Sony tem tomado cada vez mais atitudes parecidas com aquelas que todos devíamos criticar
Que a aquisição da Activision Blizzard está sendo arrastada e dramática, isso é bem claro. Já discutimos aqui no Game Arena o quanto a questão está saturada, e as recentes declarações e movimentos da Sony sobre o assunto só corroboram com o ponto de que a situação está claramente insustentável.
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Entre as recentes declarações da dona do PlayStation estão a alegação de que a Microsoft se empenharia de fazer Call of Duty rodar de forma menos polida em seus consoles, o que levaria a comparações e fãs discutindo sobre isso, e, assim, preterir o videogame da empresa em comparação ao Xbox.
Talvez o mais descabido e pedante comentário da Sony sobre toda a situação foi reduzir Minecraft a um jogo com gráficos ‘fracos’, e que não apresenta a mesma potência gráfica e jogabilidade de Call of Duty. Esse tipo de argumento parece familiar? Sim, a Sony está se comportando como um fanboy a todo momento.
A validação do discurso tóxico da comunidade
Uma das coisas mais debatidas, sem necessidade de ser, são as comparações gráficas entre cada console. Isso é uma prática que começou anos atrás, e ajudou a inflamar as disputas toscas de qual plataforma era melhor. Convenhamos, nunca houve uma diferença tão grande assim, e os fãs sabem disso. Mas eles querem a rivalidade.
O problema disso tudo é a Sony se comportar da mesma forma, quando não deveria usar esse tipo de argumento para nada. Falar que o jogo pode sair sem alguma funcionalidade para o PlayStation? Ok, tudo bem, esse argumento é cabível. Por mais conspiracionista que seja, dá para entender o desespero da Sony em perder seus privilégios com Call of Duty. A empresa consegue semanas exclusivas de testes, recompensas extras no PlayStation e até mesmo conteúdo da história.
Mas diminuir outros jogos em prol do argumento é feio. Minecraft é o jogo mais vendido de todos os tempos, com 238 milhões de unidades. Não um jogo qualquer, que a empresa usou em seu argumento, e mesmo se fosse algum indie obscuro. Desmerecer jogos nesse nível, é de um pedantismo tosco, e corrobora com o comportamento tóxico das comunidades gamers por aí. Em tempos onde estamos todos tentando acabar com guerra de consoles, uma das principais criadoras de hardware da história levanta um discurso que parece saído do reddit ou das profundezas do Twitter.
Querer usar esse tipo de falácia mostra que a empresa não se preocupa em buscar argumentos, em um assunto que não tem cabimento. Comparações gráficas sempre foi pauta que rendeu cliques para veículos de imprensa e canais do YouTube no passado, mas, até mesmo nessa época, não existia como comparar de fato. Imagens comprimidas e vídeos que tiveram a resolução alterada com a compressão da plataforma, era tudo mais um grande ”Olha ali, a grama é mais verde no Xbox” e a galera acreditava que a grama realmente estava mais verde, quando estava igual.
Se alimentar das discussões que não levam a lugar nenhum sempre foi uma atitude duvidosa, tanto que muitos já abandonaram essa besteira de comparar gráficos. Mas a Sony, numa tentativa de se agarrar a qualquer resquício de argumento possível, ajuda a reacender um tipo de discussão que não vale a pena trazer de volta.
O maior fanboy de Call of Duty, é a Sony
Vamos lá, a Sony tem algumas das franquias mais sólidas dos últimos tempos, além de outros contratos exclusivos que trouxeram jogos como Bloodborne para o PlayStation 4. A real questão é que a empresa não quer desgrudar da sua galinha dos ovos de ouro: Call of Duty. Afinal de contas, o décimo jogo mais vendido da franquia emplacou cerca de 19 milhões de cópias. É claro que todos esses números não são somente nos consoles da empresa, mas são impressionantes.
A franquia Call of Duty também é bastante atrelada ao PlayStation, não podemos negar. Apesar do seu começo no PC, e também com o Xbox 360 tendo sido o primeiro console a receber Call of Duty 2, os videogames da Sony que levam a estampa da franquia, quando olhamos para a trajetória da Activision com a sua série de simuladores de guerra. Talvez por isso, a companhia acabe se sentindo no direito de ser o ”sinônimo” de Call of Duty, mas sinceramente? Isso só mostra o quão privilegiada é a Sony nessa situação toda.
A empresa quer ter a sua dominância sobre as franquias, e seus contratos de exclusividade sempre fazem com que seu principal concorrente atual, o Xbox, tenha uma certa dificuldade em vendas. Seja por exclusivo temporário, ou ser lançado somente no PlayStation, a Sony arma bem a sua teia de influências para conseguir prender a Microsoft em uma situação onde ela, em todo o seu direito, se vê na condição de ter que puxar o cartão Ultra Platinum do Bill Gates para conseguir novos jogos para seu console. Como impedir que a concorrência faça lobby para seu console não receber determinado jogo? Compre a desenvolvedora. Simples, não?
Acredite, concordo que a atitude da Microsoft possa parecer predatória – e, bem… é – mas acontece por vários motivos que vemos ao longo dos anos. As piadas com a falta de exclusivos, a demora para o lançamento de novas propriedades intelectuais, e por aí vai. Convenhamos, para cada Hi-Fi Rush que sai, temos uns cinco Forza para compensar. E claro, não acredito que a falta de criatividade da Microsoft para lançar jogos melhorará comprando empresas, mas, veja bem, Starfield e Redfall parecem bem promissores.
Com boas empresas no portfólio, a Microsoft tem chances de, nesse combate incessante por relevância no coração dos consumidores, se levantar das cordas e conseguir uma trocação de socos sincera com a Sony. Mas a Sony não quer esse tipo de concorrência, uma que pode tirar seu brinquedinho preferido na hora que bem entender. Mesmo com todas as afirmações, contratos e tudo o que foi dito pela Microsoft, ainda existe uma desconfiança enorme se Call of Duty continuará multiplataforma.
Sony, existe bem mais que Call of Duty na Activision Blizzard
Sinceramente, me dói ver que franquias como Diablo, Overwatch, Starcraft, e por aí vai, são completamente esquecidas pelo caminhão de dinheiro que vem atrelado ao nome Call of Duty. Excelentes jogos, séries sólidas, algumas com jogos tão promissores e lucrativos quanto, ignorados completamente por uma birra infantil quanto ao brinquedinho preferido da Sony. A empresa não está preocupada com os gamers, com a indústria, ou com algum tipo de monopólio. Se fosse assim, ela não estaria focando somente em um produto e falando dele como se fosse a franquia mais inovadora e poderosa dos jogos, ao invés de ser só uma máquina de dinheiro genérica, que continua fazendo sucesso não sabemos como.
O discurso da Sony, que chegou até a englobar Starfield quando precisou, esquece que existem outras franquias tão importantes quanto na mão da empresa. Algo que me dói nisso. Tudo bem que Crash Bandicoot se tornou multiplataforma, mas nem para utilizar seu principal mascote durante décadas, como argumento, a empresa foi capaz. A trilogia de Crash, seus jogos mais celebrados, foram feitos pela Naughty Dog. A possibilidade de não existir mais um Crash para consoles PlayStation não abala a empresa. Ou ao menos ela não é tão vocal assim quanto com Call of Duty. O que é triste, de verdade. Entendo que empresas tem que se preocupar com ganhar dinheiro, mas ver como a Sony lida com tudo isso me faz pensar que a própria história da empresa não importa, e sim o cheque gordo que vem das vendas de CoD.
Acredite, eu não aguento o drama da compra da Activision Blizzard. No entanto, após todos esses desdobramentos desde o lançamento do meu último texto sobre o assunto, as últimas declarações da Sony são algumas das coisas mais mesquinhas que eu vi cobrindo a aquisição, desde quando ela começou, em 2022. A compra já é praticamente inevitável, com somente o órgão regulamentador americano sendo oposto até o momento, e ver a Sony bater perninha, esperneando porque terá que dividir, de forma igual, o seu brinquedo preferido, é uma das coisas mais patéticas da indústria.
Dessa situação toda, seria mais digno a Sony encher o peito e falar: ”sou contra a aquisição não pelo bem-estar da indústria, mas pelo meu bolso mesmo”.
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