A Netflix anunciou nesta quarta-feira (1º) o anime Dog and Boy, um curta-metragem que teve cenas criadas por uma inteligência artificial. Segundo a empresa, a tecnologia foi utilizada nas paisagens de fundo e teve como objetivo “ajudar a indústria de anime”.
A iniciativa não foi bem vista por profissionais da área devido a diversos motivos.
“Um curta-metragem do projeto conjunto de animação Dog and Boy da Netflix Anime Creators Base, desenvolvedora de tecnologia Rinna Inc. e WIT STUDIO”, anuncia o serviço streaming no Twitter.
Netflix アニメ・クリエイターズ・ベース×技術開発のrinna株式会社×WIT STUDIOによる共同プロジェクトアニメ『犬と少年』のショートムービー。
人手不足のアニメ業界を補助する実験的な取り組みとして、3分間の映像全カットの背景画に画像生成技術を活用！ pic.twitter.com/GYuWONSqlJ
— Netflix Japan | ネットフリックス (@NetflixJP) January 31, 2023
A mensagem continua justificando o uso de inteligência artificial no projeto: “Como um esforço experimental para ajudar a indústria de anime, que tem escassez de mão de obra, a tecnologia de geração de imagem é usada para as imagens de fundo de todos os cortes de vídeo de três minutos!”
Escassez
A “escassez” mencionada surgiu devido a condições de trabalho insustentáveis oferecidas aos profissionais de animação. De acordo com o Engadget, um profissional de animação recebe cerca de 2 dólares por desenhos que levariam mais de uma hora para ser concluídos. Um animador de nível intermediário recebe cerca de dez mil dólares por ano. Isso sem mencionar os prazos apertados e o excesso de trabalho.
Outro ponto apontado por usuários do Twitter é que seres humanos ainda foram necessários para revisar todo o trabalho da I.A no curta, mas sequer receberam o devido reconhecimento. Nos créditos da animação eles são mencionados apenas como “A.I. (+ human)”, isto é, “I.A + humano” — sem mencionar diretamente o nome do responsável por esta função. Essas ações desvalorizariam o trabalho humano, creditando-o por completo a máquinas.
No ano passado, um concurso de artes gerou polêmica ao premiar um usuário de I.A. por sua ilustração criada tecnologicamente. À época a discussão tomou força na internet e muitas pessoas chegaram a defender o uso de Inteligência Artificial afirmando que o recurso não afetaria o mercado e tiraria o trabalho de artistas — o que já está acontecendo.
Hayao Miyazaki
Anos antes, em 2016, o lendário diretor do Studio Ghibli, Hayao Miyazaki, tentou avisar para os perigos da I.A. para a indústria de anime:
Ao descobrir um programa de animação por I.A., o artista expressou todo o seu desgosto pela técnica. “Eu nunca iria querer incorporar essa tecnologia ao meu trabalho de maneira alguma”, disse aos engenheiros do projeto. “Eu sinto com força que isso é um insulto a própria vida.”
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