Nosso clube de recomendações da biblioteca do Game Pass, hoje com Hi-Fi Rush
Às vezes um jogo, por melhor e mais profundo que seja, pode não funcionar muito bem com a gente. Isso acontece por vários motivos, e muitas vezes é só uma questão de momento. Sabe quando gostaríamos muito de comer algo doce e o que aparece pela frente é uma fatia de queijo gorgonzola?
Tive uma experiência parecida com Starfield recentemente. Instalei o jogo da Bethesda, movido principalmente pela curiosidade, já que está disponível para assinantes do Game Pass. Não nego que a experiência é bastante imersiva e rica em possibilidades, mas algo ali não “clicou” comigo.
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Starfield é extremamente sóbrio, cadenciado, preocupado em cobrir todas as situações propostas em algum verniz de realismo, mesmo quando falamos de um jogo de dobras espaciais e artefatos supostamente mágicos. Senti que eu precisava de algo mais lúdico, colorido e irresistivelmente absurdo.
O que eu procurava era algo como Hi-Fi Rush.
Hi-Fi Rush foi, ao lado do remake de Metroid Prime, uma das melhores surpresas do primeiro semestre de 2023. Desenvolvido pela Tango Gameworks e publicado pela Bethesda, o jogo foi revelado já no dia do lançamento, em janeiro, diretamente do Game Pass, e logo virou um queridinho dos assinantes do serviço.
Vale citar que a Tango Gameworks é o estúdio fundado por Shinji Mikami, criador de Resident Evil. Até pela influência, os trabalhos da empresa haviam se concentrado até então em jogos combinando ação e terror, a exemplo da série The Evil Within. Hi-Fi surge então como um atestado da versatilidade e criatividade do estúdio.
A primeira coisa que chama atenção no jogo é, sem dúvida, o visual. O filtro cel shading faz tudo parecer um desenho animado, e essa impressão é reforçada pelas ótimas animações e a estilização de toda a interface, além do senso de humor bem bobo e descompromissado que acompanha toda a história.
A história, inclusive, é uma bobagem adorável bem ao estilo dos desenhos da saudosa TV Globinho. O protagonista, Chai, é um fã de rock’n roll que, por acidente, acabou ganhando um braço mecânico permanentemente conectado ao próprio iPod – ou a marca de tocador de música que preferir. Agora ele precisa se livrar da corporação responsável pela cirurgia maluca usando as novas habilidades proporcionadas por esse braço musical.
E é justamente na fusão entre combate e música que está o principal diferencial de Hi-Fi Rush. O jogo une elementos de plataforma e ação com o senso de ritmo necessário em jogos musicais como Rhythm Heaven e Sayonara Wild Hearts.
A ideia é executar combos dentro do compasso da música, para obter bônus de dano e pontuação. As demais ações, como esquivas e pulos, também são ligadas a essa pulsação constante da trilha do jogo, o que destaca a experiência em comparação com outros jogos de ação e aventura disponíveis no mercado. As músicas alternam entre composições originais e canções licenciadas de bandas famosas como The Black Keys e Nine Inch Nails.
Hi-Fi Rush não é um jogo longo, e a história pode ser concluída em pouco mais de 10 horas. O que é ideal, porque ele esgota as próprias possibilidades e entende a hora de parar antes de saturar a fórmula que propõe.
No meio de toda essa maluquice de cores, combos e ritmos, o jogo ainda encontra espaço para fazer alguns comentários muito bem-humorados sobre as irracionalidades da rotina de trabalho dentro de grandes corporações – arrisco dizer que o jogo pode ser até metalinguístico nesse sentido, porque não é muito diferente da realidade de qualquer grande desenvolvedora de jogos.
Fico muito feliz que um jogo como Hi-Fi Rush exista em 2023. As aventuras musicais de Chai preencheram em mim o vazio deixado pela imensidão do espaço vazio de Starfield. O que não é, de forma alguma, um demérito do RPG da Bethesda.
O fato é que existem momentos nessa vida em que tudo o que precisamos é de uns solos de porrada musical dentro de uma corporação maligna multicolorida mesmo.
