Mônica já lutou com monstros e o Capitão Feio na época do Master System
Houve um tempo em que o mercado de games funcionava de formas muito mais simples. Sem tretas entre Sony e Microsoft por causa da compra de um estúdio, ou discussões sobre remakes sendo feitos para substituir jogos antigos – até porque, naquela época, esses aí eram conhecidos só como “jogos”. A gente era moleque, e só queria saber qual o cartucho que iria conseguir jogar, fosse pegando emprestado, indo na casa de um amigo, presente de aniversário, o que fosse.
E o Joias Perdidas de hoje fala sobre essa época. Dentro e fora dos games, hoje é dia de falar de Maurício de Souza, de Wonder Boy e de como esses tempos eram mais simples – o que não significam melhores – com Mônica no Castelo do Dragão.
Leia mais
- Joias Perdidas: The Minish Cap, um The Legend of Zelda, desenvolvido pela… Capcom?
- Jóias Perdidas: Mario & Luigi: Superstar Saga, 20 anos e ainda escondido do mundo
- Jóias Perdidas: Dragon Ball Z: Super Saiya Densetsu é mais fiel que Budokai Tenkaichi
Esse texto vai ser bem longo, e eu já peço desculpas para os que preferem as notas curtas. Mas é uma parte importantíssima da vida de uma parcela considerável de uma geração que viveu a transição do mundo para a era da Internet. Da geração que ainda tinha como brincar na rua, mas que, muitas vezes, trazia a turminha pra dentro de casa, pra mostrar o jogo novo, enquanto uma galera acompanhava, transformando o sofá numa arquibancada, e descobrindo, impressionada, o que hoje a gente vê como “simplicidade”.
E o sentimento mais legal era de quando a gente ligava o Super Nintendo, o Mega Drive, e pintava na tela um boneco que a gente já conhecia. Nunca vou me esquecer de quando ganhei Castle of Illusion, o port para Master System mesmo, era o console que eu tinha na época, e, quando liguei, descobri que era um jogo do Mickey. Eu devia ter meus 3 anos na época, mal sabia o que estava fazendo, meu pai fazia mais coisas no jogo que eu, mas lembro da felicidade por controlar o ratinho Valdisney naquele belo plataforma.
Mas nada me trouxe mais empolgação do que o dia que eu ganhei Mônica no Castelo do Dragão. O primeiro dos dois jogos das criações de Maurício de Souza para o sistema 8-bits da SEGA foi um verdadeiro marco na minha vida. E acho que tudo o que faz o game ser muito mais marcante para mim – e, possivelmente, para outros coroas da minha geração, um abraço classe de 88 – era o quanto a Turma da Mônica era um retrato fiel da vida infantil pré-internet.
A parceria da SEGA com a Tectoy ajudou a popularizar e acessibilizar a cultura dos videogames no Brasil. Ter o Master System e o Mega Drive a preços menores, jogos com encartes e caixas em português, vendidos nas lojas mais populares do país – saudades Mesbla, inclusive -, o povo brasileiro passou a ter um sistema que cabia um pouquinho mais confortavelmente no bolso – 1500 cruzados novos na época, o que equivaleria a 540 reais hoje, o que equivale, mais ou menos, a 94 reais naquele tempo.
Mas faltava alguma coisa. Faltava uma identificação da população com o conteúdo. Os personagens, as culturas que eram mostradas, todas eram internacionalizadas, não tinham o jeitinho brasileiro. E foi quando a Tectoy teve a sacada: por que não um jogo da Turma da Mônica, possivelmente, no auge de popularidade dos quadrinhos? A Maurício de Souza Produções já ficava bem perto do escritório da empresa, então, o que faltava?
As autorizações, a base, a história, o jogo. Como fazer um game do zero, sendo que a SEGA não mandava kits de desenvolvimento para o Brasil? Como a Tectoy entregaria a turminha para os consoles? Foi quando um movimento curioso, mas muito bem recebido, ganhou força dentro da empresa. Buscar séries com personagens desconhecidos, reescrever a história do jogo e mudar os sprites.
Em 1987, a Westone, em parceria com a SEGA, lançou Wonder Boy in the Monster Land, o segundo jogo da série, e com boas reviews. Era um jogo divertido, havia um sistema de progressão para o personagem. Mas… faltava o carisma. E quem melhor do que Maurício de Souza para dar carisma para alguma coisa?
A fusão foi feita. Monster Land se tornou o Reino do Capitão Feio, a espada virou o Sansão, e os brasileiros, pela primeira vez, tinham um personagem querido nas mãos, para controlar a aventura de Mônica para acabar com a sujeira.
E não é que deu certo? Mônica no Castelo do Dragão é um plataforma com elementos de RPG, lojas de equipamentos, célebres frases de vendedores – afinal, vitamina ou suco? – grande variedade de inimigos e chefes de fase, tudo isso em um mundo no qual nunca se esperaria ver a menina do vestido vermelho, com inimigos jamais imaginados nos quadrinhos, mas que pareciam ter encaixado de forma perfeita.
O objetivo do game era passar pelas 12 fases, derrotando os chefes, que variavam entre fantasmas até a Medusa, conhecendo personagens que, muitas vezes, ajudavam na caminhada – forte abraço, Lili Jacaré, saudades! – e melhorando o equipamento, até o Labirinto Sem Fim, onde residia o Dragão. Tudo isso em fases diversificadas, em cavernas, mundos coloridos e com inimigos que também progrediam em força.
Os puzzles do jogo eram simples, mas eficientes. Achar portas secretas para uma nova loja, ou para encontrar as dicas para o labirinto final, havia um quê de exploração no game, que não era nem um pouco fácil, diga-se de passagem, mas também nada como um Cuphead. Era divertido, desafiador, e ver a Mônica empunhando um escudo, trucidando monstros tal qual ela fazia com Cebolinha e Cascão – na base da coelhada – era tudo o que essa geração precisava para, de vez, se identificar com essa nova cultura que chegava.
A ideia deu tão certo, que a Tectoy continuou a produzir jogos com mudanças de sprite. Chapolin vs. Drácula: Um Duelo Assustador, As Aventuras da TV Colosso, além da sequência dessa joia, Turma da Mônica em: O Resgate, ajudaram a fortalecer o Master System no imaginário popular (e render uns bons trocados para a mamãe do Pense Bem). Em 1992, o jogo foi adaptado para os quadrinhos, fechando o ciclo, na história Mônica contra o terrível exército do Capitão Feio.
Com esse movimento, a mescla da cultura das brincadeiras de rua começou a se ver refletida no mundo dos games. Mônica no Castelo do Dragão não é só um jogo feito em cima de outro jogo. É uma ode a uma das maiores obras infantis do país – se não a maior – para uma geração que, para sempre, vai sentir falta de uma infância que, no maior dos chavões, não era melhor, nem pior, apenas… diferente.
Eu sempre fui daqueles que gostou de ler quadrinhos. Mangás, HQs, e, obviamente, os gibis da Turma. Cebolinha, Cascão, Magali, Tina, Horário, Penadinho, todos fizeram parte da minha educação, e eu tive o prazer de dizer isso para o senhor, que, sem saber, me ensinou a ser uma pessoa um pouquinho melhor. E eu vou agradecer de novo. Obrigado, Maurício. Obrigado por fazer de uma geração que tinha tudo pra dar errado um pouco melhor.
A Game Arena tem muito mais conteúdos como este sobre esportes eletrônicos, além de games, filmes, séries e mais. Para ficar ligado sempre que algo novo sair, nos siga em nossas redes sociais: Twitter, Youtube, Instagram, Tik Tok, Facebook e Kwai.