Na segunda parte da entrevista exclusiva com Danylo ‘Kingrd’ Nascimento, que anunciou sua aposentadoria do Dota 2 e assumiu a função de treinador do time da Legacy, o agora ex-jogador abordou outros assuntos interessantes.
O primeiro deles, o cenário brasileiro e a quantidade de brasileiros atuando fora do Brasil. Kingrd apoia o movimento dos jogadores e revela arrependimento por não ter feito isso antes.
“Eu falo há uns dois, três anos que a gente já devia ter feito isso. Sinto que devia ter aproveitado mais oportunidades, já tive oportunidade também de fazer a mesma coisa. Algumas eu não deixei. Mas, realmente, sinto que o cenário brasileiro não cresceu tanto, como a gente tem muitos bons jogadores, acho que eles estão certos. Essa, infelizmente, é a realidade.”
“Montar um time full brasileiro é uma coisa que é risco, só que a evolução é totalmente diferente, o ambiente também. Eu sinto que, como tem muitos jogadores experientes e bons, quando surge essa oportunidade, é difícil falar não. Você pode contar nos dedos o máximo de jogadores cheio que temos no Brasil são, 10, 15 no máximo.” – Afirmou.
Sobre o futuro, Kingrd acredita que o movimento de jogadores fora do país crescerá ainda mais, já que, no nosso país, as coisas são difíceis para o fã de Dota: “Não sei como vai ser o futuro, mas eles estão certos em tomar essa atitude, como a gente não tem muitos investimentos no Brasil, o cenário aqui não é tão grande, porque a Valve tenta mais focar internacionalmente, essa é a certeza deles. Isso tende a continuar, e eu acho que esse é o futuro para os brasileiros. E hoje em dia, muitos brasileiros que estão lá fora estão mostrando muitos resultados bons.”
Kingrd revela que, quando atuava como jogador, tinha um certo preconceito e jogar ao lado dos peruanos. Hoje, como coach da Legacy, rasgou elogios ao talento dos garotos sul-americanos.
“Os peruanos, por exemplo, a comunicação é sensacional, a gameplay deles também. Sinto que já devia ter feito isso há muitos anos. Porque eu tinha aquele preconceito, não vou mentir. Tem alguns peruanos muito bons, só que eu não conhecia todos… Que arrependimento. O moleque de 17 anos comunica muito. Ele consegue falar bastante no meio do jogo, um midlaner novo, com essa mentalidade de saber comunicar, pensa assim, no Brasil não teve um cara assim, além do 4nalog.” – avaliou.
Por fim, Kingrd acredita que isso se deu porque o Dota é um jogo que tem uma curva de aprendizagem muito grande, além de estar em constante mudança: “O Dota é muito difícil, eu como jogador que já estou há muito tempo, tem coisas que eu não sei ainda, tenho que aprender todo dia, analisando tática e tudo mais. Você joga um jogo que lança patch, todo mundo está jogando com um herói novo. É um jogo de coisas diferentes, fazendo itens diferentes, se movendo para o mar diferente, é muito dinâmico. É um jogo que você precisa estar 100% encaixado com a sua gameplay.”
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Mudanças no The International
Kingrd também falou a respeito sobre as polêmicas mudanças da Valve no The International, principal campeonato de Esports do planeta. Ele revela que, na edição de 2023, quando ele fez história com a equipe da Vivo Keyd Stars, os jogadores que participaram do torneio estavam desanimados em Seattle.
“Fico muito triste, porque além de participar de um TI que realmente é uma coisa muito grande, tinha tudo, participei do outro e não tinha nada. E, além, assisti todos os jogos também, ao longo do tempo. Sinto que, não sei o que a Valve quer tomar com essa decisão, mas muitos jogadores, inclusive quando eu estava nesse TI, com a Vivo Keyd, já falaram que o TI ia ser esse aí. Ninguém estava animado para o TI, todo mundo já falava que o grande foi o Riyadh Masters.” – revelou.
Em comparação a sua primeira participação no TI, na edição de 2018, Kingrd conta que era tudo diferente do que foi antes e que, hoje em dias, os jogadores estão preferindo disputar o Riyadh Masters: “Quando fui no primeiro TI, a OG que foi campeã, com aquele timaço com anA, Topson, n0tail… Tinha uma arena lotada, era um ambiente que você se sentia privilegiado e todo mundo se animava para o TI. Ano passado, me questionei. Muitos jogadores já falam isso, e eu sinto que o Riyadh Masters, hoje em dia, todo mundo tá mais animado para ele do que para o TI. E hoje em dia, entre escolher os dois, eu prefiro ir para o Riyadh.”
Sobre a edição de 2023, Kingrd revela que Gabe Newell, fundador da Valve e da Steam, não estava presente no torneio e nem sequer teve a sua tradicional aparição pública na competição.
“Não sei qual é o objetivo da Valve com isso. Eu não sei se eles ficam satisfeitos com isso, mas quando eu participei agora, também vi que era uma coisa que não era um ambiente que você deseja estar lá. Porque o jogador de Dota, os mais velhos, sempre sonharam em participar do TI. Ficou uma coisa muito grande, esse é o objetivo de todo jogador.”
“Todo mundo se prepara para esse torneio, ninguém quer saber de nada. Teve uma época que era isso, se eu perder o ano todo, ficar em último, mas ir para o TI, não importa. Era um sonho de geral tá lá. Chega no Gabe na arena, welcome to the Dota, welcome to The International… O Gabe nem tava lá quando eu fui ano passado.” – contou.
Relação com FalleN
Perguntado sobre a sua relação com Gabriel ‘FalleN’ Toledo, astro do Counter-Strike 2 brasileiro, Kingrd, que já foi garoto propaganda da Fallen Gear, conta detalhes de como é o seu contato com o professor.
“Eu converso com ele, hoje em dia não muito, mas toda vez que ele está em São Paulo, ele me chama para jogar um Dota. Eu já joguei bastante com ele, tenho uma intimidade, conheci a família dele. Vejo o FalleN com o maior respeito, mesmo a gente seja de jogos diferentes, mas é um cara totalmente líder. Vejo ele jogando hoje em dia na FURIA, sinto que ele está no alto nível ainda.” – detalhou.
Kingrd revela que, inclusive, já encontrou FalleN na Europa quando esteve no velho continente para os compromissos do Dota: “Um cara totalmente empreendedor, e eu o admiro bastante. Mesmo que a gente fique um tempo sem se falar, quando conversamos, trocamos ideia e jogamos um Dota juntos. Mas sinto que tenho uma amizade muito grande com ele, ele acompanha nossos times, também acompanho ele. A já até se esbarrou, em torneios e bootcamps.“
Finalizando a entrevista, Kingrd rasgou elogios a família Toledo e, em tom de brincadeira, revelou que FalleN afunda nos lobbys de Dota 2.
“Por ele ter a sua história no CS, e eu ter a minha história no Dota, a gente sempre teve essa amizade com olhar de admiração. Sinto que ambos têm uma admiração pelo outro, fico feliz com isso, o FalleNzão é sensacional. E pude conhecer bastante da história dele, da família dele, dos irmãos dele. Só que às vezes, ele afunda no Dota, mas normal, né? Ele não foi feito para isso.” – concluiu Kingrd, em tom bem-humorado.
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