Com o anúncio do remake de Super Mario RPG, é hora de resgatar a história mágica do original
A vida está repleta de coincidências simbólicas. Por exemplo, o remake de Super Mario RPG ter sido anunciado justamente na semana de lançamento de Final Fantasy XVI. Acho isso emblemático porque a história dos dois jogos passa por um ponto em comum: a visão geral que o público faz dos JRPGS – designação dos RPGs criados no Japão. E é impossível entender o que faz do RPG do Mario tão impactante sem entender esse dilema.
Em fevereiro de 2023, Naoki Yoshida, produtor de Final Fantasy XVI, deu uma entrevista ao site Polygon na qual afirmou que “elementos clássicos de JRPG afastam as pessoas”. O comentário foi, evidentemente, parte da divulgação do mais novo jogo da série, que apresenta uma mudança radical no sistema de combate. Os RPGs japoneses, com complexos combates por turno, talvez não sejam tão atraentes, pensando em um produto de apelo global.
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Esse debate não é, nem de longe, recente. As diferenças entre o gosto do público médio japonês e as preferências estéticas norte-americanas acompanham a história dos videogames desde os anos 80. Mas a nossa história hoje se passa na década seguinte, na etapa final da geração dos consoles de 16 bits, protagonizada pela disputa entre Super Nintendo e Mega Drive.
Na primeira metade dos anos 90, a Squaresoft – como era conhecida a produtora de Final Fantasy antes da fusão com a Enix – já tinha se firmado como referência mundial em jogos de RPG. Os games da empresa eram sucesso de crítica e explodiam em vendas no Japão. No entanto, havia certa dificuldade em vender o gênero no ocidente, passando longe de repetir o mesmo sucesso.
Ao mesmo tempo que a empresa quebrava a cabeça para se consolidar em um mercado mais global, a Nintendo buscava novas maneiras de explorar o mundo de Mario com diferentes propostas. O bigodudo já tinha dado as caras em jogos de Kart, golfe e puzzle, mas faltava um salto mais ambicioso para expandir a história daquele universo. Foi das necessidades das duas empresas que o projeto de Super Mario RPG nasceu. O jogo expandia as possibilidades do Reino do Cogumelo ao mesmo tempo que aproveitava a popularidade do personagem para apresentar o gênero dos RPGs para um novo público. Mas nenhuma das empresas esperava que o jogo iria muito, muito além desses objetivos iniciais.
Lançado no primeiro semestre de 1996, Super Mario RPG transformou a estética dos JRPGs em várias camadas. O jogo trocou a tradicional visão de cima, com personagens e cenários em pixelart, para introduzir modelos pré renderizados em uma perspectiva isométrica, que dava uma sensação de profundidade rara no Super Nintendo. Para ser fiel aos jogos tradicionais do bigoda, a Squaresoft aproveitou o novo visual para introduzir elementos de plataforma ao jogo. Fora de combate, Mario pode pular, pegar moedas e encontrar baús escondidos. Tudo para deixar a experiência de controlá-lo a mais lúdica possível.
Mas foi no sistema de batalha que o jogo deu o salto mais alto – se me permite o trocadilho. Super Mario RPG subverte completamente a ideia de que batalhas por turno são menos divertidas do que a ação em tempo real. O jogo não apenas tornou os menus de combate muito mais intuitivos e interessantes como ainda adicionou mais interatividade aos combates. É preciso apertar o botão no tempo certo para arrancar o melhor de cada golpe e habilidade, transformando a execução dos movimentos dos personagens em um minigame de ritmo.
A história, que sempre foi o ponto mais forte dos jogos da Squaresoft, brilha por conseguir apresentar os personagens e o mundo de modo leve e bem-humorado, sem se tornar necessariamente raso ou bobo. O texto do jogo é muito engraçado, os personagens, conhecidos e novos, são extremamente carismáticos, e a história consegue, inclusive, arrancar drama e tensão nos momentos certos. Mario RPG tem algo, um charme, uma atmosfera única de conto de fadas, que nunca mais foi reproduzida igualmente nos títulos do bigodudo – nem mesmo nos RPGs seguintes, como Paper Mario e Mario & Luigi.
O legado para os RPGs é imensurável, especialmente falando do impacto na popularidade do gênero no ocidente. Foi através dele – e de Chrono Trigger, justiça seja feita – que a Squaresoft encontrou caminhos mais assertivos para dialogar com novos públicos e expandir o apelo das produções para um escopo mais global. Um aprendizado que transformaria o impacto da empresa nos anos seguintes, especialmente com Final Fantasy VII.
Existem jogos cuja mera existência é milagrosa. Videogames, enquanto forma de expressão e arte, devem muito ao fato dessa parceria ter acontecido e dado tão certo. Especialmente se considerarmos que a relação da Squaresoft com a Nintendo seria rompida poucos meses depois, com o lançamento do Nintendo 64 e o famigerado problema de armazenamento da mídia de cartuchos.
A importância de Super Mario RPG não pode ser subestimada, jamais. Principalmente porque o jogo responde, com confiança e excelência, a um dilema que até hoje acompanha o desenvolvimento de RPGs japoneses, como podemos ver pelas decisões autorais de Final Fantasy XVI. Com Mario RPG, os JRPGs se tornaram globais de vez. E assim permanecem até os dias de hoje.
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