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Pérolas da 10ª Arte – E.T. (Atari)

Requícios alienígenas encontrados no subsolo do Novo México? Estamos no mês de abril do ano de número 2014 do calendário...

ET Atari

Requícios alienígenas encontrados no subsolo do Novo México?

Estamos no mês de abril do ano de número 2014 do calendário cristão. Enquanto o mundo se preparava para a Copa do Mundo que seria realizada em alguns meses no suposto país do futebol, algo quase tão bombástico quanto uma goleada de 7 a 1 abalaria os alicerces da história dos jogos eletrônicos como a conhecemos.

Um grupo de escavação levou todo seu equipamento até um lixão nos desertos do Novo México. Tudo para responder uma pergunta que assombrava a humanidade há três décadas: pode uma obra ser tão ruim a ponto de quase encerrar a forma de arte da qual faz parte? E o que a indústria seria capaz de fazer para esconder essa caixa de Pandora?

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A curiosidade humana, tão incisiva e barulhenta quanto uma escavadeira motorizada, mergulha fundo no mistério e traz de volta à luz a resposta do enigma. São cartuchos de videogame. Na arte de capa, um menino posa ao lado de um senhor com a pele bastante ressecada. Não, espera… na verdade é um alienígena. O que vemos é o jogo de ET, o Extraterreste, baseado no filme homônimo de Steven Spielberg.

(Foto: Reuters)

A descoberta traz consigo novas perguntas. Como chegamos até aqui? É como se, de repente, um relógio parado desde 1983 tivesse voltado a andar no momento em que aquelas fitas viram de novo a luz do sol. Por que alguém iria tão longe, a ponto de enterrar vários cartuchos em um lixão, com a urgência de quem está tentando selar uma maldição?

A pérola da décima arte dessa semana, como você deve ter notado, é o histórico E.T. de Atari.

Do que se trata

Lançado em dezembro de 1982 para o popular Atari 2600, E.T. é a adaptação para videogames do clássico filme de Steven Spielberg, lançado no natal daquele mesmo ano. O jogo foi projetado e desenvolvido por Howard Scott Warshaw, criador do aclamadíssimo Yars’ Revenge. Colocá-lo para trabalhar na adaptação de um filme de sucesso envolvendo alienígenas não teria como dar errado, certo?

Bem, o fato é que E.T. é considerado um dos piores jogos de todos os tempos e, para muita gente, é um dos principais responsáveis pela quebra do mercado de consoles, especialmente nos Estados Unidos, em uma crise na indústria que ficou conhecida como “crash de 1983”. O fiasco foi um dos motivos que levou a Atari a enterrar grandes estoques de cartuchos encalhados em um deserto.

O que você faz no jogo

Controlando o extraterrestre do título, a missão é encontrar três partes de um telefone para ligar para o seu planeta natal e fugir da Terra antes que seja capturado por agentes do FBI ou cientistas curiosos. Diferente de outros jogos da época, que envolviam mecânicas simples de combate, como atirar em naves, E.T. tem uma jogabilidade confusa, na qual é difícil entender alguma coisa sem o manual de instruções – e lendo o manual fica mais bizarro ainda.

A movimentação acontece por várias telas que apresentam vários tons de verde, nas quais é difícil entender direito cada elemento. E essa bagunça de cores não aconteceu por alguma limitação do console, vale dizer. Frequentemente, você cai em um buraco e precisa sair de lá esticando seu pescoço para levitar (?), só para dar de cara com um agente de sobretudo, correr para o lado oposto, cair no buraco de novo e repetir o processo infinitas vezes, como quem paga uma penitência eterna imposta por Zeus.

O impacto estético

O legado de E.T. passa pela resposta de uma das perguntas que foram lançadas aqui a princípio: pode um jogo ser tão ruim a ponto de se tornar responsável pela ruína de uma forma de arte, levando consigo boa parte da indústria do entretenimento?

A resposta é não. É injusto e desproporcional culpar um único jogo pelo resultado da desorganização e ganância dos figurões engravatados que trataram videogame apenas como uma febre passageira e inundaram o mercado com lançamentos de qualidade duvidosa, produzidos com prazos absurdos e péssimas condições de trabalho. A relação do jogo de E.T. com o famigerado crash de 83 é a de vítima, e não cúmplice.

O que não isenta nosso alienígena pixelado de ter deixado marcas profundas no imaginário popular. O jogo carrega, ao lado do filme do Mario de 1993, a tocha que manteve acesa, por décadas, a ideia de que jogos baseados em filmes dificilmente rendiam bons resultados, e vice-versa. Poucas obras foram capazes de deixar cicatrizes tão profundas na percepção do público ocidental.

Mas o maior legado, na minha opinião, está na maneira quase mitológica com que o jogo ajuda a contar um pedaço da história dos videogames, incluindo até um ciclo de morte e ressurreição. Quando voltou do subsolo dos desertos do Novo México, E.T. se deparou com os videogames no topo da indústria do entretenimento. E pode dizer, sem sombra de dúvidas, que fez parte desse processo. Não da forma como gostaria, mas enfim…

Nos vemos na semana que vem com mais uma pérola da décima arte!

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