Gameplay excelente e hipersexualização marcam Stellar Blade
Antes mesmo do lançamento, Stellar Blade se viu envolto em polêmicas sobre a protagonista, e como o visual da personagem parecia exagerado demais em alguns aspectos, e como isso afetava a experiência dos jogadores.
Agora, um dia antes do lançamento, depois de zerar e passar cerca de 40 horas controlando EVE, trago minhas considerações positivas e negativas sobre Stellar Blade, um jogo futurista, mas com fortes elementos do passado.
A história
Em Stellar Blade, controlamos EVE, uma integrante do sétimo esquadrão aéreo da colônia humana fora do planeta Terra, que muitos anos atrás, acabou atacada e completamente dominado por uma raça alienígena chamada Naytiba.
Logo de cara, somos introduzidos a uma personagem que mais parece um peixe fora d’água, pois EVE acaba, depois de eventos catastróficos, como a única sobrevivente da missão, incumbida do objetivo final, e um para lá de complexo: o de salvar a Terra dos Naytiba.
Daí para frente, EVE se encontra com alguns personagens coadjuvantes que irão auxiliá-la na terrível e assustadora missão, e cada um deles acaba reforçando o primeiro problema que tive com Stellar Blade: a infantilidade do roteiro.
As conversas e reações de EVE, Adam e Lilly, o trio que carrega a maior parte da história nos ombros, são cartunescas ao extremo, tirando toda e qualquer imersão que o game pudesse ter naquele momento.
O mistério e os dramas vividos por EVE na Terra são até certos pontos interessantes, mas a total falta de verossimilhança das “atuações” dos personagens principais me tirou bastante do eixo enquanto jogava.
Especialmente quando falamos de EVE, que é um ponto muito delicado a ser tratado neste review. Me chocou desde o anúncio do game o visual exageradamente sexualizado da personagem, que fica ainda mais evidente em cutscenes e situações específicas da aventura, em que temos um foco desnecessário no corpo da protagonista.
Logo nas primeiras cenas, quando EVE sai de uma cápsula interplanetária, a câmera mostra de maneira demorada as curvas da personagem, em um momento cringe ao ponto de incomodar a maioria dos jogadores.
Em outras situações, como na abertura de alguns baús de itens, EVE se inclina para frente trazendo foco completo para sua bunda, objetificando o corpo da protagonista em um momento que se repete dezenas de vezes na jornada.
Mas a gota d’água para mim foi em uma “interação” de EVE com uma mesa de sinuca em Xion, a última cidade dos humanos na Terra. Ao pressionar o R2 para interagir com a mobília, a personagem se inclinou sobre ela, novamente evidenciando os glúteos, e NADA ACONTECE. Simplesmente constrangedor.
Ao fim da jornada de cerca de 40 horas, senti que o potencial da história não foi totalmente alcançado. Mesmo que eu não tenha sentido tristeza com o conteúdo ruim, fiquei frustrado por não ter chegado aonde gostaria.
O gameplay
Aqui é onde está o melhor aspecto de Stellar Blade. O combate, principalmente, traz momentos de desafios altíssimos, com batalhas memoráveis contra chefões e caminhos espinhosos entre um e outro.
Mesmo os inimigos mais comuns se mostram barreiras muitas vezes instransponíveis na primeira tentativa, e a estratégia é realmente um fator bastante importante em cada enfrentamento.
Apesar do que possa parecer à primeira vista, o combate de Stellar Blade não é só mais um Devil May Cry ou Bayonetta, e sim, um meio-termo entre eles e os jogos que a FromSoftware tanto sabe fazer, como Bloodborne, Dark Souls e Elden Ring.
É um gameplay intenso, calculado, com muita variação de combos e que desafia o jogador a cada momento. Feitas da maneira correta, as lutas podem ser extremamente ágeis ou um intenso duelo de xadrez no estudo das movimentações dos inimigos e como encontrar aberturas nelas.
Não é uma cópia exata dos trabalhos da FromSoftware, mas tem seus méritos próprios e consegue se encaixar numa categoria à parte, flutuando entre Dark Souls e Bayonetta.
Entre os combates, no entanto, existe um outro fluxo de gameplay que achei bem interessante. A exploração do mundo de Stellar Blade é satisfatória e recompensadora.
Esqueça os intermináveis e misteriosos ambientes de Tears of the Kingdom ou Breath of the Wild. Aqui temos regiões, ainda que grandes, contidas e delimitadas, com pontos específicos de exploração, sem muitas surpresas e armadilhas.
O que pode acabar sendo um ponto negativo para alguns, para mim, foi incrível, pois supriu uma necessidade de encontrar um jogo de aventura que simplesmente me estendeu a mão em determinados momentos e apontou a direção para onde seguir, sem me deixar aflito ou preocupado em perder algo incrível porque não escalei um desfiladeiro ou me joguei do alto de um precipício, no fundo de um lago escondido.
Tive uma sensação extremamente boa de nostalgia dos jogos dos anos 2000, onde nossa preocupação maior e quase exclusiva era de arrebentar inimigos e derrotar chefões para chegar ao final. E ainda que eu adore um mundo aberto recheado, como o de Elden Ring, foi bom retornar a uma exploração clássica.
Os gráficos e a trilha sonora
Se o gameplay de Stellar Blade brilhou, os gráficos também merecem elogios. Os cenários e os personagens são extremamente bem detalhados, principalmente, é claro, a protagonista e os coadjuvantes com mais tempo de tela.
Cada ambiente do game é construído com cuidado, e a exploração ganha mais um ponto positivo quando é feita por locais bonitos, mesmo que no meio de tanta destruição, como encontramos na maior parte da aventura.
Por outro lado, assim como a “atuação” dos personagens me incomodou, a trilha sonora também foi outro aspecto que me descolou da imersão que o game poderia ter.
Composta por músicas que são mais puxadas para o K-Pop, a trilha sonora de Stellar Blade não pareceu casar com o que o gameplay estava mostrando. Músicas mais calminhas e, em até certo ponto, “soft” demais, quebraram constantemente a ambientalização que aquele momento pedia.
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Conclusão
No final das contas, Stellar Blade é um clichê na assepção da palavra, para bem e para mal. É um lugar-comum que me transportou de volta a tempos mais simples de gameplay, no início dos anos 2000, com uma aventura mais focada e contida, mas que me entregou um combate intenso e desafiador, além de gráficos excelentes.
Ao mesmo tempo, o clichê da sexualização exagerada do corpo feminino incomoda com closes objetificados e inclinações totalmente desnecessárias da protagonista – o que me impediu de gostar mais de Stellar Blade, mesmo que minha experiência tenha sido muito mais positiva.
Stellar Blade foi analisado no PlayStation 5 por meio de uma cópia antecipada disponibilizada pela PlayStation.