strange, e aqui, podemos ver uma versão adulta da personagem tendo que superar os fantasmas do seu passado para conseguir seguir em frente. 

Por mais que os puzzles sejam ruins, os poderes são interessantes de se utilizar, e muito por isso, é triste ver que existia um potencial muito maior para se explorar. Uma das missões que existem no jogo, sinalizam perfeitamente o potencial desperdiçado. Em determinado momento, Max precisa resolver um problema na outra linha do tempo, enquanto recebe dicas vindas do outro universo. Algo que poderia ter sido utilizado com mais frequência, mas Double Exposure não consegue extrair o máximo dos novos poderes da protagonista.

Life is Strange
Imagem: Captura de Tela/Game Arena

O que é uma pena, visto que a única coisa que segura muito bem esse jogo, são os poderes de Max, e a própria protagonista. De resto? Temos uma trupe de personagens bem legais em SafiMoses, que formam o trio de personagens principais nessa história, mas que não conseguem segurar o peso de acompanhar Caufield nessa jornada, por mais que tenham bons momentos. O resto do casting de personagens? Fracos e esquecíveis. Amanda, uma das opções de par romântico de Max, aparece tão pouco que cheguei a pular quando ela finalmente teve tempo de tela durante a minha jogatina. Deixem a menina ser feliz e dar uns beijos, Deck Nine.

Subvertendo o legado do primeiro jogo

Double Exposure brinca a todo momento com momentos do primeiro Life is Strange. Seja mostrando Chloe, Max recebendo mensagens de Joyce sobre como ela sente falta da jovem, ou até mesmo em momentos mais tensos que acontecem nos capítulos finais. Parece que a Deck Nine sabia que os personagens e a nova história que haviam montado não seguraria sozinho a aventura, e colocaram elementos do primeiro jogo para conseguir impactar ainda mais os fãs.

Por mais que Safi seja uma personagem legal, o arco dela no jogo é fraco demais. Não existe nenhum tipo de consequência real, ou uma evolução da personagem depois dos acontecimentos que envolvem não só a sua morte, como também os problemas que ela enfrenta na timeline que ficou viva. Parece que ela volta a estaca zero no fim da aventura, e em um título em que decisões e situações moldam a história, fica difícil quando a sua segunda protagonista praticamente não se desenvolve.

Life is Strange Double Exposure
Imagem: Captura de Tela/Game Arena

Safi até tem alguns momentos de evolução, mas que são completamente descartados no final, que simplesmente desfaz tudo o que Max Caufield aprendeu durante os capítulos, e também faz um desserviço para o que a franquia representa. Double Exposure consegue ter bons momentos, mesmo que em contraste com péssimas decisões de diálogo e puzzles ruins. Realmente, uma dupla exposição.

O primeiro Life is Strange é um jogo muito importante para mim. Escrevi sobre ele em 2015 na época da faculdade e cheguei a citar sobre a importância do jogo em ajudar adolescentes em luto e também por lidar com problemas que eram na época comentados, como exposição de fotos íntimas e bullying na época da escola, além de depressão e suicídio. Com o primeiro jogo tratando sobre todos esses assuntos de uma forma tão delicada e responsável, chega a ser triste ver o que a Deck Nine faz com o tema em Double Exposure.

Fica parecendo que a Deck Nine tentou encontrar uma forma de fazer o próprio Life is Strange, mas na tentativa de encontrar uma identidade definitivamente, o estúdio não conseguiu trazer bons diálogos e situações convincentes que justificassem nos importarmos com qualquer outro personagem que não a Max nessa confusão toda.

Life is Strange Double Exposure
Imagem: Captura de Tela/Game Arena

De todos os erros que a Deck Nine poderia ter tido com Life is Strange, não ter explorado ainda mais esses temas delicados, esses dramas que envolvem esses jovens, mostra que o estúdio ainda não entendeu sobre o que é a franquia.

Mais do que uma história de mistério e relacionamentos entre jovens ou adolescentes, é sobre o que acontece com eles durante esses anos. Seja problemas com a família, dilemas da vida adulta, traumas do passado, dificuldade de se encaixar em algum ambiente, tudo isso faz parte da concepção do que transformou Life is Strange nesse produto tão único, e parece que nem a Square Enix e nem a Deck Nine conseguem achar o balanço perfeito para entregar um jogo completo da franquia.

Conclusão e nota de Life is Strange: Double Exposure

No fim, parece que Double Exposure é uma tentativa da Deck Nine de justificar estar com a franquia nas mãos e a Square não entregar para outro estúdio, ou até mesmo nos nossos sonhos mais distantes, voltar para a Don’t Nod. Com puzzles fracos, personagens mal explorados e sem nenhum tipo de consequência real para o que acontece com eles, Life is Strange: Double Exposure é um jogo que me divertiu, muito pelo meu desejo de voltar a jogar com Max Caufield e minha conexão emocional com a personagem.

Life is Strange Double Exposure
Imagem: Captura de Tela/Game Arena

De resto? Parece que se só tivesse a Max em um cenário vazio, a história do jogo não mudaria de nenhuma forma. Tendo vários momentos em que o jogo poderia se aprofundar mais nos personagens, no que está acontecendo na faculdade, e na investigação, Double Exposure joga isso tudo fora para focar em contar uma história sem sal sobre como a Max está trabalhando em algum lugar novo e tem alguns amigos, mas que não são nem de longe tão bons quanto a trupe da Blackwell Academy.

Se a Deck Nine queria acalmar os fãs, ou agradá-los com Life is Strange: Double Exposure, eu não consigo imaginar o que eles teriam em mente para deixar os fãs da franquia chateados.

Life is Strange Double Exposure

Life is Strange: Double Exposure foi jogado no PC (via Steam) por meio de uma cópia antecipada cedida pela Square Enix. O jogo também está disponível para PlayStation 5 Xbox Series X/S.

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