Tears of the Kingdom dá uma nova versão para fatos históricos importantes da série
A cada novo lançamento de The Legend of Zelda, fãs se debruçam sobre as referências e detalhes da história para entender como ela se encaixa na cronologia da série. Essa é uma tradição antiga, que ganhou ainda mais força quando, em 2011, o livro Hyrule Historia foi lançado e estabeleceu uma linha do tempo oficial dos jogos.
Porém, a cronologia, que já tinha ficado bem mais vaga com Breath of the Wild, pode ter sido descartada de vez com o último título da série, Tears of the Kingdom. Se levarmos em consideração os eventos narrados no jogo, ainda podemos considerar a linha do tempo como válida?
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Para discutir isso, evidentemente precisarei abordar algumas revelações importantes da trama do jogo. Não será necessário tratar do final, mas é importante deixar o aviso de que os spoilers estão liberados nesse artigo.
Vamos começar pela linha do tempo que já tinha sido estabelecida. O Hyrule Historia crava Skyward Sword como o ponto de partida para toda a mitologia da série. Já em Ocarina of Time acontece uma bifurcação que divide os jogos que se passam depois em três realidades diferentes.
A Nintendo tem a liberdade de encaixar novas histórias em qualquer uma dessas linhas pós-Ocarina, ou mesmo de criar uma nova bifurcação. Zelda nunca se preocupou muito com a rigidez dessa continuidade, preferindo brincar com as possibilidades de modo mais espontâneo. Porém, é importante destacar que, até então, os eventos entre Skyward e Ocarina of Time permaneciam intocados.
Tears of the Kingdom subverte essa linha inicial com pelo menos dois eventos fundamentais, que no jogo são recontados de maneira totalmente diferente: a fundação do reino de Hyrule e o surgimento de Ganondorf.
A Fundação de Hyrule
Em Skyward Sword, aprendemos que a deusa Hylia elevou partes do continente aos céus para proteger o povo de uma guerra contra o mal primordial, a entidade conhecida como Demise. É na ilha celestial de Skyloft que nascem as primeiras versões de Link e Zelda.
A dupla completa os rituais para manifestar o poder máximo da Master Sword, utilizada por Link para derrotar Demise. No final do jogo, Zelda decide viver no mundo da superfície e dar início ao reino que conhecemos como Hyrule.
Já em Tears of the Kingdom, vemos Zelda voltando no tempo com o poder das Pedras Secretas (Secret Stones) e encontrando uma origem totalmente diferente para o reino. Na nova versão, o povo Zonai, detentor de poderes divinos, desce dos céus para compartilhar tecnologia e conhecimento com as raças da superfície. Rauru, líder Zonai, se casa com a Hylian Sonia, e se torna o primeiro rei de um novo reino, batizado de Hyrule.
É impossível conciliar isso com os fatos de Skyward Sword em uma mesma linha do tempo, pois são versões diferentes da história de origem do mesmo reino.
O surgimento de Ganondorf
Quando Demise é derrotado em Skyward Sword, ele joga uma maldição sobre Link e Zelda, jurando retornar para se vingar dos descendentes deles. É o que acontece em Ocarina of Time, quando a energia maligna representada por ele reencarna em Ganondorf, o líder das Gerudo, o povo do deserto.
Ganondorf, obcecado com a ideia de ter poder sobre o reino todo, forja uma aliança com o rei de Hyrule apenas para se aproximar das chaves para o Sacred Realm e o poder praticamente ilimitado da Triforce.
Usando a Triforce do poder, ele abdica da forma humana para se transformar na entidade com formato de javali gigante que chamamos apenas de Ganon. Desde então, é esse ser que revive de tempos em tempos para dar sequência à maldição de Demise.
Em Tears of the Kingdom, Ganondorf, ainda na forma humana, forma uma aliança com Rauru, o primeiro rei, teoricamente muito antes dos eventos de Ocarina of Time. Ele não usa a Triforce em momento algum, e obtém os poderes matando a rainha Sonia e usando a Pedra Secreta dela na própria testa.
Ganon então é selado pelo sacrifício de Rauru, e o que se manifesta de tempos em tempos é apenas sua energia maligna, conhecida como Malice – é ela que vemos sobrevoando o castelo em Breath of the Wild, por exemplo.
Os jogos de Switch são um reboot?
À luz dos eventos de Breath of the Wild e Tears of the Kingdom, o mais natural seria deduzir que os jogos representam um reboot total na cronologia da série, dando novas versões a eventos de jogos antigos, anulando de vez a linha do tempo estabelecida no Hyrule Historia.
O recomeço incluiria também eventos posteriores a Ocarina of Time, como a Guerra do Aprisionamento (Imprisoning War), citada pela primeira vez em A Link to the Past, em 1992. Aparentemente, a Nintendo está aproveitando a oportunidade para fazer uma releitura total da mitologia da série.
Essa não é, porém, a única interpretação possível. Como falei, Zelda tem a liberdade de se dividir em inúmeras linhas do tempo conforme a necessidade, pois a prioridade da série sempre foi oferecer mecânicas inovadoras e meios interessantes de explorar o mundo.
Pensando nisso, outra explicação plausível seria uma nova bifurcação temporal anterior a Skyward Sword, onde as ilhas do céu, a maldição de Demise e o próprio reino de Hyrule surgem de maneira totalmente diferente.
Particularmente, acredito que a Nintendo se importa muito menos do que os fãs com essa ideia de continuidade entre os jogos. É um exercício divertido montar o quebra-cabeça e ser recompensado pelas inúmeras referências da série, mas pode ser bem frustrante para as pessoas que se prendem muito ao cânone de Zelda como se fosse algo escrito em pedra.
É possível que tenhamos uma resposta para essas pontas soltas de Tears of the Kingdom em jogos futuros, ou mesmo em novas publicações oficiais, como aconteceu com o Hyrule Historia. Mas é importante considerar também que tudo isso pode ficar mesmo em aberto.
A Lenda de Zelda, afinal, está destinada a ser contada e recontada infinitas vezes.
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