A emocionante trajetória de Addison, um pilar da publicidade de Hyrule
Videogames nos apresentam algumas das mais belas e cativantes histórias já concebidas pela mente humana. Nelas vemos vários protagonistas icônicos, vilões extremamente carismáticos e coadjuvantes de peso, que povoam listas de melhores personagens dos jogos há décadas. Tudo isso é sabido e, felizmente, muito bem documentado.
Mas muitas figuras relevantes no processo de empilhar os tijolos do castelinho dos jogos eletrônicos ficaram pelo caminho, sem o mesmo destaque. São os chamados NPCs, personagens não controláveis, que nos fazem companhia das mais diversas maneiras. Pode ser o balconista de uma loja, uma espadachim derrotada no deserto ou a capivara que foi capturada e ficou no Box 1 do computador durante toda a jornada, não importa. Qualquer figura que também tenha feito parte dessa história.
Leia mais
- Pérolas da 10ª Arte – Shaq Fu
- Pérolas da 10ª Arte – Street Fighter 2010: The Final Fight
- Pérolas da 10ª Arte – Street Chaves: O Lutador da Vila
É para reconhecer a contribuição inestimável desses personagens que estou começando, aqui na Game Arena, a coluna Vida e Obra, que tem a crucial missão de jogar holofotes no brilhantismo que foi ofuscado por personagens de papel central. E, para estrear esse espaço, hoje temos ele, um dos maiores gênios da publicidade, o funcionário devoto das planícies e montanhas de Hyrule: Addison, o apoiador de placas de The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom!
Quem é Addison
Addison é um dedicado funcionário da Hudson Construction, empresa de construção civil que leva o nome do fundador, Hudson, também idealizador da cidade de Tarrey. Addison pode ser considerado o empregado mais dedicado da empresa, ou, pelo menos, a pessoa mais devota à figura do chefe que Hyrule já conheceu.
A função de Addison é ajudar a expandir e divulgar a empresa para a qual trabalha, espalhando placas com o rosto de Hudson por todos os cantos de Hyrule. Seria uma tarefa bem pesada por si só, mas há um agravante: por estar sozinho na missão, o esforçado panfleteiro não consegue equilibrar as placas de pé, para então reforçar o apoio delas no solo. Cabe ao rapaz ficar agarrado aos anúncios de madeira, como quem está tentando manter firmes os alicerces da própria vida, o verdadeiro propósito da existência concedida pelas deusas.
A única esperança de Addison está na possibilidade de, talvez, receber ajuda de um herói lendário escolhido pelo destino. Alguém que, por ventura, tenha recebido os poderes de um povo ancestral pra controlar e agregar objetos, construindo algo capaz de manter as placas de pé mesmo sem o apoio do franjudo. Tudo para lidar com o mesmo problema ao precisar fincar o anúncio seguinte a quilômetros de distância dali.
Addison vive uma versão publicitária do castigo de Sísifo.
Uma breve biografia
O trabalho de pesquisa para apurar a idade e as origens de Addison é ingrato, dada a dificuldade do rapaz de abordar outros assuntos que não envolvam o emprego. Mas parece seguro supor que, assim como Hudson, ele nasceu e cresceu na vila de Hateno, na zona leste de Necluda. Rumores apontam que ele aprendeu a ficar de pé agarrado ao pé de um berço de madeira, alimentando desde cedo o talento para ficar abraçado por horas a objetos inanimados.
O primeiro brinquedo que Addison ganhou dos pais foi o famoso “Caiu Perdeu”, uma torre de blocos de madeira com a qual o objetivo é ir retirando peças sem derrubar a estrutura toda. O presente foi um grande trauma na vida de Addison, que se recusava a brincar e achava mais seguro apenas ficar abraçado com a caixa fechada pois, dessa forma, a torre jamais cairia.
Já adulto e funcionário contratado pelo setor de publicidade e propaganda da Hudson Construction, Addison viaja o mundo aprimorando também os dotes culinários. O rapaz é ótimo com receitas de bolinhos de arroz, sempre testando novas possibilidades, e disposto a compartilhar os quitutes como forma de demonstrar gratidão e consideração pelas pessoas.
O legado
Addison representa, através de sua dedicação e paixão pelo trabalho, um exemplo de que é possível se sentir feliz e realizado com coisas simples, quando temos a oportunidade de exercer a nossa real vocação. Mas, para além disso, o caso dele evidencia também os problemas da precarização do trabalho e os malefícios que o ramo publicitário pode trazer para a saúde mental e física das pessoas, assim como os riscos de romantizar e idealizar a figura do chefe. Poderíamos dizer que ninguém veste a camisa da empresa como ele, mas isso seria inacurado, pois costuma vestir apenas um colete aberto com algumas bandagens na barriga.
Para os videogames, Addison representa uma revolução no conceito de personagem de suporte. Sempre entendemos esse arquétipo como o integrante da equipe que fica responsável pela cura ou proteção dos aliados durante o combate. Essa se provou uma visão bastante limitada, agora que conhecemos, enfim, um verdadeiro personagem de suporte – literalmente.
Fica a torcida de toda a equipe da Game Arena para que os esforços de Addison sejam reconhecidos e o nome fique gravado nos livros de história de Hyrule, como o herói sem capa que enfrentou todos os obstáculos e variações climáticas por um ideal, mesmo que esse ideal seja um anúncio de madeira, com a pintura de um tiozinho de bigode.
E que ele receba um aumento, pelo amor de Hylia!