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Editorial: não há tolerância para transfobia na Game Arena

A editoria de Games da Game Arena não compactua com as opiniões de J.K. Rowling Eu não imaginei que, tão...

J.K. Rowling, mais uma vez, com declarações transfóbicas

A editoria de Games da Game Arena não compactua com as opiniões de J.K. Rowling

Eu não imaginei que, tão cedo na história da editoria de Games da Game Arena, a gente fosse precisar falar sobre isso. Mesmo com Hogwarts Legacy tão aclamado pela crítica e pelo público, que encarou o jogo como uma forma de responder à transfobia da dona de toda essa propriedade intelectual, estando em voga e na mídia, eu não achei que fosse ser tão cedo.

E, sim, esse texto é um desabafo de um editor que ainda não tem um colaborador trans entre seus roteiristas. Que, dando seus primeiros passos na jornada, tenta ser um lugar um pouco melhor para as pessoas que sofrem, diariamente, com preconceitos, e que entendem a dor e dificuldade das suas lutas, tentando, pouco a pouco, derrubar os muros que uma sociedade infeliz levanta entre eles e a felicidade.

Ninguém por aqui quer dizer entender o que as pessoas trans passam em suas vidas. Ninguém por aqui se julga melhor do que ninguém. Somos pessoas com sentimentos e empatia, que têm seus próprios fantasmas, e que pensam em ver um mundo livre de prejulgamentos e marginalização. Somos humanos que amam ver outros humanos realizarem seus sonhos.

E tudo chegou a um ponto insuportável. Acredito que já tenha ficado claro que esse editorial fala sobre J.K. Rowling, a criadora do universo Harry Potter, que, mais uma vez, decidiu abrir a boca e soltar mais ofensas e impropérios voltados à comunidade trans. Dessa vez, ela usou o próprio universo dos livros para ofender.

Esse texto foi escrito por Marcelo Ferrantini, editor-chefe da editoria de Games da Game Arena. E eu não vou ser impessoal, nem prático, apelar para o SEO ou pensar em métricas. Não vai ter “Leia Mais”, hyperlinks. É uma declaração. Sob a minha estada aqui, e da minha equipe, a transfobia não vai ser tolerada, assim como nenhum outro tipo de preconceito.

“Quando me tornei interessada no assunto, e logo fiquei profundamente incomodada por isso, eu vi um movimento cultural iliberal em seus métodos, e questionável em suas ideias. Eu, absolutamente, sabia que, se falasse, muita gente que ama meus livros ficaria profundamente triste comigo.”

Particularmente, eu cresci fã da série do bruxo da cicatriz. Acompanhava religiosamente os lançamentos dos livros sobre um garoto que lutava pelas minorias, que brigava para derrubar uma elite, além de um mal encarnado, e que usava seus poderes pelo bem. Parece que foi há tanto tempo…

“Eu sabia (que ficariam tristes comigo), porque eu podia ver que eles acreditavam que estavam vivendo os valores que eu expus naqueles livros. Eu poderia dizer que eles acreditavam que estavam lutando pelos azarões, e pelas diferenças e pela justiça”

Mas o tempo passou. E passou também a hora de entender que o “separar a obra do artista” já não se encaixa mais quando se fala de Rowling. Não quando a própria obra se tornou ferramenta e munição para excluir, para atacar uma comunidade que morre por causa de declarações como as da autora.

“Eu sabia que isso poderia ser realmente ruim, e tem sido ruim pessoalmente, não tem sido divertido, e eu tenho tido medo, às vezes, pela minha segurança, e, impressionantemente, pela segurança da minha família”

Não há nada de engraçado ou risível na situação. É apenas uma desconexão tão grande da realidade, um retrato tão firme sobre o que a elite pensa com relação à humanidade, que todo e qualquer deboche perde a firmeza. O sarcasmo se torna ofensivo, a piada se torna ofensiva. Não há humor.

O curioso é tentar entender as motivações, os conceitos que fazem girar a engrenagem dessa senhora – que diz temer pela vida, enquanto os que ela ataca passam por isso desde que o mundo é mundo – para realmente acreditar que é ela quem corre perigo.

“Eu diria que alguns de vocês não entenderam os livros. Os Comensais da Morte diziam ‘nós fomos segregados, e agora é nosso momento, e qualquer um que se colocar no nosso caminho deve ser destruído. Se você discorda de nós, você deve morrer’. Eles demonizaram e desumanizaram aqueles que não eram como eles.”

No Brasil, a expectativa de vida de uma pessoa trans é de 35 anos, enquanto a população cis tem média de 75. Em estudos ao redor do planeta, a taxa de mortalidade é praticamente o dobro entre a comunidade transsexual. Apenas 13,9% das mulheres trans e travestis possuem emprego formal em São Paulo, a maior cidade do Brasil. 2022 marcou o 14º ano consecutivo no qual o país teve a maior taxa de mortalidade de pessoas trans.

E essa senhora branca, bilionária, consegue acreditar que é ela quem passa pelos desafios. Que ela é, diariamente, demonizada e desumanizada, enquanto pessoas trans têm 250% mais chance de sofrerem violência que pessoas cis, simplesmente por decidirem viver a vida delas, no corpo delas, dentro daquilo que as faz humanas.

“O tempo vai dizer se eu estava errada. Eu só posso dizer que pensei nisso dura e profundamente, por muito tempo, e eu ouvi, eu prometi, ao outro lado, e acredito, absolutamente, que há algo perigoso sobre esse movimento, e que ele precisa ser desafiado.”

Sim, Rowling. O tempo vai dizer que você estava errada. E é ainda mais traiçoeiro que você use as plataformas que o dinheiro te compra para, de fato, ser o comensal da morte de pessoas que, todo santo dia, procuram um patrono para sobreviver.

As declarações foram retiradas do podcast “The Witch Trials of J.K. Rowling”.

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