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O tom de Resident Evil: galhofa ou terror?

O tom de Resident Evil: galhofa ou terror?

O anúncio do remake de Resident Evil 4, ainda em 2022, reacendeu um debate antigo sobre a série. Afinal, os elementos de ação e o senso de humor da série a distanciam do terror? Isso pode quebrar a imersão e enfraquecer a experiência de alguma maneira?

Marcellus Vinicius •
09/03/2023 às 16h00, atualizado há 2 anos
Tempo de leitura: 4 minutos

O anúncio do remake de Resident Evil 4, ainda em 2022, reacendeu um debate antigo sobre a série. Afinal, os elementos de ação e o senso de humor da série a distanciam do terror? Isso pode quebrar a imersão e enfraquecer a experiência de alguma maneira?

O debate acompanha o game desde 2005, quando a versão original foi lançada para o Nintendo GameCube. Shinki Mikami, criador da série, disse, na ocasião, que estava deliberadamente focando mais em ação, aproveitando as possibilidades da mudança de câmera e o novo sistema de mira. O jogo foi um enorme sucesso, um divisor de águas na indústria, mas rendeu comentários de ser “menos assustador” que os antecessores.

Após a saída de Mikami, Resident Evil 5 e 6 seguiram uma direção controversa, reciclando personagens antigos e deixando a história cada vez mais caótica e convoluta, especialmente no 6. A reviravolta veio com Resident Evil 7, que tem ares de reboot até no nome. O logo do jogo faz uma brincadeira com 7 em números romanos e resgata o título japonês da série, BioHazard, indicando um novo começo com (quase) nenhum personagem clássico.

Resident Evil

A inspiração do sétimo jogo foi visivelmente o viral P.T., teaser do cancelado Silent Hills, que seria um reboot de Silent Hill, principal concorrente da série nos anos 90. Resident Evil Village (o oitavo da série principal) e os remakes do 2 e do 3 aproveitaram o avanço tecnológico pra reforçar a tensão, o que só aumentou a expectativa para quando finalmente viesse um remake do 4.

E essa expectativa não vem só pela ação frenética do jogo. RE4 tem um senso de humor bastante peculiar. O mercador do jogo, por exemplo, abre, em determinados pontos do mapa, uma barraquinha de tiro ao alvo, onde você atira em placas de papelão dos ganados, os infectados do jogo. Em outro momento, Salazar, o dono do castelo medieval, tenta acabar com Leon usando uma estátua gigante de si mesmo, completamente motorizada, feito um megazord.

Há quem ache charmoso esse lado de Resident Evil, que não se leva tão a sério e se permite brincar com o absurdo da sua premissa. Há quem sinta que isso quebra a imersão na atmosfera tensa de sobrevivência que esse tipo de jogo pretende criar. São respostas subjetivas, questão de gosto. Não tem certo ou errado no que sentimos diante de algo que um game nos apresenta. Mas é importante observar que Resident Evil nunca se propôs a ser apenas uma dessas coisas, nem nos seus jogos mais sombrios.

Vamos lembrar da primeira coisa que vemos quando colocamos o CD do jogo de estreia da série no PSOne. A abertura do primeiro Resident Evil é um filminho com atores reais, que faz paródia com filmes antigos de ação. Isso tudo ao mesmo tempo que sua premissa tira inspiração direta de filmes como Madrugada dos Mortos (1978).

Particularmente, estou em paz com o fato de Resident Evil nunca ter tentado trazer o mesmo tipo de terror psicológico de Silent Hill. Gosto do senso de humor da série, de como ela abraça o absurdo e mesmo assim consegue trazer tensão e aflição em diversos momentos. Também por isso meu jogo favorito da série seja o 4. Mas entendo perfeitamente quem prefere o 1 ou 7 por curtir mais outro tipo de sentimento com a série.

No dia 24 de março descobriremos de vez qual caminho o remake de Resident Evil 4 resolveu seguir, e confio que o jogo está em boas mãos para extrair o melhor do original ao mesmo tempo em que tenta algo novo.

Mas sentirei o golpe se cortarem a estátua gigante motorizada com os olhos acesos tentando te pisotear.

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