Em nosso dia a dia na redação do Game Arena, me foi repassada a missão de realizar a análise de Senua’s Saga: Hellblade II do aclamado estúdio Ninja Theory. Como proprietário de um Xbox Series X, me senti na obrigação quase que moral de cumprir essa missão.
Rapidamente, segui para o primeiro Hellblade para relembrar e finalizar a aventura inicial de Senua (confesso que joguei, mas nunca finalizei). A expectativa com o jogo original era alta e acabei adorando a experiência, apesar de várias ressalvas e pontos a reclamar.
Após finalizar o primeiro game, parti para sua sequência por meio do acesso antecipado, liberado pela Xbox.
Toda a comunidade gamer aguardava com entusiasmo a sequência de Hellblade. Alguns dos motivos incluem o fato de ser o mais novo lançamento da Ninja Theory; enquanto outros aguardam o game por ser um AAA exclusivo do Xbox (também disponível no Game Pass). E com a turbulência causada pelos recentes fechamentos de estúdios por parte da Microsoft, talvez este seja o canto do cisne do estúdio britânico.
Sejam quais forem os motivos, a grande expectativa dos fãs para Hellblade II é real e faz do título um dos mais aguardados do ano. Por isso, assim como foi o primeiro jogo da série, a nova jornada de Senua é um “salto de fé” do estúdio, que traz uma nova experiência de jogo e narrativa com o objetivo de agradar a gregos e troianos.
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Uma nova jornada ousada da Ninja (Theory)
Em questão de jogabilidade, o game segue como uma sequência direta de Senua’s Sacrifice. Todos os principais elementos que compuseram o primeiro jogo estão aqui, só que melhorados.
Seguimos ao lado de Senua em sua luta por sobrevivência após a mesma ser capturada por escravagistas nórdicos. Após o naufrágio no navio de escravos onde se encontrava, Senua é jogada em meio a uma terra devastada, com supostos demônios interiores e exteriores atormentando sua mente e, às vezes, guiando seus passos.
Assim como no game anterior, a jornada segue por uma identidade própria, já que Senua possui transtornos mentais como psicose, esquizofrenia e vários outros. Para bem ou para mal, estas são suas forças e fraquezas.
No quesito de forças, são essas vozes que guiam a protagonista por sua jornada, com outras Senuas em sua mente guiando-a pela jornada de destruição e na luta pela sobrevivência.
Por outro lado, são os seus demônios interiores que geram os vários desafios, obstáculos e inimigos, conduzindo a protagonista por meio de dor e sofrimento, sempre mesclando-se aos perigos do mundo real.
Seguindo o mesmo modelo do primeiro game, é incrível como a Ninja Theory mescla a fragmentada personalidade de Senua com elementos visuais e sonoros de Hellblade 2, fazendo com que seus medos e ilusões façam parte do próprio cenário.
Não é apenas mais do mesmo no novo game, já que os desenvolvedores fizeram questão de utilizar várias das recursos mais modernos para melhorar ainda mais a imersão do jogador na mente distorcida da protagonista.
O game já recomenda de início que o jogador utilize fones de ouvido para uma maior imersão, com as vozes da cabeça de Senua atuando como companheiras e guias da jornada. É perturbador e incrível ao mesmo tempo a qualidade da dublagem, dando uma pequena simulação do que é realmente ter uma mente perturbada.
Os gráficos são excelentes, apesar de alguns elementos duvidosos na qualidade, a exemplo de partículas de poeira e luz ou a água do mar escurecida – elementos que parecem deslocados no cenário. Porém nada muito significativo e facilmente ofuscado pelo resultado final da Ninja Theory na composição dos cenários.
Ainda falando em questões gráficas, causa uma certeza estranheza lembrarmos que o game não possui compatibilidade com 60 frames por segundo. Capacidade para isso o Xbox Series possui. Mas mesmo com o argumento de que os 30 frames por segundo ajudam na narrativa, as batalhas do game são rápidas e poderiam aproveitar o potencial da atual geração (nada de nova, já que temos quatro anos desde o lançamento dos Series).
Siga as vozes de sua cabeça em Hellblade II
Assim como no primeiro game, Hellblade 2 não possui qualquer tipo de tutorial ou interface. Na verdade, tudo o que temos é apenas uma imagem com as instruções dos comandos no controle do Xbox.
É tudo intuitivo. Quem jogou o primeiro game, vai se sentir em casa (se isso é possível) com as vozes dispersas da mente de Senua atuando como guias. Além dos desafios impostos à protagonista, os diversos sons de choros, gritos e gemidos de dor causam uma agonia extrema, deixando o estresse dos desafios do game ainda maior.
Uma jornada por uma psique confusa, mas que possui um sentido e deve ser respeitada, definindo Senua como uma pessoa forte por enfrentar os problemas gerados por sua mente, e não o contrário.
O game é repleto de enigmas, que geralmente são elementos do cenário que funcionam como peças de quebra-cabeça para perturbar ainda mais a mente de Senua. Aqui temos a suposta representação de como a mente de alguém com transtorno mental funciona, gerando uma realidade que só eles entendem.
Por mais angustiantes que possam parecer, as vozes são elementos importantes de Hellblade 2, assim como no jogo antecessor. Porém, elas estão mais frequentes no novo jogo, surgindo em momentos cruciais durante o jogo.
Sim, é o principal. Elas são as verdadeiras guias e tutoriais do jogo. Confesso que sofri bastante em alguns quebra-cabeças, mas a vozinha ecoando no fundo do meu headset me deu a dica fundamental para a resolução do problema.
Em outro momento, a voz soltava altos gritos no lado esquerdo do fone durante os combates, mandando Senua prestar atenção nos sinais dos adversários.
As vozes já existiam no primeiro game, mas elas parecem mais vibrantes e vivas nesta sequência, funcionando ainda mais como personagens centrais da história principal de Senua.
Combates infernais, porém belos
Hellblade 2 leva Senua para combates contra fortes e robustos inimigos, muitas vezes bem maiores do que ela. Como não temos tutoriais no game, a Ninja Theory seguiu o padrão do primeiro jogo, tornando a ação bastante intuitiva.
Temos ataques rápidos, fortes, esquiva e bloqueios para utilizar durante os combates. Eles são simples e diretos, com o jogador precisando executar movimentos rápidos, além de saber dosar o uso de agilidade e força.
Vale reforçar que em vários momentos é necessário o uso do botão de foco em meio aos combates “sobrenaturais”, quando as perturbações da mente de Senua se mesclam com a realidade.
É o mesmo botão utilizado para visualizar melhor elementos dos cenários e quebra-cabeças, dando uma maior imersão do jogador dentro da mente fragmentada da protagonista durante os combates.
O visual das batalhas são impressionantes, mostrando o poder gráfico da Unreal Engine 5. Infelizmente, fica o questionamento da limitação para os 30 fps. Apesar da decisão dos desenvolvedores, podemos imaginar a possibilidade com combates em 60 fps.
Boa parte da beleza de Hellblade 2 tanto nos combates quanto no gameplay como um todo cabem também a excelente interpretação de Melina Jurgens em seu papel como Senua. Como joguei o primeiro título um pouco antes do segundo, conhecia a atuação da atriz apenas de vídeos e trailers.
Nunca soube que Melina era originalmente uma editora e especialista em fotografia da Ninja Theory. Meu queixo caiu com a atuação dela no primeiro jogo e minha mente explodiu com a sua interpretação em Hellblade II. Com certeza, uma forte candidata a melhor interpretação no The Game Awards de 2024.
Pequenos “problemas” ligados à escolhas criativas
Como mencionado fortemente pelos desenvolvedores, a jornada de Senua por diversos cenários conta uma história única e impressionante. Não temos caixas de textos ou cartinhas no chão para narrar os acontecimentos.
A jornada por si só conta a própria história, misturando a fantasia da mente complexa da protagonista com os elementos reais e pessoas do mundo externo. Com isso, temos um caminho bastante linear e amarrado, com pouco espaço para exploração como muitos jogos atuais. Pelo menos é o que pensamos no início.
Podemos explorar uma vila em ruínas ou um campo de batalha com vários elementos, mas temos apenas um único caminho a seguir. Muitas vezes, precisamos percorrer um caminho mais longo para resolver um quebra-cabeça, sendo que seria muito simples pular uma cerca ou escalar um montinho de pedras.
Apesar de mais “aberto” em relação ao primeiro jogo, Hellblade II ainda possui um caminho muito linear. Algo que pode espantar muitos jogadores, mas é uma escolha dos desenvolvedores que se repetiu, tudo para contar uma história espetacular de superação e perseverança.
Mas não pense que você seguirá uma jornada apenas do ponto A ao B no game. Você, Senua e suas inúmeras vozes são personagens centrais da trama recheada de elementos emocionantes e reviravoltas marcantes.
Com um pouco de paciência, o jogador se acostuma com a linearidade e mergulha de cabeça na narrativa envolvente do game.
Temos uma jornada ligeiramente curta, com uma média de 8 horas. Porém, cada minuto conta com emoções uma após a outra. O único momento de pausa é quando precisamos resolver os quebra-cabeças. Porém, as malditas vozes vão sempre te puxar novamente para a crueldade da realidade de Hellblade II.
Veredito
Senua’s Saga: Hellblade II consegue melhorar uma jornada que já era incrível. A Ninja Theory segue como uma grande desenvolvedora e trouxe mais uma obra prima em forma de jogo.
Mesmo que você já conheça Senua e sua jornada do primeiro Hellblade, vai se emocionar com a jornada da sofrida heroína por mais uma série de desafios, tanto do mundo real quanto da sua mente peculiar.
Temos novos quebra-cabeças, combates mais desafiantes e novos elementos narrativos proporcionados por melhorias gráficas. Finalmente, um jogo impressionante que pode marcar uma renovação para a imagem abatida do Xbox Game Studios.
Tudo graças a salvadora Senua e a Ninja Theory. Não mexa com eles, Microsoft!
*Review feita com cópia antecipada do jogo fornecida pela Microsoft para Xbox Series X.
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