Próximas temporadas de The Last of Us vão abordar o segundo jogo, tido como controverso
A primeira temporada de The Last of Us na HBO foi considerada um sucesso. Abordando a trama do primeiro jogo da franquia da Naughty Dog, entre acertos e concessões, o saldo foi positivo para a empreitada de Craig Mazin e Neil Druckmann.
Porém, com a próxima temporada chegando em 2025, algumas pessoas já estão reclamando, como sempre. Alguns querem que Bella Ramsey não reprise o papel de Ellie – ela tem a exata idade da personagem na Parte 2 -, e outros reclamam por desgostar de The Last of Us Part II. Não nós, do Game Arena. Consideramos a segunda parte um baita jogo. E muito por isso, resolvi escrever esse texto.
Atenção: Spoilers de The Last of Us (jogos e série) a seguir.
Entendendo sobre o que é a franquia
Muitos entraram na franquia, e na série, pensando que ela seria sobre zumbis. Mas não, não é. De comparações escabrosas com outras séries do gênero a pessoas não entendendo a essência de certas decisões criativas, fica difícil não imaginar que muitos não compreenderam sobre o que trata The Last of Us.
A franquia é sobre as pessoas. É sobre o amor paternal de Joel e Ellie, é sobre entender que mesmo em um cenário onde tudo parece estar completamente perdido, nós devemos continuar olhando para a luz e perceber que o melhor está em nós. Que devemos proteger o que amamos, custe o que custar. Salve o que você pode salvar, já dizia a Tess.
Outra coisa que precisamos esclarecer: Joel não é um cara legal. A série, muito pela excelente atuação de Pedro Pascal, faz um trabalho de entregar um personagem mais sensível, mais humano. Talvez em uma tentativa de inserir na cabeça dos fãs dos jogos que Joel Miller é um homem falho. Quebrado, destruído, e com traumas. Não um atirador de elite e mestre em sobrevivência, como podemos ter a sensação ao jogarmos com o personagem.
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Talvez seja por isso que algumas pessoas desgostam do terceiro episódio. Ao não entender que a franquia tem uma mensagem sobre amor, perda e pessoas, muito maior do que tiro, zumbi e apocalipse, é difícil mesmo de entender que a série tenha ido por um lado diferente ao contar a história de Bill e Frank. E que, convenhamos, muito melhor do que no jogo.
Por isso, acho que precisamos cravar aqui, antes de seguir com o texto: The Last of Us é sobre o amor, companheirismo e perda das pessoas. É sobre luto, sobre diferenças, sobre saber que o mundo não acaba se você ainda tiver quem ama do seu lado. É sobre aceitar suas perdas e se abrir para sentir algo além de luto e ódio.
Joel precisava passar pelo que passou
Eu sei, eu sei. Respira fundo, calma. Também doeu em mim muito do que acontece no segundo jogo, principalmente a forma abrupta como nosso querido Joel Miller vira camisa de saudades eternas. Mas, ao mesmo tempo, eu entendo que era hora dele partir. Ellie precisava de uma motivação, a trama precisava girar, e o principal: não existiria COMO Joel passar impune por tudo que fez. O cara simplesmente condenou a humanidade e assassinou um hospital inteiro.
Abby tem todo o direito de ir atrás de Joel, o cara matou o pai da personagem. Ela não é uma vilã, ou uma antagonista. Abby é uma sobrevivente em um mundo cruel, onde ela perdeu seu pai, que estava tentando obter a cura para salvar a humanidade, coisa que acabou não acontecendo, já que ele foi assassinado. E acredite, quem jogou o jogo sabe o teor de tudo, no fim, é você quem puxa o gatilho. Talvez até seja por isso que dói ver Joel morrendo.
Muitos dizem que Joel não iria tão fácil assim com uma desconhecida, mas ele não sabia que ela era justamente a pessoa que estava querendo vingança contra ele. Na cabeça do deuteragonista – calma, já explico o termo – de The Last of Us, ela só era uma menina que precisava de ajuda. E, sabemos muito bem, que naquele momento, o personagem não era o mesmo que ele era no primeiro jogo, antes de conhecer Ellie, ou durante a jornada.
Por isso, faz sentido Joel voltar a confiar nas pessoas, ele passou a enxergar o bem nelas, desde que sua relação com Ellie foi se tornando cada vez mais intensa e paternal. O personagem assumiu essa faceta mais uma vez, uma bem protetiva e atenciosa. Ver uma jovem teoricamente em perigo de morte? Conhecemos o suficiente de Joel para saber que ele a ajudaria. Até então, Abby não havia feito nada de errado com ele, não poderia existir desconfiança.
Joel e Abby tinham contas a acertar, e, por isso, por mais que doa em nós que jogamos tantas horas com ele e o vimos sofrer, se abrir e permitir ter um sentimento de carinho, proteção e paternidade por Ellie, tinha que acontecer. Em uma história de duas jovens vivendo o legado de seus pais, não existiria como Abby não tentar vingar o dela. Porém, isso acabou custando tudo para a personagem. Ela perdeu seus amigos, perdeu seu pai, seu sentido de vida. Abby não é uma santa, ninguém em The Last of Us é, mas ela tinha toda a motivação do mundo para fazer o que fez.
O ódio por Abby e o fator extra-jogo
Uma coisa que eu gostaria de destacar, a atriz que deu o rosto para Abby, Jocelyn Mettler, até hoje recebe e-mails de ódio e ameaças de pessoas imbecis, sendo que ela não escreveu o jogo, só serviu como modelo facial. Inclusive, enquanto escrevia esse texto, trombei com uma postagem recente da artista 3D. De 17 de fevereiro de 2023. Jocelyn, inclusive, não é nem atriz, e sim, trabalha com efeitos especiais em jogos. Inclusive, não faz parte da Naughty Dog desde 2017.
Bro I have not been on Naughty Dog’s payroll since 2017. I am not their complaint department. I think you forgot a cc on this one, champ.
CW: Harassment, Threats, Stupidity pic.twitter.com/mwDXorDj5M
— Jocelyn (@Jocelyn_Mettler) February 16, 2023
Mano, eu não estou na folha de pagamento da Naughty Dog desde 2017. Eu não sou o depatarmento de reclamações deles. Eu acho que você esqueceu copiar alguém nesse aqui, fera.
Man. I try to only post positive stuff on here… but sometimes this just gets a little overwhelming. I blacked out some of the words cuz, ya know, spoilers.
Side note. Thank you to all the people sending me positive messages to balance it out. It means more than I can say.❤️ pic.twitter.com/kGyULWPpNu
— Laura Bailey (@LauraBaileyVO) July 3, 2020
Se você não consegue compreender o quão ridículo é o ódio das pessoas por uma personagem feita de pixels, ao ponto de ir assediar e ameaçar uma pessoa que participou de forma mínima no projeto, eu não sei o que possa ajudar nisso. Abby é uma personagem feita para servir como motivação, para Ellie ir atrás de vingança, e entender que nem tudo é vingança. A morte de Joel é uma força para girar o roteiro, manter a história rolando. O acerto de contas, como mencionei antes, que ela nunca teve.
Vale destacar também: se uma obra de ficção mexe com o seu psicológico ao ponto de você se sentir confortável de ameaçar de morte outras pessoas, procure ajuda (Nota do Editor: não precisa nem ser uma obra de ficção. Se você se sente confortável de ameaçar alguém de morte, procure ajuda). Falo isso sem ser como piada, zombaria, ou nada do tipo. Talvez o jogo não tenha sido para você, e está tudo bem entender que o tema dele é traumático demais, e realmente pode ser. Mas, por favor, esse tipo de atitude não pode acontecer mais.
Não vou me alongar muito no ódio tosco e sem necessidade que a Abby leva por sua aparência, só cravar o quão machista e ridículo é, acreditar que uma garota com sede de vingança em um mundo pós-apocalíptico não iria treinar até a exaustão para conseguir se vingar do cara que matou um prédio inteiro, e seu pai em sequência, e não é nenhum esforço achar sentido nisso.
E por favor, sem argumentos como ”lacração” e outras coisas. Se respeitar pessoas te incomoda, releia a parte onde recomendei procurar ajuda.
O porquê o perdão de Ellie é o fechamento perfeito
Algumas pessoas não entendem o motivo pelo qual Ellie perdoa Abby. Outros, fingem não entender para odiar a personagem. Em toda a história de The Last of Us, a protagonista é Ellie. Desde o primeiro, Joel serve como deuteragonista – falei que te explicaria, não? – personagem que serve como a segunda pessoa mais importante em uma trama. Um deuteragonista não deixa de ter um impacto, ou de ser menos importante. Mas ele cumpre seu papel de estar ali com o protagonista e ajudar a contar a história.
Jogamos The Last of Us Part I do ponto de vista de Joel, que é um deuteragonista. Vimos seu sofrimento com Sarah, vimos sua relutância em se afeiçoar à Ellie, que é o ponto central da trama. Na sequência, Joel também tem esse papel, mas de uma forma diferente, sendo a motivação para que Ellie aprenda a perdoar e termine com o ciclo de vingança e ódio que ela estava vivendo. Rancor, ódio, e ressentimento, da mesma forma que o próprio Joel vivia antes de conhecê-la. Não podemos esquecer que ele e Tess eram contrabandistas, e entregar Ellie aos Vagalumes significava mais armas para eles venderem.
Ellie é uma personagem que perdeu tudo o que tinha, pela vingança. Perdeu Joel, morto para vingar o pai de Abby. Perdeu seu relacionamento com Dina por se manter nessa busca implacável pelo seu conceito de justiça. Abandonou Jackson, perdeu o amigo, tudo o que ela tinha, se foi. O maior medo da personagem, que era de ficar sozinha, aconteceu. Justamente por ela ter seguido pelo caminho de ódio e vingança. Perdoar Abby não tem a ver com deixar a assassina de Joel ir embora. É perdoar a si mesma e entender que aquele ódio desenfreado não era o certo.
Prepare-se para lidar com seus preconceitos
Se você desgosta de The Last of Us Part II, e nunca parou para pensar os motivos pelo qual você desgosta, pare e pense. Tente se lembrar da jornada, de tudo o que você viveu no jogo, para entender os dois lados de uma mesma história. Abby e Ellie são personagens que vivem em um mundo distorcido, cruel e injusto. E ambas tiveram a pessoa com quem elas mais se importavam tirada delas. No ciclo de violência interminável que isso poderia virar, a corrente foi quebrada pelo bem maior.
É óbvio que não existiria The Last of Us sem Joel, mas, muito menos, existiria também sem o conflito de Ellie e Abby. Eu, por exemplo, fui contra o jogo quando ele foi anunciado. Para mim, a história fechava direitinho com a mentira que Joel conta. Mas, jogando a sequência, adorei estar errado em todos os níveis. The Last of Us Part II cumpre muito bem o seu papel de ser um dos jogos mais intensos da última década, e com uma mensagem muito maior do que alguns podem compreender.
Está tudo bem, perdoar. Está tudo bem em seguir em frente. Muitas vezes o rancor, vingança e ressentimento não são a resposta. Algumas vezes você só deve continuar em frente e carregar consigo os bons momentos que viveu ao lado da pessoa que ama. The Last of Us Part II nos ensina que, acima de tudo, somos humanos e por mais que sejamos falhos, incoerentes e muitas vezes insesatos, ainda temos o poder de perdoar e seguir em frente.
Fortes são aqueles que aguentam as mazelas da vida e seguem em frente. Ellie aprendeu isso da pior forma possível, e talvez seja hora de você também aprender que ter todo esse preconceito com um jogo de mensagem tão forte, porque um personagem morreu, ou outra é fortona demais, não vale a pena. Não adianta tentar remoer isso tudo, ranger os dentes, bater o pé. The Last of Us Part II é um excelente jogo por mostrar que as pessoas são capazes de perdoar e conseguir superar seu luto, seu ódio e suas inseguranças.
E sinceramente? Eu mal posso esperar pela segunda temporada de The Last of Us na HBO.
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