Dev Patel entrega um filme cheio de críticas, pancadaria e muito coração em Fúria Primitiva
Fúria Primitiva chamou atenção de muitos pelo fato de ser a primeira trama dirigida — e roteirizada — por Dev Patel, e por toda a estética muito próxima de John Wick, coisa que o próprio Patel admite em entrevistas quando a comparação surge.
Contudo, ao assistir Fúria Primitiva, o espectador consegue ver que as comparações entre o personagem de Patel e o implacável John Wick, param no estilo de direção das lutas, e no uso do terno preto. O filme vai muito além de ser só uma história de vingança e traz um retrato da opressão, corrupção e outros problemas que assolam a Índia.
Com muita alma e coração
Fúria Primitiva narra a história de um protagonista sem nome, interpretado por Dev Patel, que perdeu a mãe de uma forma trágica. Os acontecimentos do passado do personagem vão sendo mostrados conforme o “Garoto” — como é creditado o personagem no filme —, avança na sua busca por vingança, mostrando que o personagem é atormentado até hoje pelos problemas que o levaram até ali.
O filme traz muitos paralelos com a lenda de Hanuman, o deus-macaco do hinduísmo. O filme até mesmo conta parte do seu conto, que ao nascer, confundiu o sol nascente com uma fruta e saltou para comê-lo. E existem vários paralelos com outras divindades do panteão hindu, todas girando em torno dos personagens principais.
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A admiração do personagem de Patel pelo conto de Hanuman é tão grande que ele assume o posto de Homem-Macaco em um ringue de luta clandestino, onde ele ganha dinheiro para enfrentar outros lutadores que também possuem uma temática.
Se o filme só tivesse essas cenas de Patel no ringue, já contaria como uma baita experiência. Contudo, a trama vai além disso, levando o protagonista a se infiltrar em um hotel de luxo para descobrir o paradeiro de um dos homens a quem ele jurou vingança.
Críticas pontuais
O filme não esconde o seu viés político, e isso é um grande trunfo da direção de Dev Patel. Andando pelas vielas da Índia, com lugares apertados, sujos, de iluminação baixa e vários caminhos que botam medo no mais experiente dos cariocas, Patel como diretor mostra a miséria do povo, mas sem os limitar a ser só isso durante o filme.
Do submundo das lutas clandestinas, a compras de armas ilegais, Patel mostra como a população pobre da Índia tenta se virar para sobreviver, enquanto pessoas com muito dinheiro vivem uma vida de luxos, privilégio e impunidade.
O personagem de Sikandar Kher, Rana Singh, é um vilão extremamente caricato, e bem genérico, se formos ser justos. Diferente do personagem de Makarand Deshpande, que interpreta Baba Shakti, um guru espiritual que ganhou uma força política imensurável, e é quem serve como chefão e traz um pouco mais de profundidade.
A dupla é a responsável pela tragédia envolvendo a mãe do protagonista, é uma referência aos problemas que a Índia sofre, com o governo tentando expulsar muçulmanos e pessoas indígenas de algumas cidades do país.
O filme também traz representação dos Hijras, pessoas trans, que sofrem com preconceito e apesar de pessoas transgênero serem aceitas por lei no país, elas ainda sofrem com transfobia. Em 2018, 45 pessoas trans foram assassinadas no país, e Fúria Primitiva toca nessa ferida como um soco bem-dado.
Dev Patel on the trans representation in #MonkeyMan and including the hijra community in his film: “This is an anthem for the underdog, the voiceless, the marginalized.” https://t.co/SKt22QcOUJ pic.twitter.com/5IwIZ0vW2D
— Variety (@Variety) April 4, 2024
Dev Patel não esconde as suas críticas ao governo ultra conservador, ao uso da fé em prol do capitalismo, e também a corrupção e como os poderosos na Índia dobram as leis para o seu próprio divertimento.
Ação desenfreada e até mesmo muito humor
O ponto do filme, obviamente, é a ação. A direção de Patel é frenética, com a câmera balançando em diversos momentos, para dar impacto nas cenas de pancadaria. Fúria Primitiva é brutal na violência utilizada, com muitas cenas beirando ao gore de uma certa forma.
Até mesmo durante uma cena onde parece que Dev Patel brilhará sozinho nos momentos finais do filme, mas ele quebra a expectativa com uma das cenas mais surreais do filme, que não deixa de ser bem violenta. Contudo, para suavizar esses momentos, o filme tem alguns momentos cômicos inacreditáveis.
Um deles acontece justamente em uma cena de ação, com o personagem de Dev Patel precisando segurar uma faca em um momento decisivo, e ele usa uma forma bem humorada para lidar com a situação. São vários momentos que você não espera que vá rir, mas o filme te dá aquele momento de respiro, já que boa parte dele, é séria e tensa.
O personagem do ator Pitobash, Alphonso, é um alívio cômico muito competente, e consegue ter um carisma de um cafajeste que você não consegue odiar, mesmo sabendo que ele não anda com as melhores das companhias.
Por ser o roteiro de Dev Patel e sua estreia como diretor, Fúria Primitiva consegue mesclar muito bem alguns momentos de humor sem parecer tosco ou fora do encaixe das cenas, ou do contexto. Mesmo sendo um diretor estreante, Patel consegue dosar bem o equilíbrio nesses momentos.
Além de uma cópia de John Wick
Dev Patel nunca escondeu em entrevistas as comparações e inspirações em John Wick para Fúria Primitiva. Contudo, a história do filme e o jeito como o diretor e roteirista molda do personagem, vai além de uma mera cópia da aventura estrelada por Keanu Reeves.
Em Fúria Primitiva, a vingança é um instrumento que ajuda o protagonista a buscar a cura, antes de enfrentar de uma vez por todas o seu destino. Aqui, é importante entender a própria dor e tentar trabalhar como superá-la para alcançar a iluminação que tanto busca.
Fúria Primitiva tem uma sensibilidade muito poderosa de lidar com temas religiosos, preconceito contra minoras e problemas sociais que afligem a Índia, mas sem perder o ar de filme de ação frenético com um homem de terno acabando com todo mundo em busca de vingança.
Como diretor, Dev Patel entrega um filme com cenas muito bonitas, que com todas as limitações da pandemia e problemas de orçamento, consegue ser uma história muito bem construída sobre traumas, preconceito, apelo social e uma jornada que vai da vingança, a cura, e a retribuição.
No final, o saldo de Fúria Primitiva é extremamente positivo, e um baita filme de ação para assistir nos cinemas. O filme estreia em 23 de maio nos cinemas de todo o Brasil.
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