A ideia do primeiro Zelda só atingiu seu real potencial 30 anos depois
No final de abril, o site Nintendo Life publicou um texto opinativo, afirmando que era hora da Nintendo produzir um remake de Zelda 1, como costumamos chamar o primeiro The Legend of Zelda, lançado para o NES, em 1986. O artigo argumenta que o jogo, que apresentou toda a base do que é a série Zelda, não tem, hoje em dia, o mesmo apelo para novos jogadores, ficando atrás de outros clássicos como A Link to the Past e Ocarina of Time. Seria necessário reapresentar a visão do Zelda original em um novo formato, que fosse interessante e envolvente, também, para as novas gerações de jogadores.
Mas, e se eu te disser que isso já foi feito? Não na forma de um remake exatamente idêntico, mas de uma reformulação da proposta do primeiro jogo para novas audiências, tão vasto e instigante, hoje, quanto o original era nos anos 80. O nome desse jogo é The Legend of Zelda: Breath of the Wild.
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A visão original de Shigeru Miyamoto para Zelda era a de um jogo que trouxesse liberdade de exploração e, com isso, o deslumbramento da descoberta. Nada ilustra melhor essa ideia do que uma arte conceitual para o jogo original, que mostra Link no topo de um penhasco observando as planícies, florestas, lagos e montanhas que se estendem até o horizonte. É como se todo aquele mundo fosse um playground, um universo de possibilidades esperando pelo seu senso de aventura. Bem, a imagem fala por si:
É clichê dizer que Zelda estava à frente do seu tempo, mas seria difícil de encontrar uma expressão melhor para descrever a ideia de Miyamoto. Isso porque a tecnologia da época não permitia que essa visão atingisse todo o potencial. A ilustração acima serve de base para que nossa imaginação complete as lacunas entre as imagens minimalistas que os poucos pixels do Nintendinho conseguiam criar. Precisaríamos de mais 30 anos para ver nossa imaginação ficar a par com o que o jogo nos apresentava.
A imagem acima provavelmente parecerá familiar a todo mundo que tenha jogado a introdução de Breath of the Wild. A hoje icônica cena com o Link saindo do câmara, onde ficou dormindo por 100 anos, e observando, pela primeira vez, o mundo ao seu redor reproduz exatamente o sentimento da ilustração do Zelda de 1986. Tudo isso é reforçado pela arte de capa do jogo, que também é inspirada nessa mesma perspectiva.
A relação entre os dois jogos é tão forte que a própria Nintendo comentou sobre as influências. Uma postagem no site oficial da empresa no final de 2016, meses antes do lançamento de Breath of the Wild, listava algumas similaridades entres os títulos. Coisas como o encontro com um homem velho que te ajuda no começo do jogo, o uso de jangadas e o formato e nome de várias localidades espalhadas pelo jogo.
Mas a referência mais direta veio na virada do ano de 2016 para 2017, ano do lançamento do Nintendo Switch e do novo jogo da série. A conta oficial japonesa de Zelda publicou uma ilustração comemorativa, justamente uma reprodução da arte de 1986, agora com o novo Link e a Hyrule como é vista em Breath of the Wild.
Happy New Year ! pic.twitter.com/kQDKEzAt37
— ゼルダの伝説 (@ZeldaOfficialJP) January 1, 2017
Para muito além da homenagem à arte conceitual, Breath of the Wild é a realização do Zelda original em praticamente todos os elementos. A ideia de mundo aberto e do encanto com o descobrimento do mundo foi levada às últimas consequências. Todas as decisões de game design do jogo caminham na direção de realizar o que não era possível na época do NES.
Claro que vários outros jogos da série surgiram pelo caminho. Tivemos, por exemplo, a estreia da série no mundo 3D em Ocarina of Time, que poderia ter tomado esse mesmo norte. Mas são experiências diferentes. Ao longo das décadas, Zelda estava apostando em um formato mais linear, com uma ordem certa de dungeons e itens que ditam o ritmo da aventura.
Nesse sentido, foi Breath of the Wild que assumiu a missão de reimaginar o primeiro jogo 30 anos depois. Foi o jogo que, ao conseguir capturar a essência original da série em um mundo 3D, transformou em realidade, também, tudo aquilo que imaginávamos, vendo as ilustrações e manuais e instruções de antigamente.
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