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Foto: reprodução/Riot Games

LoL: psicólogo explica sobre vídeo de Faker que viralizou

Reportagem buscou entender auto agressão por meio da psicologia do esporte

Siouxsie Rigueiras •
05/08/2024 às 23h05, atualizado há 2 meses
Tempo de leitura: 10 minutos

ALERTA! Esta matéria pode ser sensível para alguns públicos. Caso sinta necessidade, entre em contato com um psicólogo para pedir ajuda. Também é possível ligar ou contatar o Centro de Valorização da Vida. Você não está sozinho.

 

Durante a fase de grupos do segundo split da LCK 2024 (League of Legends Champions Korea), no último sábado (03), viralizou nas redes socias um video de Faker, tricampeão mundial de LoL (League of Legends), reagindo de forma negativa a uma derrota.

Na gravação, é possível ver o astro da modalidade batendo com a cabeça em uma parede. A cena foi registrada logo após seu time, a T1, perder uma série MD3 (melhor de três partidas) por 2 a 0 para a Gen.G Esports, atual campeã do MSI 2024 (Mid-Season Invitational).

A reportagem da Game Arena conversou sobre o caso com João Ricardo Cozac, psicólogo do esporte, pós doutor em Psicologia pela Clínica com ênfase no esporte (PUC-SP), doutor em ciências do esporte pela USP (Universidade de São Paulo), pós doutor em Psicologia clínica pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e autor de oito livros sobre a área de atuação esportiva.

 

Foto: divulgação/acervo pessoal

 

É importante entender que as análises são realizadas com um olhar de fora da vida real do jogador profissional, trabalhando apenas as possibilidades do que pode ter ocorrido no momento do vídeo; com o intuito de informar o leitor, não substituindo tratamento psicológico.

 

Quais são os possíveis motivos de Faker?

Foto: Reprodução/Riot Games

 

O profissional, que também é pesquisador científico, explicou que “possívelmente” podemos dizer que Faker tenha tido um “acting out” no momento da gravação. Porém, antes de explicar o termo, precisamos entender alguns outros fatores. É necessário considerar que o pro player é o melhor do mundo na modalidade, tendo sido o primeiro atleta do Hall of Legends e crescendo em um país em que as pessoas são muito exigentes consigo mesmas.

“O esporte faz com que o indivíduo deixe de viver períodos importantes do seu desenvolvimento humano: infância, pré-adolescência, adolescência e ingresso na fase adulta. […] É mais um caso de um atleta, ainda mais de esportes eletrônicos, em que você cedo — hoje em dia — já está atuando em alto nível.”

“Cedo que digo, na adolescência você já é um atleta digital e, no caso dele, um atleta digital primoroso, um atleta fora da curva, […] que deve ter tido a infância e adolescência toda dele voltada para os esportes eletrônicos com uma lacuna no desenvolvimento social, afetivo, emocional, psicológico e entre tantos outros”, disse João, que fez mestrado na área de educação e desenvolvimento.

 

A cobrança do Hall of Legends

Imagem: reprodução/Riot Games

 

Faker foi o primeiro jogador profissional a integrar o Hall of Legends, em que a Riot Games faz uma homenagem para os maiores pro players de League of Legends da história. Tal título também deve ser considerado, pois pode causar mais cobrança por parte do atleta consigo mesmo.

“Eu acho que é importante frisar que ele [Faker] é a peça mais famosa da vitrine do LoL no mundo e isso tem, em geral, um preço. Isso cobra um preço psicológico e emocional, que é você sempre estar atuando no seu limite da alta performance e o Faker sempre se demonstrou ser um atleta perfeccionista que quer sempre impressionar, estar à frente de todos e ser a grande referência.”

“O Faker recebeu esse reconhecimento de ser uma lenda, um reconhecimento formal. Todos já sabiam da capacidade dele de atuação, mas agora, certamente, ele pode através [do Hall of Legends], se cobrar mais, cobrar mais a excelência do alto rendimento, cobrar mais de ser a referência; que ele sabe que sempre foi na equipe que atua […]”, explica.

 

A frustração do acting out

Foto: reprodução/Riot Games

 

Existes algumas possibilidades do motivo da auto agressão de Faker, que é um assunto “muito delicado”. Segundo o psicólogo, o “acting out” pode ser o resultado de desapontamento, frustração, dificuldade de lidar com a derrota e mais.

“Ali nas imagens, acredito eu, pouco tempo depois da derrota, ele tava no auge, no limite da frustração e acabou tendo uma reação que não é nada boa para ele. Para ele enquanto o atleta e também uma reação que não é boa para os seguidores dele, que certamente devem estar preocupados.”

“A questão da da auto agressão, […] eu acho que tem uma coisa de desapontamento, de frustração e de dificuldade. Me passa ali muito uma dificuldade dele não conseguir lidar com a derrota dentro de todo esse contexto atual e essa esse rompante. É uma tentativa de elaboração totalmente desenfreada e nada positiva, nada saudável, de trabalhar internamente a raiva, a decepção e a frustração com a performance, principalmente a performance dele; que ele deveria estar ali, naquele momento, se cobrando bastante”, diz.

Cozac também relacionou o gesto de Faker com o de outros atletas de modalidades tradicionais, tais como profissionais de tênis que quebram a raquete, e explicou que é a forma de materializar a dor que está sendo sentida no momento.

“O desapontamento consigo mesmo é tão grande que você não consegue elaborar isso mentalmente e você acaba a expressando através de uma de um gesto, de uma atitude, alguma coisa que não tá legal dentro de você. Existe, sem dúvida nenhuma, essa questão de simbolizar, de representar aquela dor. A cabeçada que ele dá ali não deixa de ser uma forma de quase materializar fisicamente uma dor”, pontia.

Como lidar com a situação?

De acordo com Cozac, a auto agressão do tricampeão mundial é algo que “não é tão comum no esporte, mas acontece bastante em diversas modalidades”. Além disso, o “acting out”, que também pode ser definido como “stress out”, é importante ser analisado, contando com um acompanhamento de perto com um profissional de psicologia.

“Sempre que houver essa sensação, mesmo fora do esporte, mas na vida como um todo, que [a pessoa] fale com os pais, que busque ajuda e que faça uma terapia, [porque] tem sempre pessoas para ajudar. Não viva com esse tipo de atitude porque é uma atitude que acaba sendo muito prejudicial para a pessoa e que não há outra forma, na tentativa de evitar esse tipo de situação, que não seja um trabalho psicológico”, conta.

Cozac, que é presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte, disse que “a exposição nas redes sociais nunca é boa”, ainda mais se tratando de um vídeo que foi reproduzido diversas vezes em diferentes canais e redes sociais.

“Ele [Faker] sempre, historicamente, agiu e reagiu muito bem às redes sociais. Eu acho que pode ser um fator que ele vai encarar, mas não acredito que pela personalidade dele e por tudo que a gente conhece do comportamento dele, ele não deverá ter grandes dificuldades em lidar com isso [a exposição]”, explica.

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