Mais que uma homenagem, Sea of Stars divide prateleira com inspirações
Quando dizem que a imitação é a mais sincera forma de homenagem, certamente não conhecem Sea of Stars. O jogo da Sabotage Studio promete e entrega uma verdadeira ode aos RPGs de outrora, que não só serviram de inspiração para os desenvolvedores, mas formaram a fundação deles enquanto gamers.
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Sea of Stars bebe da mesma água de Chrono Trigger, nos embates acontecendo no mesmo local onde os inimigos são encontrados, sem transição para uma arena diferente, e da mesma fonte de Super Mario RPG, ao tornar o combate por turnos mais ativo, dando ao jogador a possibilidade de amplificar ataque e defesa com o apertar de botões sincronizados.
Mas o RPG da Sabotage também se inspira nos clássicos dos games para entregar uma experiência que é capaz de “marcar todas as caixinhas” na lista de um jogador que busca a mistura ideal entre história misteriosa e cativante, gameplay viciante, trilha sonora tipo chiclete e gráficos belíssimos.
A História
Em Sea of Stars, acompanhamos a história de Zale e Valere, as duas Crianças do Solstício, trazidas a Berçolunar por uma Grande Águia, para que fossem criados e treinados na Academia Zênite. Lá, após se formarem com glórias, a dupla recebe a missão de buscar uma audiência com o Nevoeiro Ancião, na Caverna Proibida, para “aprender a usar magia sem usar magia”.
No caminho, Valere e Zale reencontram o velho amigo Garl, 10 anos mais velho, e agora um cozinheiro guerreiro que passou o tempo em que os amigos estavam na Academia treinando na Caverna Proibida, e apesar de não ter poderes, é um forte guardião. Juntos, os três se reúnem com o Nevoeiro Ancião, escutam suas profecias, e descobrem que precisarão ir até a Ilha Espectral antes do próximo eclipse.
E é com essa fundação que a história de Sea of Stars se estabelece, mas não chega a ser a ponta do iceberg da campanha. Enquanto as Crianças do Solstício descobrem verdades e se tornam cada vez mais fortes, criaturas sombrias movem as peças do tabuleiro a mando dos grandes vilões da trama. Foram muitos os momentos em que fui completamente surpreendido pelo roteiro. Reviravoltas, traições, acontecimentos chocantes. Se eu fosse um emoji jogando, definitivamente seria o 😮.
Como sempre, foi clara a intenção da Sabotage, a história de Sea of Stars também é um tributo aos colossos do passado. Em todo momento, me senti imerso em um universo fantástico que me prendeu completamente na jornada das Crianças do Solstício. Todos os elementos de sol, lua e eclipse, os lugares mágicos e personagens carismáticos, as pílulas de conhecimento que a exploração dos cenários traz. Foi uma aventura apaixonante, que não quero acabar estragando com algum spoiler.
O Gameplay
Como falei acima, o gameplay de Sea of Stars pega emprestado elementos de jogos como Chrono Trigger e Super Mario RPG, e entrega uma experiência que mistura a cadência do combate por turnos com a constante atividade dos inputs sincronizados de ataque e defesa.
O sistema de golpes e habilidades é bem simples. Cada personagem possui uma barra de Pontos de Vida e outra de Pontos de Mana. Magias e habilidades gastam mana, enquanto ataques “normais” não só possuem a possibilidade de ganhar um hit extra com os inputs sincronizados, mas recuperam PM a cada acerto. É um balanço que o jogador precisa levar em consideração durante as lutas.
Além disso, Sea of Stars possui um sistema de combos, que funciona como um recipiente que acumula pontos a cada golpe realizado ou bloqueio sincronizado feito com eficiência. São até três níveis que podem ser preenchidos durante cada batalha, e são gastos pelos personagens de acordo com a combinação em questão. Muitas vezes, o recurso salvou minha vida em um combate contra um chefão ou outro.
A evolução dos personagens ocorre de maneira dupla. Acumulando um determinado número de pontos, a party inteira sobe de nível, e automaticamente ganha melhorias nos atributos de Pontos de Vida e Mana, Ataque e Defesa. Além disso, a cada level up, o jogador pode escolher, para cada integrante do time, um bônus de upgrade, em uma entre quatro categorias disponíveis no momento. É um ponto interessante para reforçar o papel de cada um, aumentando estatísticas já fortes, ou criando um equilíbrio ao apostar nas mais fracas.
E isso se torna ainda mais importante, levando em consideração o grupo de seis personagens jogáveis de Sea of Stars, cada um trazendo à mesa um conjunto de habilidades e características particulares, o que dá ao jogador um tempero extra na hora de organizar as estratégias de combate. Relevante também, é a tal da “magia sem usar magia”, mas, como também é um elemento da história do game, prefiro deixar cada um descobrir por conta própria. Apenas saiba que é um recurso que pode separar a vitória de uma derrota.
O elemento “ativo” não se restringe apenas ao combate em Sea of Stars. Enquanto viaja pelo belíssimo universo do game, o jogador precisa, de fato, interagir com o cenário, seja para pular entre duas plataformas, subir uma escada de pedras, ou usar mecanismos que são ativados com o uso de algum equipamento especial. Isso sem falar nos mistérios e locais secretos que o mais desavisado vai acabar perdendo por uma exploração mal feita.
A trilha sonora e os gráficos
Desde o anúncio, Sea of Stars encantou multidões com um visual retrô e, ao mesmo tempo, atual. O estilo inspirado nos clássicos, mas feito com ferramentas modernas, entrega um resultado final que nenhum trailer foi capaz de fazer jus. Só tendo o game em mãos para ter a experiência completa e maravilhosa do RPG da Sabotage.
Os cenários são feitos com um carinho e uma atenção aos detalhes impressionantes. O efeito de iluminação dinâmica casa perfeitamente com a história das Crianças do Solstício, e, tanto de dia quanto de noite, vemos ambientes aconchegantes quando necessários, e claustrofóbicos na mesma medida. O trabalho aqui é digno de aplausos.
E o que falar de uma trilha sonora que conta com a luxuosa contribuição de ninguém menos do que Yasunori Mitsuda, que trabalhou nas músicas de Chrono Trigger e Chrono Cross? Não foram poucas as vezes em que me peguei cantarolando e assobiando as canções de Sea of Stars, mesmo quando não estava jogando. Algo que não me lembro de fazer desde o battle theme de Final Fantasy X. Esse é maior sinal de que o estúdio acertou, literalmente, todas as notas.
Um clássico instantâneo
No final das contas, a missão estabelecida pelo time da Sabotage Studio, de construir um grande tributo aos RPGs de sucesso do passado, enquanto buscava modernizar e trazer um frescor ao gênero, foi feita com maestria. O pacote de gameplay, gráficos, trilha sonora e história do mais alto nível entrega uma experiência da qual nossos filhos e netos falarão, assim como nós falamos de Chrono Trigger, Final Fantasy e outras lendas dos games.
Me despedi de Valere, Zale, Garl e companhia verdadeiramente com um aperto no coração. Foram muitas e ao mesmo tempo poucas demais as horas que passamos juntos nessa jornada. E, com certeza, levarei comigo para sempre as memórias dessa aventura.