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Festival Jogatório: conheça o evento que reunirá jogos indies, neste final de semana, em São Paulo

Festival Jogatório: conheça o evento que reunirá jogos indies, neste final de semana, em São Paulo

Os detalhes sobre o Festival Jogatório, com uma entrevista especial com organizadores do evento A comunidade independente de jogos sempre procurou formas de se organizar, em um esforço colaborativo para crescer e divulgar cada vez mais os projetos e criações. Isso é verdade internacionalmente, e não poderia ser diferente no Brasil, especialmente por não contarmos com iniciativas de fomento tão robustas.

Marcellus Vinicius •
07/07/2023 às 23h00, atualizado há um ano
Tempo de leitura: 10 minutos

Os detalhes sobre o Festival Jogatório, com uma entrevista especial com organizadores do evento

A comunidade independente de jogos sempre procurou formas de se organizar, em um esforço colaborativo para crescer e divulgar cada vez mais os projetos e criações. Isso é verdade internacionalmente, e não poderia ser diferente no Brasil, especialmente por não contarmos com iniciativas de fomento tão robustas.

É desse espírito comunitário e do desejo de apresentar os jogos para o grande público que nasceu o Festival Jogatório, evento que reunirá criadores de jogos no próximo final de semana, dias 8 e 9 de julho, no centro de São Paulo. A exposição é resultado de uma parceria entre o SESC e a Firma Gamedev, e contará com a presença de desenvolvedores de jogos eletrônicos, escritores de RPGs de mesa, artistas visuais e criadores de jogos de tabuleiro.

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O Jogatório faz parte do FestA!, Festival de Aprender 2023, que reúne cursos, oficinas, ateliês, vivências e demonstrações artísticas dentro do espaço do SESC.

Mas o que é a Firma Gamedev? Como a proposta do Festival Jogatório se destaca no cenário nacional? Para responder essas e outras questões, conversei com Andre Asai, diretor de estúdio da Modus Studios e um dos organizadores da Firma Gamedev, e Thais Weiller, fundadora da JoyMasher e professora de game design na PUCPR.

Esta ilustre dupla, que há anos atua em iniciativas para conectar e promover a cena independente brasileira, compartilhou ótimas reflexões sobre a importância de um evento como esse e como ele pode dialogar com o trabalho da imprensa especializada – o que inclui, é claro, a própria Game Arena.

Andre Asai e Thais Weiller
Andre Asai e Thais Weiller

– O que é a Firma Gamedev? Como e quando começou? Quem são as pessoas que participaram da fundação?

Asai: A Firma Gamedev busca trazer o lado social dos jogos e outras formas de arte para gamedevs. Isso se traduz em organizar eventos presenciais de jogos, voltados para desenvolvedores e fãs de jogos independentes. Ela surgiu, e inclusive tem esse nome carinhoso e meio jocoso, como um grupo para organizar happy hours voltados a desenvolvedores independentes em São Paulo. Acredito que isso foi logo após o Glitch Mundo, então no comecinho de 2019.

Na época, acredito a Firma Gamedev era integrada por Maíra Testa, Eliana Helena (Eli Dib) e eu. A Thais (Weiller) sempre é a “shadow people”, a pessoa nos bastidores de quase qualquer movimento maluco que faço, porque ela adora que eu crie um certo caos. E acho que podemos considerar a finada Hamburgueria DiceZ como um membro, uma vez que eles sempre toparam ceder espaço e ajudar a organizar coisas dos eventos.

– O que é o Festival Jogatório? Como se encaixa na proposta da FestA?

Asai: O Festival Jogatório foi uma ideia que veio do SESC, na verdade. Apenas para te dar um pouco de contexto, o FestA! é o Festival de Aprender, e é um festival que reúne diversos formatos de eventos (apresentações, mostras, oficinas, workshops etc.) unidos por um tema, e esse tema é abraçado em sua forma mais abrangente. O tema de 2023 é “Jogos”, e uma das educadoras do SESC, Anita Cavaleiro, me convidou para organizar uma mostra de jogos brasileiros no SESC 24 de Maio. Essa mostra não seria focada apenas em videogames, precisava incluir a mídia de jogos em sua totalidade.

De forma simplista, o Festival Jogatório seria uma mostra aberta de jogos, onde os criadores podem mostrar ou comercializar seus produtos para o público, um “Gamedev Alley”, por assim dizer.

Thais: A nossa ideia foi fazer uma seleção de alguns dos melhores jogos em desenvolvimento no momento – mesmo por que, temos um espaço limitado – e apresentá-los para o público. Uma das coisa essenciais do evento foi facilitar essa presença do desenvolvedor junto com o próprio projeto, justamente para permitir esse contato direto, que é muito bom quando você está fazendo o jogo sem saber como as pessoas vão reagir às decisões que foram tomadas. Fizemos isso com uma ajuda de custo para transporte para os selecionados, que foi algo possível graças ao SESC.

Asai: Sob um ponto de vista pessoal, o objetivo do Festival Jogatório seria o de estabelecer um novo padrão para eventos de jogos independentes, um que priorizasse o fácil acesso aos jogos e criadores, com a entrada do evento sendo gratuita, e com os expositores recebendo uma ajuda de custo. Dessa forma, criadores menores e de fora da cidade de São Paulo podem ter uma oportunidade para mostrar seus projetos, para servir como contraponto ao caminho dos eventos mais tradicionais de jogos.

Fish Person Shooter (Arthur Zeferino)
Fish Person Shooter (Arthur Zeferino)

Como vocês acreditam que o festival se encaixa na missão na Firma Gamedev? Sentem falta mais eventos como esse no cenário nacional?

Asai: Acredito que o Festival Jogatório se encaixa no objetivo da Firma Gamedev de trazer o lado social dos jogos e outras formas de arte para desenvolvedores, dessa vez fazendo com que as pessoas interajam entre si e com um público no qual uma parcela considerável não se considera “gamer”.

E, bem, tenho essa ambição de deixar um exemplo de um novo formato para eventos de jogos aqui, uma na qual o foco não esteja nas grandes marcas, e na qual parte do orçamento seja dedicado ao custeio dos participantes, e não o oposto. Acredito que vários dos eventos já estabelecidos de jogos possuem essa eterna ambição de expansão, o que atualmente se traduz em grandes marcas, esports e influencers, coisas que se ligam apenas tangencialmente aos jogos independentes produzidos no Brasil e América Latina. Não advogo para que esses eventos deixem de existir, mas acredito que seja crucial que eventos menores, dedicados ao criador indie, possam existir.

Fica aqui o convite ao público da Game Arena, pois apenas por ir visitar o evento nesse fim de semana, você já está ajudando imensamente a garantir uma possível segunda edição (risos).

Qual foi a participação do SESC na realização do evento? Houve algum incentivo do Estado ou de empresas privadas?

Asai: O SESC foi a organização que nos trouxe a demanda inicial, através da Anita Cavaleiro, e que está custeando o evento. A curadoria, a proposta do formato e a responsabilidade da montagem é da Firma Gamedev. Pode-se interpretar que o Festival Jogatório é um evento do SESC que possui uma participação nossa na criação, e não o oposto.

Thais: O evento simplesmente não aconteceria sem o SESC, devemos muito a eles.

Multimorbido (Isabelle Lins)

Do que você sente falta na cobertura jornalística brasileira quando se trata de jogos independentes?

Asai: Bem, meu ponto de vista é que houve uma severa profissionalização no que se é considerado “jogo independente”, e a cobertura jornalística cobre os jogos independentes de maior projeção. No entanto, me parece que existe uma imensa falta de interesse em conhecer projetos menores e que fogem um pouco do formato tradicional de jogos. Isso não é exclusivo do Brasil, e com a mudança de importância da mídia escrita para o conteúdo audiovisual de influenciadores na divulgação de jogos, sim, sinto que existe uma lacuna na cobertura jornalística brasileira para jogos independentes. E nem posso responsabilizá-los diretamente por isso, uma vez que eles estão cobrindo o que o público demonstra interesse, com mais atenção aos jogos maiores.

Uma anedota que posso compartilhar, sob a minha percepção pessoal, é que não escuto podcasts de jogos em geral por um simples motivo: todo podcast irá cobrir os mesmos jogos, no mesmo período de tempo.

Thais: A cobertura brasileira era mais próxima do desenvolvedor, ao menos na minha percepção, na década passada. Isso não é culpa dos jornalistas. A realidade da redação digital nesse período ficou muito mais difícil e muito mais focada em resultados, como visualizações e cliques. Infelizmente, jogos independentes não rendem muito isso, não é? Eles são propositalmente algo feito para grupos pequenos de pessoas, jamais renderão em anúncios o mesmo que uma matéria sobre especulações a respeito do próximo Mass Effect. Ainda assim, sinto falta da época que os canais podiam dedicar matérias semanais sobre jogos obscuros brasileiros, ou fazer um vídeo estranho entrevistando desenvolvedores em uma praça aleatória de São Paulo. 


Festival Jogatório

Onde: SESC 24 de Maio – Área de convivência e varanda – 3º andar. Rua 24 de Maio, 109 – República, São Paulo – SP. Próximo da estação República de metrô, na linha vermelha.

Quando: sábado, 8 de julho de 2023, das 11h às 19h, e domingo, 9 de julho, das 11h às 16h.

Quanto: o evento é totalmente gratuito.

Mais informações: Página do Festival no site do SESC São Paulo


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