Só mais uma peripécia de Hideo Kojima em Metal Gear…
Rio de Janeiro, outubro de 1999. Pedrinho Scapin, aos oito anos, podia se considerar um menino de sorte, pois os pais dele eram donos de uma locadora de filmes no pequeno bairro do Caonze, em Nova Iguaçu. Passava boa parte do dia após a escola comendo biscoito me esbaldando em sessões e mais sessões de cinema com as fitas de desenho da época. Mas também gostava de levar meu PlayStation para continuar jogando Crash ou Captain Commando, já que ainda era muito novo para ficar sozinho em casa.
Até que, em um dia qualquer, um cliente/amigo da família chegou no estabelecimento para efetuar a devolução de suas locações, e me viu superando os obstáculos com meu marsupial favorito. Sorrindo, ele me chamou e disse que o filho dele também tinha um PlayStation, mas que gostava somente de um jogo. Um tal de Metal Gear. Na época, não fazia ideia do que era, fingi que parecia maneiro, e voltei a pular e rodopiar com Crash. Antes de ir embora, o cidadão se despediu de mim, e prometeu me dar uma cópia de Metal Gear na próxima vez que viesse à locadora.
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Semanas se passaram até que finalmente ele retornou e, cumprindo a promessa, chegou com um embrulho quadrado nas mãos. Ávido, rasguei o papel de presente e me deparei com uma capa branca, simples, com apenas um texto em vermelho que parecia gritar comigo: Metal Gear Solid Tactical Espionage Action. Naquela época, como já estava no meu terceiro ou quarto ano do curso de inglês, pesquei mais ou menos que se tratava de um jogo de espião, e, filhote de locadora que era, sabia tudo sobre James Bond e os filmes de 007, então achei que o tal Metal Gear devia ser algo nesta linha.
Ao abrir a caixinha do jogo, para minha surpresa, haviam dois discos lá dentro, algo que eu nunca tinha testemunhado até então na minha experiência gamer. Por algum motivo fiquei encantado com aquilo, tanto que só abracei o amigo dos meus pais em agradecimento pelo presente, mas nem por um instante pensei em perguntar se tinha algum esquema ou macete para a utilização dos CDs gêmeos. Não perdi tempo e já coloquei o primeiro no PlayStation e comecei a jogar.
Metal Gear Solid é um jogo um tanto quanto complexo, com algumas situações que requerem bastante sagacidade e sapiência para superar certos momentos da história. Principalmente para uma criança de oito anos. E, apesar de me considerar bastante inteligente, é claro que fiquei travado na lendária batalha contra Psycho Mantis. Como que um ser humano ainda em desenvolvimento iria saber que precisava trocar o controle de entrada no console. Injuriado, com o controle inerte nas mãos, esperneei por ajuda dos meus pais, mas é claro que eles não tinha ideia do que fazer. Por algum milagre divino, arranquei o DualShock do PlayStation e, aos berros, o coloquei de volta, porém no slot do Player 2, e assim pude dar sequência à luta.
Mas, se no episódio com Psycho Mantis, as forças divinas me guiaram, mais à frente na história, após derrotar Sniper Wolf, e me encontrar nas escadas frias de um prédio, fui recebido por uma tela alienígena para mim naquele ponto da vida: “Insert Disc 2”. Sem saber como proceder, mas seguro pelo save recente que havia realizado depois da boss fight, desliguei o PlayStation, abri a tampa, e, seguindo as instruções, inseri o disco 2 no console. Com tudo pronto, reiniciei a máquina e ao invés de voltar à escadaria gelada, Metal Gear simplesmente me saudou com um “Insert Disc 1”. Fiquei maluco, confuso com as demandas aparetemente sem sentido do jogo.
Mais uma vez busquei ajuda dos meus pais, e pedi que eles ligassem para o amigo que me deu Metal Gear de presente. Porém, como era uma sexta à noite, e a locadora só voltaria a abrir na segunda de manhã, não havia como conseguir o telefone do rapaz no final de semana. Foram dias de tortura, tentando conseguir resultados diferentes repetindo o mesmo processo de Inserir Disco 1, Inserir Disco 2, quase uma piada de mal gosto sobre o “Tira casaco, bota casaco” de Karate Kid. É claro que nada mudou.
Na segunda-feira seguinte, já acordei acelerado, pedindo aos meus pais que fossem abrir a locadora mais cedo para pegar o telefone e ligar pro cara. Lógico que os adultos, como criaturas sem coração que são, me ignoraram e fizeram que eu esperasse mais algumas horas. Somente depois do almoço tive um retorno, e finalmente descobri que eu não deveria desligar o console, e, contrariando todos os ensinamentos e as crenças, que me alertavam sobre abrir a parte do CD do PlayStation com ele ainda ligado, era literalmente este o processo para concluir a missão de Insert Disc 2.
E assim, resolvi o maior enigma de Metal Gear Solid. Segui com a história, derrotei o REX, arrebentei o Liquid, salvei a Meryl, e construí, ao final disto tudo, uma relação de amor fortíssima com a franquia, jogando sempre e repetidamente todos os lançamentos posteriores. E já me encontro contando os dias para a chegada da Master Collection, em outubro, para mergulhar de novo na nostalgia do papai Kojima.