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Review: Por que Cassette Beasts não é apenas mais um clone de Pokémon

Review: Por que Cassette Beasts não é apenas mais um clone de Pokémon

Cassette Beasts mostra personalidade e se destaca como algo único A linha que separa a homenagem do plágio é muito tênue. Jogos retrô que simulam a estética de outros tempos são uma tendência, especialmente dentro do desenvolvimento independente. E, nesses casos, é interessante que nos perguntemos: qual o equilíbrio ideal entre as referências e a personalidade própria, entre a nostalgia e a inovação?

Marcellus Vinicius •
27/04/2023 às 23h07, atualizado há um ano
Tempo de leitura: 8 minutos

Cassette Beasts mostra personalidade e se destaca como algo único

A linha que separa a homenagem do plágio é muito tênue. Jogos retrô que simulam a estética de outros tempos são uma tendência, especialmente dentro do desenvolvimento independente. E, nesses casos, é interessante que nos perguntemos: qual o equilíbrio ideal entre as referências e a personalidade própria, entre a nostalgia e a inovação?

Jogos como Stardew Valley, The Messenger e Hyper Light Drifter encontraram esse equilíbrio com maestria e, agora, mais um jogo chegou buscando uma vaguinha nesse seleto grupo: Cassette Beasts.

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Desenvolvido pela Bytten Studio, Cassette Beasts é um RPG de mundo aberto, focado em colecionar monstros para usá-los em duelos – rinhas, para ser mais preciso – com óbvias inspirações em Pokémon. Mas as semelhanças acabam mais rápido do que a premissa faz parecer. É nítido que a equipe por trás do jogo tinha uma ideia e um caminho próprios para seguir com a fórmula, e o resultado é uma experiência que vai muito além de um Pokémon genérico, com monstros de camelô.

Para ilustrar melhor isso, separei aqui alguns dos principais aspectos que fazem Cassette Beasts se destacar. Mas, primeiro, vamos falar do que ele absorve de Pokémon e como usa esses elementos.

Onde a inspiração se faz notar

Cassette Beasts puxa algumas referências de Pokémon, tanto nas mecânicas, quanto na estética. Nele, você encontra monstros, pelo cenário, que podem ser gravados em fitas cassete, aquelas que marcaram a indústria musical nos anos 80 e 90. Os monstros gravados/capturados podem ser, então, usados em batalhas para acumular experiência, ganhar níveis, aprender novos golpes e até evoluir. Tudo bem familiar até aqui.

Cassette Beasts

Podemos perceber a influência de Pokémon não apenas no tema, mas também no visual. A mistura de pixelart clássico com cenários em 3D remete ao visual dos jogos da Game Freak para o Nintendo DS, como Black/White. Muita gente prefere a simplicidade e o charme dessa época, em comparação com os gráficos totalmente tridimensionais das versões mais recentes. É um daqueles casos onde as limitações tecnológicas deram origem a um estilo de arte muito singular.

Mas, como citei, as semelhanças com Pokémon se encerram rápido. E ,dessa base inicial, Cassette Beasts faz mudanças e melhorias muito bem-vindas.

Tema e história

A história do jogo começa de modo bem vago. O personagem principal acorda de pijamas, em uma praia, dentro de um mundo paralelo, onde outras pessoas transportadas começaram uma comunidade para sobreviver. Isso porque esse mundo é habitado por monstros desconhecidos e hostis. Sem muito contexto, você descobre que pode gravar a essência desses bichos em fitas cassete e usar essas gravações para se transformar neles, ganhando, assim, poderes de combate. A partir daí, várias missões são realizadas, com o intuito de ajudar as pessoas da cidade e descobrir mais sobre esse mundo bizarro e instigante.

E é assim, com o mínimo de explicação, que Cassette Beasts prende sua atenção. O mistério do mundo é grande parte da graça de explorá-lo. A jornada é uma expedição investigativa, sem nenhum sonho de ser o mestre dos Cassette Beasts nem nada do tipo. Os monstros e mistérios direcionam a história para um tom bem mais sinistro e inquietante do que o que normalmente é visto nos jogos de Pokémon.

Cassette Beasts não abre mão de estabelecer uma identidade própria. Partindo do tema de tocadores e fitas cassete, muitos dos itens e termos usados no jogo acompanham bem a temática. Por exemplo, o item de cura de uma fita é um lápis chamado de Rebobinador, remetendo ao macete clássico de rebobinar fitas fora do aparelho. Seguindo a mesma lógica, os ataques viraram adesivos colados sobre uma fita.

Essa atenção aos detalhes ajuda a distinguir o jogo de outros RPGs de turno com monstros colecionáveis.

Mecânicas de captura e batalha

Todo o sistema de batalha do jogo foi adaptado para o tema, com algumas melhorias que a Game Freak pode até anotar, se quiser. Por padrão, as batalhas são de 2 contra 2, onde cada personagem do time tem 3 fitas de monstros à disposição. Ou seja, o time continua sendo de 6 monstros, mas a combinação deles em batalha depende do trio que você separou para cada boneco.

As tentativas de captura/gravação indicam, na tela, a porcentagem de chance que você tem de sucesso naquele turno. Esse cálculo depende da barra de vida do monstro, da barra de vida do jogador, do tipo de fita usada na gravação (que é descartável, assim como as pokébolas) e outras variáveis, como nível e raridade. Assim, você pode separar um personagem para começar a gravação, enquanto o outro aplica dano e torce para a porcentagem estar favorável ao final das ações. É um sistema mais transparente do que o visto em Pokémon, que adiciona uma camada extra de planejamento em cada captura, deixando o esquema todo menos repetitivo.

O uso dos ataques depende de pontos de ação, que são uns quadradinhos abaixo da barra de vida dos monstros. Golpes fracos usam um, ou nenhum ponto, enquanto ataques mais poderosos podem precisar da barra toda. Você acumula pontos por turno e pode ganhar pontos extras usando bem os tipos dos monstros. É um sistema que faz uma ponte entre a barra de MP e os PPs, que cada golpe tem em Pokémon. Isso impede que um Charizard entre em todas as batalhas usando Fire Blast, por exemplo, fazendo com que os melhores ataques precisem de mais planejamento.

Outro destaque é o sistema de fusões, que permite que os dois monstros que estiverem em batalha se transformem em uma espécie nova muito mais poderosa. É uma mecânica ideal para batalhas difíceis contra os chefes do jogo. Aliás, é impressionante que a Game Freak nunca tenha tentado nada do tipo em Pokémon, depois de tantos experimentos com megaevoluções, bichos gigantes, capacetes de cristal etc.

Que fita, hein?

Citei aqui apenas alguns dos elementos que tornam a experiência de jogar Cassette Beasts algo novo, que vai além da mera soma das referências e inspirações. Sou um grande fã da série principal de Pokémon e, justamente por isso, afirmo que ver trailers e imagens desse novo jogo não é o bastante para sentir como ele é singular.

Cassette Beasts não se limita a seguir cegamente a principal inspiração e, com muita confiança, estabelece o próprio charme e personalidade em praticamente todas as decisões estéticas. É um jogo que entende e respeita o gênero o suficiente para saber quais caminhos o transformariam em algo maior do que a mera reverência nostálgica.

É uma obra altamente recomendada pela coragem de rebobinar a estrutura dos jogos de monstros colecionáveis para regravar tudo da própria maneira.

Cassette Beasts está disponível para PC via Steam e Windows Store. O jogo está no catálogo do PC Game Pass desde o lançamento. Versões para Xbox One, Xbox Series e Nintendo Switch foram confirmadas para sair até o final do outono.

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