Quando revelado pela primeira vez, Flintlock: The Siege of Dawn me causou um misto de alegria e preocupação. O primeiro sentimento foi causado pelo impressionante visual artístico do game, com um aspecto interessante da retratação de um mundo com base na Guerra Civil Americana e elementos de culturas diversas como indiana e africana.
Agora a preocupação maior é que o jogo apresentasse “mais do mesmo”. Tipo um souls like genérico que jogaríamos felizes por um tempo. Porém, após algumas batalhas e horas de gameplay, despertamos a sensação de montanha-russa. Divertido nas primeiras voltas, mas depois de um tempo monótono pela repetição.
Pois bem, fui arrebatado por ambos os sentimentos dentro do coração, fazendo com o que Flintlock seja apenas algo mais do mesmo.
Uma cenário rico e história intrigante
Em Flintlock, acompanhamos a história do mundo de Kian. Aqui seguimos os passos da soldado Nor Vanek que faz parte da Coalizão, uma força de defesa dos vivos contra uma horda de mortos-vivos sedentos por almas. Em diversos esforços de guerra, o grupo tenta uma última medida desesperada para derrotar este mal.
Porém, a missão de Norr e seu grupo dá terrivelmente errado, com uma explosão liberando o Portão do Reino dos Deuses, liberando três divindades ancestrais no mundo de Kian. Para equilibrar a balança entre o mundo dos vivos e mortos, a protagonista se une a Enki, uma raposa-deus que também deseja a destruição dos deuses da morte liberados no mundo.
Com isso, temos a apresentação de um novo mundo de fantasia com elementos de Steampunk, mas de uma maneira mais “rural”. Temos menos cidades e paisagens belíssimas de planícies.
Em meio a pequenas vilas e natureza, vemos de perto a morte em nosso encalço, encontrando figuras míticas, alguns amigos e muitos vilões mitológicos que serão os grandes vilões da trama.
Com algumas revoltas interessantes, o jogo anima na história principal. Porém, o enredo do mundo de Kian fica limitado a pequenas notas em livros, bilhetes ou referências. Algo encontrado em outros jogos como “Golden Ring” que funcionam por lá, mas em Flintlock: The Siege of Dawn deixa tudo muito raso e sem grande sentido.
Apesar de aparentar ser bastante rico, muita coisa não é explicada em sua jornada de quase 15 horas (pode aumentar se você quiser pegar um ou outro colecionável ou desbloquear áreas). Mas para um souls like, temos uma viagem bem simples por um mundo de magia, espada e pólvora.
Feito para todo fã de souls like
Sim, Flintlock é mais um título para a vasta biblioteca de souls like. O combate possui diversos movimentos, armas e habilidades, com uma mudança incomum nos controles que deixam as principais ações direcionadas para os gatilhos, a exemplo do uso de ataques e armas.
Pode confundir as vezes, mas rapidamente você pega o jeito. O jogo equilibra o uso de habilidade com as esquivas e pulos para escapar dos poderosos ataques de inimigos. O game prefere fazer o jogador revidar os ataques mais poderosos, que são indicados pela iluminação dos inimigos principais.
Mas é bom equilibrar esquiva, ataques e distância entre os inimigos. Um simples golpe forte pode causar uma morte súbita.
A build da protagonista de Flintlock é divida em três árvores de habilidades: Pólvora (armas de fogo), Magia e Ataque Físico. A magia em si são as habilidades adquiridas graças ao uso do seu companheiro raposa-deus Enki. Cada linha de habilidade possui seus próprios pontos fortes e fracos, com o jogador tendo a missão de escolher com cuidado onde cada habilidade será usada.
Entre os inimigos temos diferentes tipos, indo de zumbis, animais míticos e até gigantes. Para superá-los, é preciso equilibrar o uso das habilidades, ataques e curas. É tudo muito simples e que segue a cartilha dos jogos souls, com um certo nível de dificuldade, mas nada tão exagerado.
A exploração do mundo de Kian também é outro ponto forte do game, com diversos itens escondidos, áreas para explorar e tesouros para descobrir. Para isso, temos recursos como pulo duplo e power dashs (arrancadas rápidas) para alcançar certas áreas, além de portais de viagem rápidos liberadas pelo poder de Enki.
Algo bem divertido, que mais parece um jogo do Sonic do que um souls like sério. É um adicional que pode instigar o jogador a explicar ainda mais diversos cenários. Claro, às vezes os mortos-vivos e outros monstros atrapalham, dando mais um incentivo para batalhar e ganhar pontos de experiência que aqui se chama de Reputação.
Nada de XP e Gold, em Flintlock é sua reputação que vale muito
A Reputação em Flintlock funciona tanto como moeda quanto pontos de experiência. Para ganhar, é preciso derrotar inimigos e realizar pequenas missões ou desafios. Existem modificadores para aumentar o ganho da Reputação.
Às vezes, esses modificadores aumentam a porcentagem de ganhos em até 50%, mas atribuem algum desafio ou benefício ao jogador. Por exemplo, você pode ter aumento de 35% em ganhos ao derrotar inimigos, mas essa bonificação só é mantida se o jogador não recuperar pontos de vida com poções ou realizar descanso em save points.
Uma mecânica divertida que incentiva o jogador a explorar mais desafios. Porém, isso é limitado por uma questão chata em Flintlock.
É tudo muito repetitivo
Apesar de divertido, Flintlock é bem simples e repetitivo. Ele é simples por apresentar gráficos sem grandes caprichos, com opções um tanto antiquadas de modelagem de personagens e inimigos. Muitas vezes, não parece um título elaborado para a atual geração de consoles PS5 e Xbox Series.
O mesmo não podemos dizer da dublagem e trilha sonora, que são impecáveis. Porém, as músicas não apresentam nada de tão grandioso e são até repetitivas, com o jogador aparentemente escutando os sons do ambiente e uma leve faixa musical de combate por dezenas de vezes.
Por mais que tenha apenas 15 a 20 horas, o game é bastante repetitivo em seus combates e cenários. Apesar de alguns animais exóticos e inimigos elaborados, temos uma repetição de padrões de muitos deles, em especial dos inimigos mortos-vivos. Você bufa de raiva quando encontra aquele mesmo zombie-sniper com o mesmo padrão de ataque por volta de 15 vezes em menos de meia hora. O mesmo se aplica a tantos outros inimigos em Flintlock.
Uma repetição sem grande sentido, que poderia ser trocada por mais cenas da história ou elementos narrativos que permitissem ao jogador mergulhar ainda mais fundo no interessante, porém pouco explorado, mundo de Kiam.
Divertido, até ficar sem gosto
Por fim, a comparação com a montanha-russa é aplicável em Flintlock: The Siege of Dawn. Nos divertimos bastante nas primeiras horas de jogo, mas tudo fica repetitivo, sem graça e pouco elaborado com o passar do tempo.
Com exceção de alguns chefes criativos, o game agarra o jogador pela história, que explora o mundo de Kiam e a jornada da heroína badass Nor e seu mascotinho Enki. Porém, as poucas informações sobre o cenário e seus elementos tornam a jornada um pouco mais rápida, transformando a diversão de uma jornada de quase 20 horas em uma experiência semelhante a um filme “Sessão da Tarde” de 1h30.
Mas, ignorando tudo isso, Flintlock é uma ótima abordagem souls like em um mercado lotado de outros títulos do gênero.
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