No dia 15 de agosto de 2024 estreia no Brasil o filme “Família”, lançado originalmente em 2023 no Japão. Dirigido por Izuru Narushima (Renascimento, A Morning of Farewell), o longa traz um olhar diferenciado na relação dos japoneses com a comunidade de imigrantes brasileiros.
Convidados pela Sato Company, distribuidora oficial do longa no Brasil, a Game Arena teve acesso antecipado ao filme. Logo, conseguimos avaliar de perto o trabalho do diretor e roteirista Izuru junto a grandes atores tanto japoneses quanto brasileiros.
Acompanhe abaixo nossa review do filme, que promete emocionar os espectadores e até chocar ao trazer uma realidade até então desconhecida por muitos das comunidades de imigrantes no interior japonês.
Tradição x Realidade
O principal personagem do longa é Seigi (Koji Yakusho), um artesão de cerâmica que segue uma vida pacata e cotidiana em sua profissão. Sem grandes altos e baixos, seu trabalho se resume a moldar vasos, acender fornalhas e esquentar cada peça para formar um trabalho único e especial.
Seu grande orgulho é Satoru (Ryo Yoshizawa), um engenheiro que atua no exterior na construção de Usinas Termoelétricas. Após um longo período no exterior, Satoru retorna com uma esposa, Nádia (Malyka Ali). Argelina, a nora de Seiji é uma sofrida órfã refugiada, que encontrou no amor uma nova chance para viver.
O maior desejo de Sa é retornar ao Japão e assumir a profissão do pai como ceramista e oleiro, mas Seigi recusa veemente. O motivo, segundo o patriarca, é a oportunidade que o filho desperdiçaria ao trilhar o mesmo caminho do pai.
Outro núcleo central do filme está na comunidade brasileira no Japão. Aqui temos Marcos (Lucas Sagae), um jovem imigrante brasileiro envolvido com negócios ilícitos, em sua maioria devido às ações de parentes.
Após Marcos se envolver em um desentendimento sério com uma gangue da Yakuza, ele acaba fugindo de um linchamento se refugiando na Casa de Seigi. A partir de então, eles acabam criando um laço único que vai se fortalecendo aos poucos, apesar das diferentes adversidades.
Um breve olhar na realidade dos imigrantes japoneses
Um ponto forte do filme é a busca em retratar uma comunidade brasileira no Japão. Temos breves vislumbres de locais de trabalhos, áreas residenciais, zonas de lazer e festas dos imigrantes. Pode causar uma certa estranheza, pois temos tradições do nosso país adaptadas para uma realidade única como a japonesa.
O interessante de Família é mostrar uma realidade dura para os imigrantes. Mesmo em busca de uma vida melhor e muitos deles sendo filhos ou netos de japoneses, existe um verdadeiro preconceito em relação aos brasileiros. Muitos são tratados como lixo, sendo humilhados em locais de trabalho ou perseguidos por terem uma origem diferente.
Apesar de retratada de maneira rápida, o encontro entre Seigi e Marcos conduz o espectador para um jornada pelos conjuntos habitacionais dos brasileiros no Japão. Verdadeiras comunidades com direito a chopp e carne de churrasco de primeira (e que devem custar uma fortuna no Japão).
O velho Seigi atua como um personagem “orelha”, onde ele acaba recebendo as informações necessárias para entender a comunidade brasileira e as situações ao redor, como acontece com o espectador.
Apesar de aparentar ser aparentemente caricata, a imagem do brasileiro retratado no filme traz uma amálgama das maiores qualidades, gostos e problemas gerados em nosso país.
Apesar de alegrias, Família também traz dor e sofrimento
Por mais que nos divirtamos nos churrascos e pagodes brasileiros, o filme é uma drama que leva a uma crítica a respeito do tratamento aos imigrantes que simplesmente desejam melhores condições e oportunidades.
Em um primeiro momento, o núcleo “Japão” e o “Brasil” de Família se encontram, trocam alegrias e tristezas, seguindo cada um por seus próprios caminhos tortuosos e perigosos.
Seiji sofre com um drama familiar sério, que o levam a repensar sua relação com o filho de sangue Satoru. Já Marcos se afunda cada vez mais no crime e nas punições, vendo pessoas queridas sendo machucadas por pessoas más e preconceituosas ligadas ao crime.
Mesmo com tantos problemas, existe a ligação paternal entre Seigi e Marcos. O jovem é fascinado pela profissão de ceramista e oleiro do ancião, o que o faz desejar uma vida simples e tranquila.
Família é um filme que busca mostrar diferentes pontos de vista para situações diversas. Temos a perspectiva do japonês, do imigrante brasileiro, do policial e até do criminoso vilão da trama, que tenta justificar tanta maldade devido a uma tragédia do passado.
Existem problemas em Família, mas nada muito grave
Apesar de excelentes interpretações, Família sofre em alguns momentos devido a interpretações um tanto caricatas de diversos atores. Os próprios criminosos que perseguem Marcos por todo filme parecem mais personagens de videogames que repetem as mesmas ações e falas.
Apesar da boa fotografia, o filme peca muitas vezes por ângulos confusos de câmera e algumas escolhas estranhas de cortes na edição. Outro problema que causa estranheza é o uso de Chroma Key em diversos momentos do filme, dando um aspecto esquisito e amador em certos momentos do longa.
Apesar de trazer mensagens profundas, o roteiro por vezes se perde na tentativa de unir todos os núcleos. O mais grave são as omissões de situações ou reações de personagens diante de tragédias que ocorrem entre pessoas queridas de outros núcleos.
Família, um filme para refletirmos sobre momentos e mudanças
É inevitável, as mudanças sempre virão. Sejam para o bem ou para o mal. Família é um filme que fala de laços, sentimentos e união diante de adversidades. A retratação da comunidade brasileira no Japão é interessante, em especial para aqueles que desconhecem esta realidade.
Mesmo com certos problemas, Família não falha em levar emoção ao espectador, fazendo-nos refletir sobre a brevidade da vida e as escolhas que fazem. E, principalmente, aqueles com quem decidimos dividir os momentos de felicidade.
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