O lançamento de Starfield remete à importância da temática espacial nos videogames
Em julho de 1961, um grupo de estudantes do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) iniciou os testes do que ficaria conhecido como um dos primeiros jogos de computador de todos os tempos. Alguns pontos brancos em um fundo escuro representavam as estrelas no espaço sideral, enquanto um pequeno triângulo esverdeado assumia o papel da nave do jogador.
O nome do jogo era Spacewar, e pode ser considerado o início de uma história que se estende até os dias de hoje, em setembro de 2023, quando Starfield, o jogo mais ambicioso da Bethesda, chega ao mercado. Os dois jogos, evidentemente, têm um ponto fundamental em comum: fazem essa historica ponte entre videogames e o tema da exploração espacial.
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Jogos no espaço sempre estiveram presentes na história dos videogames, servindo de pano de fundo para títulos dos mais variados gêneros, incluindo aí muitos clássicos icônicos. O lançamento de Starfield é um ótimo momento para resgatar um pouco dessa relação, e também refletir sobre de onde ela veio, e para onde está caminhando.
A origem da associação entre videogames e viagem espacial é até bem óbvia, na verdade. Quando o desenvolvimento dos primeiros jogos ganhou tração entre profissionais da área de tecnologia, nos anos 60 e 70, o mundo vivia o auge da Guerra Fria, muito marcada pela corrida espacial entre Estados Unidos e União Soviética.
A ideia de viajar para o espaço, conhecer a Lua ou talvez até mesmo Marte tinha capturado totalmente a imaginação das pessoas.
Aqui vai um palpite pessoal, mas imagino que outro fator que promoveu a febre de jogos “de navinha” nesses primeiros anos foi o fato dos computadores terem, via de regra, monitores de tela escura com elementos gráficos brancos. Estava tudo bem na cara do gol para retratar o espaço, como o próprio Spacewar demonstrou muito bem.
O jogo espacial de maior projeção e popularidade nessas primeiras décadas dos games certamente foi Space Invaders, desenvolvido pela Taito e lançado pela primeira vez em 1978. Mas vários outros títulos fizeram história nessa primeira fase dos fliperamas e consoles, como Galaga, Asteroids e Space Shuttle.
Com o passar dos anos e as melhorias na qualidade gráfica dos jogos, os jogos com a temática espacial começaram a explorar outras possibilidades, muitas vezes sendo vanguarda na introdução de novos gêneros e tecnologias.
No PC, X-Com foi uma das sérias pioneiras na popularização dos jogos de estratégia em tempo real, enquanto Star Fox e F-Zero extrapolavam as possibilidades de velocidade e perspectiva tridimensional nos consoles.
O conceito de combate espacial com naves intergaláticas está longe de ser a única ou a principal possibilidade dentro do tema. Metroid inaugurou, 1986, um gênero próprio, o chamado “metroidvania”, extremamente popular até hoje, e fez isso apresentando uma caçadora de recompensas explorando planetas desconhecidos.
Impossível deixar de citar também a importância que Doom teve para a consolidação do FPS como um dos gêneros mais dominantes da indústria, especialmente nos jogos de PC.
Esses foram apenas alguns exemplos em dezenas, só para ilustrar como a temática espacial sempre acompanhou a trajetória dos jogos eletrônicos, de Spacewar até Starfield. Deixo aqui algumas menções honrosas como Dead Space, No Man’s Sky, Halo, Among Us, todos com enorme impacto na indústria, cada um à sua maneira.
Para concluir, quero deixar aqui uma reflexão: não parece ser coincidência que os jogos no espaço estejam de novo no centro das atenções. Se nos anos 60 e 70 a inspiração vinha da tensão da Guerra Fria e da ameaça nuclear, no século 21, o que parece impulsionar nossos anseios de encontrar alguma solução mágica na infinitude do universo é a crise climática na qual nos colocamos.
Tenho a impressão de que a imensidão de possibilidades de tudo aquilo que desconhecemos no universo traz algum conforto diante da bagunça que é a vida moderna em sociedade. E nessa ansiedade mais uma vez entram os videogames, levando nossa imaginação para fora de órbita.
Exatamente como já faziam em 1961.
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