Uma das carreiras mais longevas do Dota 2 brasileiro chegou ao fim na última semana. Danylo ‘Kingrd’ Nascimento, aos 32 anos, encerrou uma carreira que já durava 11 anos como profissional. Em um breve tweet, ele anunciou para os seus fãs que não atuaria mais como jogador do MOBA da Valve.
A decisão veio logo na sequência de ter sido anunciado como treinador do time da Legacy. Falando pela primeira vez a respeito da aposentadoria, Kingrd deu exclusiva a Game Arena e disse que foi perdendo a vontade de se dedicar ao jogo ao longo dos anos.
“Na minha carreira, quando comecei a jogar Dota, pensei muito que eu ia jogar até uns 28, 29 anos, porque tinha a base do que acontecia no LoL brasileiro. No Dota, não são muitos jogadores que aposentam tão cedo assim, nem tão tarde. Foi acontecendo aos poucos, saber se vale a pena ou não. Mas comecei a perceber, como me conheço muito bem, que eu tinha vontade de jogar dez horas de Dota por dia.
“Queria continuar jogando torneios, não queria ficar jogando todos os dias ranked de Dota. E sentia que essa era uma coisa que começava a me afetar. Já que não quero pubar todo o tempo, você continuar jogando profissionalmente assim, você não se dedica 100%. ” – afirmou o jogador.
Apesar desse sentimento, Kingrd era movido pela competitividade, de estar constantemente disputando torneios. Após a participação história no TI 2023, levando um time brasileiro ao main event pela primeira vez, ele viu o cenário mudar e novas coisas acontecerem em sua vida.
“Gostaria de estar treinando e tudo mais, sinto que ainda queria fazer parte da comunidade e trabalhar em torno com Dota. Como acabou o time da Vivo Keyd no ano passado, fiquei uns 5, 6 meses sem fazer muita coisa. Participava algumas vezes de coach com os amigos, comecei a pubar menos, fazer stream uma vez ou outra… Eu já não tinha essa vontade mais.”
“E a partir do momento que não tinha essa vontade, comecei a perceber que era o fim, mas ainda queria fazer parte do cenário Dota. Eu sabia que era o certo, mas, ao mesmo tempo, sentia vontade de jogar torneios. Então, foi meio complicado. Mas o certo, na minha cabeça, que eu pensava em parar já no começo do ano. Era para ter falado que não ia jogar mais, só que demorou 5 meses.” – contou.
Entre essas novas coisas, a função de treinador, tendo a sua primeira experiência na função: “Quando a gente fechou com a Legacy, a Legacy postou o anúncio do time e tudo mais, eu ainda não postei no primeiro dia, porque fiquei em dúvida, sem saber se era isso mesmo que eu queria, porque foi uma decisão difícil. Depois, comecei a perceber o que eu fazia, como era meu trabalho de coach pela primeira vez com novas pessoas. E percebi que gostava de fazer isso.“
Finalizando o assunto aposentadoria, Kingrd acredita que a sua experiência de mais de uma década de carreira lhe ajudará a ser um grande treinador no futuro.
“Tenho muito tempo no Dota, minha experiência é muito grande. Comecei a enxergar que me dava bem com isso, eu sei fazer isso, tem algumas coisas que eu preciso melhorar ainda, acho que o grande problema talvez seja a minha comunicação, o jeito de falar, porque quando você é jogador é uma coisa, sendo um coach é outra.”
“Quando eu era jogador, falava umas merdas, deixava a minha emoção subir. Agora, como treinador, eu preciso saber como preparar uma equipe, mostrar minha experiência, mas não extrapolar. É totalmente diferente, mas em relação à experiência de Dota, eu sinto que agrego muito.” – concluiu.
LEIA MAIS
- Dota 2: Valve anuncia novo herói Ringmaster e libera Compendium para TI2024
- Dota 2: Puppey, após reformulação da Secret: “Acreditem em mim”
- Dota 2: Kingrd anuncia aposentadoria de sua carreira
Entrada da Legacy no cenário
Abordando o assunto Legacy, Kingrd vê com otimismo a entrada da organização no cenário de Dota 2, pois ele acredita que dead e companhia conhecem bem o quão diferente é o competitivo do MOBA da Valve, que precisa de projetos a longo prazo.
“Tenho muita amizade com o dead, também conheci outros sócios. E a grande dificuldade que muitas organizações não entendem é que o Dota é uma coisa a longo prazo. Se você formar um time durante um ano, é muito difícil você evoluir nesse tempo. Só se o time for muito perfeito, muito bom e dar resultado. Tem que ter investimento. E como a gente é diferente de outras modalidades, a gente joga muitos torneios de casa, cada um na sua, e já jogamos torneios da Europa daqui. É totalmente diferente de todos os outros jogos.” – analisou.
O novo coach afirma que a equipe ainda passa por alguns ajustes, principalmente com a falta dos peruanos no Brasil, mas que as coisas irão se acertar no futuro para que o time continue evoluindo visando o TI 2025.
“O principal ponto que a Legacy entendeu como funciona e conseguiu montar um projeto que vai funcionar com o time. Espero que tudo dê certo, a gente vai fazer um projeto bacana. Vamos tentar trazer os peruanos para cá, porque isso aí é uma dificuldade que a gente tá tendo hoje em dia. A gente não consegue jogar todo mundo no servidor europeu e nem treinar no servidor europeu. Uma coisa boa para evoluirmos a curto prazo é todo mundo estar jogando e treinando no servidor europeu.” – afirmou Kingrd.
Um desses pontos de evolução é manter a equipe presencial em alguma cidade do nordeste brasileiro, para que os jogadores atuem nos servidores europeus: “Como a gente teve muita conversa, eles entendem que não adianta a gente ir para São Paulo, a gente não vai conseguir treinar. O bom de a gente ir para Fortaleza ou no Nordeste é que a gente consegue, fazer bootcamp. Na época da Keyd, treinamos só contra o time europeu. Outra coisa é que sinto que não agrega muito a gente aprender treinando contra os times sul-americanos, não conseguimos evoluir.”
Expectativas para o time
Falando agora sobre o time da Legacy, Kingrd revela que esse é o primeiro contato dele com players peruanos e se surpreendeu com um ambiente mais harmônico no time.
“Na época que a gente começou a trabalhar no projeto, só conhecia o fcr e o hyko. Com os peruanos, é a primeira vez interagindo. Eu sinto que quando comecei a ver pessoalmente, o ambiente que os caras jogam, como eles se preparam, senti que somos um time muito bom. Temos uma mentalidade muito diferente dos times que já trabalhei. É uma vibe mais suave. Já tive times, era dedicação 100%, uma coisa mais séria, não tinha aquele sentimento de tem que ser assim. Ali é um ambiente mais tranquilo e de conversa e de amizade.” – relatou.
Kingrd vê o time da Legacy com grande potencial para o futuro, já que formou uma lineup da nova geração, com jogadores bem jovens. Ele ainda faz uma avaliação pessoal das coisas que precisa melhorar para extrair o melhor dessa equipe.
“Acho que o projeto da Legacy é muito bom, porque tem três pessoas que são muito novas. Tenho três moleques de 17 anos, mais três que são 23, 24 anos. Então, é a nova geração do Dota. Só tem o mais velho. Se eu conseguir implementar o meu projeto, o que eu penso de Dota, a gente tem muito futuro.”
“É uma coisa que estou tentando trabalhar aos poucos. Eu não tenho aquela comunicação espanhol ainda, melhorei bastante no meu inglês, mas nunca tentei trabalhar o espanhol. É algo que peco bastante hoje em dia. E a dificuldade que tô tendo no começo é só essa mesmo. Tô me adaptando também.” -avaliou.
Concluindo a primeira parte da entrevista, Kingrd elenca os objetivos que ele e a Legacy precisa para evoluir visando a próxima temporada do Dota 2.
“Esses caras estão juntos há seis meses. Tentei ver como é o ambiente, analisar mais, ver como eles se comunicam, como eles projetam. Tentei mais chegar aos poucos, entendendo e passando minha visão. Como jogador, tive muita experiência dos coaches que eu tinha atrapalhavam. Eu não quero fazer a mesma coisa, não estou chegando e mudando tudo.”
“Agora vamos ter mais tempo no período do TI, vai ser já bom tempo para mostrar o que realmente acho depois de estar muito tempo analisando e vendo que algumas coisas não dão certo. Esse é o meu objetivo atualmente.” – finalizou Kingrd.
Na segunda parte da entrevista, que vai ao ar nos próximos dias, Kingrd falou sobre o cenário brasileiro de Dota 2, novo formato do The International e sua relação com Gabriel ‘FalleN’ Toledo, astro do Counter-Strike 2.
Se você gostou deste conteúdo em texto, veja também nossos vídeos. Neste aqui, falamos um pouco mais sobre a origem dos esports, confira: