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TBT: Enter the Matrix e o telefone de outra dimensão

Matrix quase me matou e eu posso provar Rio de Janeiro, algum momento da linha do tempo em 2005. O...

TBT Enter the Matrix

Matrix quase me matou e eu posso provar

Rio de Janeiro, algum momento da linha do tempo em 2005. O adolescente Pedro Scapin mais uma vez passava uma tarde calorenta da Cidade Maravilhosa na locadora de filmes dos pais.

Estava sendo um dia modorrento e sem graça, e eu estava literalmente empilhando moedas para passar o tempo. Foi então que um cliente apareceu para devolver uma fita, e, um pouco agitado, comentou que eu não deveria ver aquele filme, era bem pesado. Sem muito interesse, dei baixa no processo de devolução e deixei a caixa do VHS em questão sobre o balcão de atendimento.

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Quando fui guardar o filme no estoque, a caixa abriu sozinha e a fita quase se espatifou no chão. Não fossem meus reflexos de Peter Parker, seria um belo esporro a se tomar dos meus pais. Ainda portando um leve sorrisinho de quem testou os pulsos para a presença de teia, resolvi ser rebelde e não seguir os conselhos do cliente que havia me alertado sobre aquele filme. Era “O Grito”, e, naquela época, estava na fase de “eu vejo tudo de terror, sou muito corajoso” pela qual todo adolescente um dia passa.

O Grito

Aproveitando a ausência dos meus pais, coloquei o ar-condicionado no cool, apaguei as luzes da locadora, peguei um pacote de Trakinas meio a meio de chocolate branco e preto, e dei play no Grito. No início, tudo estava ótimo, o biscoito uma delícia, o ambiente fresquinho, e o filme bem interessante.

Mas tudo mudou quando Kayako começou a passar a lambida nos japoneses, e aquele barulho insuportável que ela faz fincou uma base na minha cabeça. Um gargarejo sufocado que me deixou fixado na tela. Tanto que não percebi que uma sombra crescia às minhas costas, e logo uma mão tocava minha nuca…

Era meu pai, que aplicou um pescotapa em mim para me tirar do transe e descambar numa sequência de “você não tá aqui de hobby, desliga esse ar-condicionado que eu não sou sócio da Light, e tomara que ninguém tenha roubado nada da loja enquanto você estava de costas vendo filminho”. Falei que seria um esporro colossal, né?

Pois bem. Com o retorno do meu pai, peguei minha bicicleta e pedalei de volta para casa ainda meio perturbado pelo Grito, e resolvi ligar o Play 2 para distrair a cabeça. Naquela época, estava bem viciado em Enter the Matrix, e nos filmes da franquia, também, é claro.

O jogo era algo sensacional pra mim, com um gameplay absurdo de luta e tiroteio, sem falar na mecânica de desacelerar o tempo, icônica nas desviadas de bala do Neo. Kayako era coisa do passado. Ou foi o que pensei…

Enter the Matrix

Por volta das 20h, completamente sozinho em casa, fui surpreendido pelo toque do telefone e dei uma pausa no Enter the Matrix. Eram tempos de aparelhos fixos, de fio, então tive que dar uma leve corrida para conseguir atender. Quem dera não o tivesse feito. Com um “alô” esbaforido, ouvi apenas estática do outro lado na linha.

Mas não a comum que normalmente era parte de um problema de conexão. Os sons emitidos eram guturais, uma mistura de voz humana com algo além. No meio do chiado desesperador, distingui algumas palavras, e fui completamente dominado pelo horror da situação.

Incapaz de gritar, olhei em volta e o reflexo de um espelho próximo revelou que minha boca havia sumido. No telefone, as vozes do Agente Smith e de Kayako se tornaram uma só, e ela falou: “Do que adianta um telefonema se você não consegue falar?”. Mas a última palavra se transformou, lentamente, naquele gargarejo maldito que até hoje me assombra.

Tomado pelo pânico, deixei o telefone cair e se estilhaçar no chão. Subi as escadas em disparada, esfregando a boca desesperadamente tentando novamente abri-la. Me tranquei no banheiro, abri a torneira e, ao jogar água no rosto, senti que estava sufocando, meus lábios, de volta, arreganhados em um berro silencioso, e tossi para me livrar da piscina que se formava em minha garganta.

Pingando água pelo corredor, voltei ao meu quarto e a TV na qual estava jogando Enter the Matrix estava com a tela totalmente coberta por uma coloração esbranquiçada, leitosa, e conforme eu olhava, a cena mudava, saindo de um zoom bem fechado, e, aos poucos, revelando uma boca deformada e olhos pavorosos a me fitar. Saí correndo novamente, desta vez para o quintal, e fui recebido por uma chuva torrencial de verão. Ensopado, passei as mãos no cabelo para tirá-lo do rosto, e senti outros dedos respondendo ao toque. Aos prantos, caí no chão de olhos fechados.

Meus pais chegaram da locadora e viram a grotesca cena que se desenrolava na casa. Assustados, me levaram de volta para o interior, e usaram uma toalha para me secar. Até hoje não consegui contar a eles o que realmente aconteceu naquele dia. Nem voltei a assistir O Grito. E nunca mais pus as mãos em Enter the Matrix ou qualquer filme da franquia.

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