Cada vez mais, jogos se tornam um artigo de luxo na nossa realidade
Esse texto vem pairando na minha mente desde que montei meu computador novo, o que me fez pensar o quão caro está gostar de jogos. Seja periféricos, hardware, tudo tem se tornado muito caro e sofremos com essa situação bem complicada para quem é aficionado por videogame.
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Qualquer lançamento de uma desenvolvedora grande chega por, no mínimo, R$ 250, em alguns casos, acima disso. Até mesmo no PC, onde sempre os jogos tiveram um preço mais acessível, está se tornando insustentável. Para os fãs de Call of Duty, por exemplo, Modern Warfare II custa R$ 299,90. E isso, estamos falando somente dos jogos, sem contar consoles, periféricos, hardwares, e por aí vai.
Os jogos demandam cada vez mais
Além de caros, muitos jogos estão demandando demais do seu computador, por exemplo. O que antigamente tínhamos como um custo-benefício, hoje fica difícil montar uma máquina que rode os jogos atuais sem desembolsar, pelo menos, R$ 3 mil. Fui em uma loja online de hardware para montar um PC de entrada, e o preço estava na média que acabei de descrever. O PC continua sendo mais barato que um console, mas isso quando falamos de uma máquina que pode sofrer para rodar algum jogo pesado.
Os consoles continuam caros. O Xbox Series X passeia nos preços em R$ 5.489,00 e R$ 4.399,00, isso sem contar locais que sobem o preço de forma absurda pela falta do videogame em outros e-commerces. O mesmo acontece com o PlayStation 5, que a versão digital baixou para R$ 3.999,00 em alguns lugares. O Xbox Series S continua sendo o console de melhor custo-benefício dessa geração, chegando a custar R$ 1.875,00.
A vantagem dos consoles sobre o PC é que, se você não liga para 120 fps e outras coisas, consegue jogar tudo da geração sem muito problema. No entanto, cada vez mais, os jogos vão demandando mais do consumidor. Seja uma máquina melhor, seja no preço, ou no espaço que ele ocupa no seu armazenamento. Recentemente, foi revelado o tamanho de Star Wars Jedi: Survivor, e o jogo demanda 155GB do HD para rodar. Dead Island 2? Para conseguir jogar o título, só com uma 1060 para cima.
Em um país onde o salário mínimo é de R$ 1.320,00, ter um videogame é um artigo de luxo para muitos. Os preços não ajudam na hora de optar por esse tipo de entretenimento.
Os preços continuam aumentando
The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom custará R$ 358, diferente do já habitual — e bastante salgado – valor de R$ 299,00. Isso não fica só na conta da Nintendo, já que existem muitos títulos de outras empresas que também saem por um preço tão alto quanto esse. The Last of Us Part 1? R$ 349,00. Um jogo de 10 anos atrás, que teve uma mudança no seu poderio gráfico e que continua sendo o mesmo jogo do PlayStation 3.
Nisso, pelo menos, a Microsoft acerta, ao colocar seus jogos no Game Pass, de forma acessível. Dessa forma, você paga uma mensalidade e consegue desfrutar dos jogos da empresa, além de títulos de parceiros. Mas, ainda assim, você precisa comprar algum determinado lançamento que queira, ocasionalmente. Não existe para onde fugir nesse assunto, a indústria te colocará para consumir, e você, como apaixonado por jogos, comprará. É simples e também triste, infelizmente. E bem, não são só os jogos que estão nessa situação, mas hardwares também.
Quer comprar uma placa da série RTX? Desembolse mais que um salário mínimo para conseguir uma placa de vídeo. Um processador novo? Dependendo do modelo, no mínimo R$ 500,00. Isso é uma situação que não dá para encarar como normal ou saudável. Ou você não tem nenhum gasto além dos seus prazeres próprios ou um bom salário, senão não existe a possibilidade de ficar acompanhando as novidades do mundo dos games. E essa é a realidade de boa parte da comunidade no Brasil.
Hardwares caros, softwares caros, o abismo entre as pessoas que conseguem acompanhar a nova geração para as pessoas que compram quando conseguem juntar para isso está maior do que nunca. A linha da exclusão entre quem tem dinheiro para pagar R$ 10 mil em uma RTX 4090 e quem ainda usa uma GTX 1060, é grande. E o problema nisso é que a própria indústria continua subindo a barra, e deixando de lado uma parcela da comunidade que quer consumir as obras, mas entre um boleto e um jogo novo, temos que ser realistas. O boleto será pago. E não existe contra-argumento quanto a isso.
Você não precisa pagar contas? Tudo bem, você tem sorte. Gaste seu dinheiro numa placa de vídeo nova, compre todos os jogos que quiser, tenha os três consoles da geração. Mas admita que, cada vez mais, os preços são impraticáveis. Não existe um mundo cabível onde os preços atuais sejam considerados normais. Entender que sofremos na mão da indústria para consumir o que gostamos faz parte e deve ser debatido.
Não é um cenário agradável para ninguém que consome
Para a indústria, é fácil e confortável. É justo para a Nintendo aumentar o preço de Tears of the Kingdom, porque, segundo ela, o esforço foi maior. O consumidor? Ele comprará de qualquer jeito. Eu comprarei, você vai. Não fingiremos aqui que não existem outras possibilidades, mas não vamos endossá-las aqui. Se encontrarmos uma alternativa para tudo e não confrontar o problema de frente, aí que ele continua.
Gostar de jogos é legal, nos conecta com outros mundos, novas experiências, rendem discussões intermináveis com amigos e até mesmo desconhecidos, por fóruns, e pela internet afora. Todos temos um momento de algum jogo que guardamos com carinho, e isso sempre será um sentimento bom. Mas não podemos negar que a indústria que tanto amamos nos coloca em uma situação onde somente quem tem condições de bancar seu prazer, seu entretenimento, pode continuar se divertindo. Não consegue pagar? O problema é seu. Infelizmente, esse é o pensamento de boa parte das empresas, de boa parte dos donos. No fim, é tudo sobre o dinheiro, e não sobre a diversão dos consumidores.
A Nintendo gosta de falar que cria jogos para os fãs terem uma conexão emocional, feita de fãs para fãs, mas nunca coloca seus títulos em promoção. Em décadas que consumo videogame — e não são poucas – é difícil ver um título da empresa em promoção. Por mais que eu adore o Miyamoto, a cara de bonzinho do produtor do Mario não me compadece mais. As empresas aproveitam que eu e você somos apaixonados pelo produto delas e batem o martelo na nossa cabeça. E, no fim, a gente acaba comprando quando dá, né?
Só que isso não deveria ser uma regra. Para uma mídia tão democrática, plural e vasta que temos, jogos estão se tornando cada vez mais um clube restrito, onde poucos podem sequer ter a chance de bater na porta. Não tem um PS5? Não entra, não tem uma Xbox Series? Esquece. Não tem uma RTX? Ih, volta semana que vem.
Nesse clube de privilegiados que a indústria dos games está se tornando, dá cada vez mais vontade de entrar pela janela dos fundos nessa festa.
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